Moro e a mulher são últimos lavajatistas na Câmara
Foto: Myke Sena/ Especial Metrópoles
Após a cassação do mandato de Deltan Dallagnol (Podemos-SP) pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) na terça-feira (16/5), o grupo de parlamentares ligados à Operação Lava Jato no Congresso Nacional fica cada vez mais isolado. O senador Sergio Moro (União-PR) e a deputada Rosângela Moro (União-SP), sua esposa, são os únicos remanescentes da corrente lavajatista no Congresso. O ex-juiz, inclusive, fica em alerta sob risco de cassação.
Esse isolamento dos lavajatistas também ocorre, justamente, em paralelo ao temor de Moro de perder o mandato por decisão do Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE-PR), após pedido do Partido Liberal (PL) de Jair Bolsonaro
O TRE-PR analisa pedido do PL para cassação de Moro, tendo como base supostas irregularidades em gastos na campanha eleitoral de 2022.
Para o PL, a desistência de Moro da candidatura à Presidência da República e migração do Podemos para o União Brasil se tratou de “estratagema pernicioso” para driblar a legislação eleitoral, que limita os gastos de cada campanha.
O partido ainda alega que há “indícios de corrupção” e contesta exigências de pagamentos de salários e contratação de empresas de amigos.
O senador Segio Moro tem sido apontado como “próximo alvo” por lideranças governistas. O líder do PT na Câmara, Zeca Dirceu (MG), avaliou que Moro faz parte de um “conjunto de acusações graves” que envolveram a pré-campanha eleitoral.
“Envolveram não só o Deltan, mas também a pré-campanha do outro senador do Paraná, que acho que está com os dias contados e também terá o mesmo destino, da cassação, que a lei determina. Todo esse ‘chororô’ é de derrotado”, disse Dirceu.
O posicionamento é semelhante ao do vice-presidente nacional do PT, Washington Quaquá (RJ). “Estou coletando assinaturas na Câmara para a CPI da Lava Jato, que vai pegar a dona Rosângela, ele [Dallagnol], e o Moro. Agora só falta você”, afirmou.
Sergio Moro chegou a publicar críticas aos políticos que reagiram positivamente à cassação de Dallagnol. “É desprezível ver pessoas do governo comemorando a cassação de um deputado federal, ainda mais de um com histórico de combate à corrupção e desvio de dinheiro público. Coisa de gente pequena. Era esse o governo que ia pacificar o país?”, escreveu Moro nas redes sociais.
Zeca Dirceu, inclusive, afirma que o destino de Dallagnol será o mesmo do senador Sergio Moro (União-PR). De acordo com as mensagens da Vaza Jato, houve interferência do então juiz da Operação Lava Jato nas investigações da força-tarefa comandada por Deltan.
Entre parlamentares de centro, há receio sobre uma eventual investida contra Sergio Moro. Um correligionário considera haver mais materialidade contra o ex-juiz que contra o ex-procurador, mas aponta que o senador é uma figura com mais ressentimento por parte dos bolsonaristas e uma ação contundente do Judiciário contra seu mandato pode fazê-lo crescer.
“Ele está encurralado neste momento, mas se a coisa apertar, ele pode crescer. Como está, não vem encontrando espaço”, diz um deputado de centro, sob reserva, ao Metrópoles. A avaliação é que, diante da chance de perda de mandato do ex-juiz, bolsonaristas se aglutinariam em seu entorno. Isso poderia arrefecer o clima de divisão na Câmara dos Deputados e prejudicar o andamento das pautas.
Sob reserva, oposicionistas confirmam que a saída de Dallagnol é um duro golpe e o lavajatismo perde parte de sua vitrine na Câmara. Enquanto isso, bolsonaristas confirmam o sentimento de ressalva com relação a Sergio Moro, mas garantem que irão ao seu socorro caso a perda de mandato seja iminente.
Por unanimidade, na noite de terça (16/5), o TSE cassou a validade do registro de candidatura de Deltan, agora ex-deputado federal e ex-procurador e ex-coordenador da força-tarefa da Lava Jato.
Os ministros da Corte consideraram que Dallagnol pediu exoneração do cargo de procurador do Ministério Público para escapar de julgamento, no Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), que poderia impedi-lo de concorrer às eleições de 2022.
Assim, os magistrados consideraram que o ex-procurador da Lava Jato fraudou a aplicação da lei. O julgamento ocorreu em um recurso apresentado pela Federação Brasil Esperança, formada pelos partidos PT, PCdoB e PV, contra decisão da Justiça Eleitoral do Paraná.
No lugar de Dallagnol assume o mandato o também conservador pastor Itamar Paim (PL). O suplente do ex-procurador, que é Luiz Carlos Hauly, teve 11.925 votos. Ele não conseguiu atingir o percentual de 10% em relação ao quociente eleitoral, que na eleição do ano passado foi de 201.288 votos no Paraná. Em decorrência dos dispositivos legais foi considerado eleito, portanto, Itamar Paim.