Descaso de Bolsonaro com aliados presos causa revolta

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Foto: Carla Carniel/Reuters

A presença de Jair Bolsonaro (PL) em evento do PL Mulher, ao lado da esposa Michelle Bolsonaro (PL), em São Paulo, neste sábado (6), foi criticada por aliados próximos ao ex-presidente num contexto em que seus ex-ajudantes de ordens e seguranças seguem presos desde a operação da Polícia Federal que investiga supostas fraudes em cartões de vacina.

Interlocutores do ex-presidente se dizem revoltados com o que veem como um abandono de Bolsonaro a seus mais fiéis assessores. A avaliação é a de que o ex-presidente não dá um bom exemplo e há receio de que os presos acabem optando, mais cedo ou mais tarde, por realizar uma delação premiada.

Na opinião deles, não havia clima para que Bolsonaro viajasse para um evento partidário festivo. Os aliados do ex-presidente cobram ainda gestos públicos de solidariedade com a família dos auxiliares presos.

Como mostrou a Folha, a defesa de Bolsonaro conta com a admissão de culpa do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens e braço-direito do ex-presidente.

Aliados do ex-mandatário avaliam que Cid não terá alternativa a não ser reconhecer ter adulterado certificados de imunização. Ao mesmo tempo, advogados de Bolsonaro buscam desvinculá-lo do episódio.

Outros deputados aliados ao ex-presidente, porém, defenderam sua presença no evento, afirmando que era dever de Bolsonaro prestigiar Michelle e que a operação deve ser minimizada, ou seja, não deve ser motivo para que a agenda política seja interrompida.

No total, seis aliados de Bolsonaro foram alvo de mandado de prisão na última quarta-feira (3): os ex-ajudantes de ordens Mauro Cid e Luis Marcos dos Reis, os seguranças Max Guilherme e Sergio Cordeiro, Ailton Moraes Barros, candidato a deputado estadual pelo PL-RJ em 2022, e João Carlos de Sousa Brecha, secretário em Duque de Caxias (RJ).

A operação da PF também cumpriu mandados de busca e apreensão em endereços do ex-presidente.

De acordo com a investigação, os suspeitos teriam realizado inserção de dados falsos sobre vacinação da Covid-19 no sistema do Ministério da Saúde entre novembro de 2021 e dezembro de 2022 para que os beneficiários pudessem emitir certificado para viajar aos Estados Unidos.

Ao menos Bolsonaro, sua filha Laura e Mauro Cid e dois familiares tiveram seus dados de imunização forjados. Segundo a PF, Bolsonaro tinha ciência da inserção fraudulenta dos dados no sistema.

O caso foi ignorado por Bolsonaro em seu discurso no evento deste sábado, em que se apresentou como uma alternativa ao país —apesar de correr o risco de estar inelegível no pleito de 2026.

“Só a morte bota um ponto final nas nossas vidas. Enquanto ela não chegar, estaremos sempre à disposição para sermos uma alternativa para nosso Brasil”, disse o ex-presidente.

O evento serviu para empossar a deputada Rosana Valle no diretório paulista do PL Mulher, em cerimônia na Assembleia Legislativa. Michelle comanda a aba nacional.

Integrantes do PL presentes no evento afirmaram que não havia clima ruim entre Bolsonaro e aliados e que o ex-presidente foi tietado por políticos.

Segundo deputados, Bolsonaro comentou sobre a operação a um círculo de políticos reunidos em uma sala nos bastidores da cerimônia. O ex-presidente teria dito que a operação era absurda, no sentido de exagerada, e que não havia sentido acusá-lo de fraude, já que ele sempre disse que não iria se vacinar.

Bolsonaro esclareceu ainda que entrou nos Estados Unidos com o passaporte de chefe de Estado e, portanto, não lhe foi exigido certificado de vacinação.

Folha