Oposição aposta em CPI para sabotar Lula

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Foto: Wilton Junior/Estadão

A invasão de 8 de janeiro aos prédios da Praça dos Três Poderes causou forte impacto sobre o início do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que completa hoje 100 dias. Após semanas de críticas a apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) que participaram dos ataques, o Palácio do Planalto tenta agora evitar a instalação de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) no Congresso, articulada pela oposição.

Ao contrário do que ocorreu em seus dois primeiros mandatos, Lula não teve uma lua de mel com o Congresso nesse período. Com projetos importantes em risco por causa da disputa entre as cúpulas da Câmara e do Senado em torno da tramitação das medidas provisórias, o presidente vive um momento de impasse.

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Os atos golpistas de 8 de janeiro uniram o Planalto aos demais Poderes em defesa da democracia e das instituições. Mas os próprios aliados de Lula observam que houve falta de continuidade no diálogo com setores que estiveram com Bolsonaro nas eleições, como ruralistas, evangélicos, classe média e agentes financeiros.

Após os ataques, cresceram as desconfianças do presidente, sobretudo em relação ao Exército, por causa dos acampamentos em frente aos quartéis, onde os extremistas se organizaram antes das invasões. Lula quer deixar as investigações dos atos de vandalismo com a Polícia Federal e com o Judiciário.

O presidente tenta iniciar uma nova fase a partir desta segunda, 10, quando haverá uma reunião ministerial no Planalto para marcar os 100 dias de governo. “Foi feito mais nos 100 dias do que nos quatro anos anteriores”, afirmou o líder do governo no Congresso, Randolfe Rodrigues (Rede-AP). O senador citou como exemplo a volta de programas sociais desarticulados por Bolsonaro e a reinserção do Brasil em agendas internacionais, como a dos Estados Unidos e a da China, para onde Lula embarca amanhã.

Logo após a invasão da Praça dos Três Poderes, em 8 de janeiro, o presidente chamou líderes do Congresso, ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e governadores para reafirmar o funcionamento das instituições e do próprio governo. Em 100 dias, no entanto, não construiu uma base sólida para aprovar projetos e reformas no Legislativo e ainda se vê sem espaço para retomar o protagonismo no Orçamento, setor capturado pelo Congresso, nos últimos anos.

“O governo usou o 8 de janeiro de uma forma positiva e trouxe para si a agenda da democracia, mas não conseguiu manter sua base coesa e hoje se vê diante de eventuais investigações sobre o próprio 8 de janeiro”, afirmou o cientista político e professor do Insper Leandro Consentino. “O feitiço está virando contra o feiticeiro.”

O governo usou o 8 de janeiro de uma forma positiva e trouxe para si a agenda da democracia, mas não conseguiu manter sua base coesa e hoje se vê diante de eventuais investigações sobre o próprio 8 de janeiro
Leandro Consentino, cientista político e professor do Insper

A oposição vai insistir na abertura da CPMI e quer usar a comissão para apontar responsabilidades do Executivo nos ataques. Um dos alvos é o ministro da Justiça, Flávio Dino. O outro é o ministro Alexandre de Moraes, do STF, que determinou a prisão dos extremistas.

Na tentativa de barrar a CPMI, o governo acelerou a entrega de cargos nos Estados e prometeu destravar verbas de emendas para aliados. O Planalto não quer a instalação da CPMI porque alega que isso vai atrapalhar votações de propostas consideradas essenciais, como a da novo arcabouço fiscal e a reforma tributária, além de ser um palanque para a oposição.

Adversários de Lula têm apoio de 192 deputados e 37 senadores para a abertura da CPMI e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que também comanda o Congresso, prometeu ler o requerimento para instalar a comissão no dia 18, após a viagem do presidente Lula à China. Não se sabe, porém, se ela vai vingar.

”O 8 de janeiro foi uma tábua de salvação para Lula, que conseguiu tirar a atenção do frangalho econômico e político e criar uma narrativa para enterrar a direita”, afirmou o líder da oposição na Câmara, Carlos Jordy (PL-RJ). “Agora, ele está refém disso porque vamos conseguir instalar a CPMI.”

Estadão