Queiroga se gaba por anunciar fim da pandemia na hora errada
Foto: Hugo Barreto/Metrópoles
Após o fim da Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (Espii) causada pela Covid-19, Marcelo Queiroga, ex-ministro da Saúde, comparou o caso com o cenário brasileiro. “Fizemos isso um ano atrás”, disse em entrevista ao Metrópoles.
O fim da emergência internacional foi anunciado pelo diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, nesta sexta-feira (5/5), após a 15ª reunião do Comitê de Emergência para Covid-19.
Marcelo Queiroga foi ministro da Saúde entre março de 2021 e dezembro de 2022, durante a gestão de Jair Bolsonaro (PL). Ao Metrópoles o cardiologista pontuou que o fim da Emergência de Saúde Pública de Importância Nacional (Espin) foi decretado pelo Brasil há mais de um ano.
Queiroga disse que comemorou o anúncio feito pela OMS nesta sexta com o presidente Jair Bolsonaro, na sede do Partido Liberal (PL), em Brasília.
“Estava com o presidente agora, comemorando. Fizemos isso [decretar o fim da emergência] há um ano atrás. No dia 22 de abril, e a portaria entrou em vigência depois de um mês, em 22 de maio de 2022. Isso porque nós tínhamos um cenário epidemiológico controlado no Brasil”, disse.
Queiroga lembrou que a decisão de encerramento da Espin foi discutida com diversos setores políticos, como o Supremo Tribunal Federal e o Congresso Nacional. De acordo com o ex-ministro, Bolsonaro elogiou a medida e avaliou como “corajosa”.
“[O fim da crise mundial] é um marco para a história da saúde pública, um marco para a história. A gente [ele e o presidente Bolsonaro] avaliou positivamente o fim da Espii. Até conversávamos sobre a decisão de 2022. A gente teve coragem de tomar essa decisão. O presidente me lembrou: pior que tomar uma decisão errada é não tomar decisão. Tomamos a decisão de maneira ponderada”, disse.
Queiroga foi o quarto ministro da Saúde nomeado durante a gestão Bolsonaro. O ex-presidente protagonizou embates com os ex-ministros Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich no início da pandemia, por divergências na condução da crise sanitária.
Em 2020, o então presidente nomeou ao cargo o general do Exército Eduardo Pazuello, que atualmente é deputado federal pelo PL do Rio de Janeiro.
Pazuello foi criticado por entidades de saúde pela condução da pandemia, especialmente pela crise no Amazonas no início de 2021, e por comentários negacionistas. Ele deixou o cargo em março de 2021, quando Queiroga assimiu o posto.
O ex-ministro fez elogios à condução da crise sanitária durante a sua gestão. A campanha de Queiroga na Saúde foi marcada por embates entre as alas mais conservadoras do governo, que defendiam poscionamentos considerados negacionaistas, e a comunidade científica.
O ministro chegou à pasta defendendo o uso de máscara, mas, meses depois, passou a ser contrário à obrigatoriedade do uso do acessório de proteção facial.
Ele também foi contrário à manutenção de medidas restritivas e evitou se posicionar sobre o uso do chamado “kit Covid”, que não tem eficácia comprovada no tratamento contra a doença, mas foi defendido por conservadores e pelo próprio ex-presidente Jair Bolsonaro.
“Quando assumi o Ministério da Saúde, tínhamos 3.600 óbitos por dia. Quando deixei, tínhamos uma média em torno de 100 óbitos. Conseguimos cercear a Espin, fortalecemos o SUS. E não foram só cuidados com a pandemia. No Brasil sempre se politizou tudo, até medicamento se politiza. Sempre dialoguei com a imprensa de maneira democrática, mas às vezes a gente precisa ser mais incisivo. Mas muitas críticas servem para a gente orientar os rumos”, concluiu Queiroga.
A Covid-19 foi declarada Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (ESPII) em 30 de janeiro de 2020. Naquele momento havia menos de 100 casos da doença relatados fora da China e nenhuma morte.
Passados três anos, três meses e cinco dias, foram registrados mais de 765 milhões de casos em todo o mundo e 6.921.614 de mortes — no Brasil, o número de óbitos passa de 700 mil. “Faz três anos. Desde então, a Covid-19 colocou nosso mundo de cabeça para baixo”, considera Tedros.