Brasil e China aceleram “desdolarização” do comércio exterior
Foto: Ricardo Stuckert/Divulgação
Em declaração conjunta publicada nesta sexta-feira, 14, o Brasil e a China afirmaram estar comprometidos em “fortalecer o comércio em moedas locais”, substituindo o dólar pelo yuan (moeda chinesa) e o real. No primeiro dia da viagem, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), durante discurso no Novo Banco de Desenvolvimento – conhecido como “banco dos Brics” –, criticou a dolarização de trocas comerciais, especialmente entre o bloco dos países emergentes.
A medida é vista como controversa e uma afronta aos Estados Unidos, o segundo maior parceiro comercial do Brasil depois da China. Lula também visitou Washington para um encontro com o presidente Joe Biden, no início de fevereiro, mas a cooperação no campo da economia foi um tema escanteado durante as negociações bilaterais. Questionado se a medida poderia afastar os parceiros americanos, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o Brasil não tem intenção de “escolher um lado ou outro”.
“Nossa intenção é construir laços com os três grandes blocos do mundo: Estados Unidos, União Europeia e China”, afirmou Haddad. “Não temos intenção de nos afastarmos de quem quer que seja.” A medida faz parte de um dos 15 acordos de cooperação sino-brasileira assinados nesta sexta-feira: o memorando de entendimento entre o Ministério da Fazenda do Brasil e o Ministério das Finanças da China.
Além do compromisso em fortalecer o comércio com moedas locais, ambos os países “concordaram em aprofundar o diálogo na área econômico-financeira” e acordaram, ainda, “promover a cooperação em financiamento sustentável e a colaboração entre os think tanks na área de finanças, promover o intercâmbio sobre a regulação de auditoria contábil e compartilhar políticas e experiências regulatórias, seguir oferecendo ambiente de negócios aberto, equitativo, justo e não discriminatório aos investimentos e negócios das empresas de cada parte de acordo com a legislação da outra parte.”
A declaração conjunta diz ainda que os governos chinês e brasileiro concordaram também em “promover um desenvolvimento de alta qualidade de cooperação em investimentos” e aumentar a efetividade do Fundo de Cooperação Brasil-China para a Expansão da Capacidade Produtiva, criado em um momento em que a China precisava exportar sua capacidade produtiva e tinha capital em caixa para fazê-lo em lugares estratégicos. Anunciado com grande alarde em 2015, o Fundo Brasil-China não financiou sequer um projeto com os 20 bilhões de dólares que tem disponíveis.