Diante dos fatos, Exército abandona Mauro Cid
Foto: Alan Santos/PR/Divulgação
Personagem central do esquema de falsificação de carteiras de vacina contra a covid-19 investigado pela Polícia Federal, o tenente-coronel Mauro Barbosa Cid teve a imagem abalada entre colegas e oficiais de alta patente do Exército. Antes considerado um dos quadros mais qualificados da Força Terrestre, o ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) não tem sido mais defendido com entusiasmo pelos seus pares ante a suspeita de participação na fraude. Seu destino, dizem, cabe agora à Justiça.
Cid também é investigado no caso das joias sauditas, apreendidas pela Receita Federal no aeroporto internacional de Guarulhos com uma comitiva do Ministério de Minas e Energia do governo Bolsonaro. Em outra frente, é suspeito de envolvimento em vazamento de investigação da Polícia Federal. Mas, até a operação da semana passada, Mauro Cid era lembrado como alguém de destaque nos cursos que frequentou.
Com mais de 20 anos de carreira, foi o primeiro da turma de artilharia, por exemplo. Em 2018, estava prestes a assumir uma função nos Estados Unidos, quando foi designado para assessorar Bolsonaro. Cid é filho do general da reserva Mauro Cesar Lourena Cid, que foi colega de turma de Bolsonaro na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman).
Ao Valor, em condição de anonimato, um oficial da ativa observou que foi considerada exagerada a decisão do governo de revogar a nomeação de Cid para comandar o 1º Batalhão de Ações e Comandos, em Goiânia (GO), uma tropa de elite, diante das denúncias de suposta má gestão do cartão corporativo da Presidência. Devido à resistência em rever a promoção, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva demitiu o então comandante da Força, Júlio César de Arruda, no dia 21 de janeiro.
O episódio deu início a uma reaproximação entre Lula e os militares, a despeito do desconforto causado pela troca de comando em tão pouco tempo. Avaliava-se que era razoável o argumento de que havia poucas informações sobre o caso envolvendo a gestão de recursos da Presidência.
No entanto, em face da operação da PF deflagrada no dia 3 de maio, a percepção mudou. O Valor ouviu de oficiais da ativa que o conjunto de evidências tornou mais difícil a defesa do tenente-coronel entre seus pares.
Um general observou que a situação de Cid agravou-se pelo envolvimento de sua família no esquema de fraude dos cartões de vacina. Segundo as investigações em curso, teriam sido inseridas no sistema ConectSUS informações falsas dos cartões de vacinação de Cid, de sua esposa e sua filha.
Nos últimos dias, também surgiram informações de que Mauro Cid teria recebido mensagens golpistas de um outro auxiliar do ex-presidente, que também foi preso.
Aliados de Bolsonaro tentam desvincular o ex-presidente do episódio, no aguardo de sinais de uma possível confissão de Cid. Ele está preso num batalhão da Polícia do Exército, em Brasília. Procurada pela reportagem, a defesa do tenente-coronel não respondeu até o fechamento desta edição.
O depoimento de Bolsonaro pode ocorrer nos próximos dias.