Torres alega que reunião no 2º turno foi em cima da hora
Foto: Marcos Corrêa/PR
O diretor-geral da Polícia Federal durante o período eleitoral, delegado Márcio Nunes, disse em depoimento que uma reunião realizada às vésperas do segundo turno na Bahia com o então ministro da Justiça, Anderson Torres, foi marcada de última hora e não tinha “uma pauta definida”, mas serviu para tratar das eleições e de um pedido de reforço no policiamento no dia do pleito. O encontro entrou na mira de investigação após suspeitas de que Torres tentou usar a corporação e a Polícia Rodoviária Federal (PRF) para atrapalhar a votação de eleitores no Nordeste, como forma de beneficiar Jair Bolsonaro.
Na data do segundo turno, a PRF montou uma série de blitzes em estradas da região que teriam dificultado o deslocamento de eleitores no principal reduto de Luiz Inácio Lula da Silva. A PRF parou, na ocasião, 324 ônibus no Nordeste, enquanto no Centro-Oeste foram 152; no Sudeste, 79; no Norte, 76; e no Sul, 65.
A suspeita é que a Bahia teria recebido uma atenção especial de Torres porque, ali, Lula havia tido uma ampla vantagem sobre Bolsonaro no primeiro turno (69,7% a 24,3% dos votos). Por esse motivo, a PF quis ouvir todos que participaram da reunião ocorrida na véspera do segundo turno.
Em seu depoimento, dado no último dia 11, Nunes afirmou ter sido o responsável pelo convite a Torres, diante de uma reclamação corrente na PF de que o então ministro “estava indo mais a eventos da PRF do que da própria PF”. “Tendo Anderson (Torres) perguntado o que poderia ser feito e o depoente sugerido a viagem naquele momento, para visita institucional à unidade e à obra”, diz trecho de seu depoimento.
A referida obra era na Superintendência da PF localizada em Salvador. Na manhã do dia 25 de outubro, segundo Nunes, eles tiveram uma reunião com o então superintendente da PF baiana, Leandro Almada, “que foi um bate-papo informal, (no qual) foram tratados de uma remoção de uma servidora, do andamento da obra e de assuntos eleitorais, quais sejam o reforço do efetivo nas eleições, tendo o depoente determinado que fosse colocado o máximo possível de servidores para trabalhar nas eleições”.
A versão dada pelo ex-chefe da PF também foi apresentada por Torres, que disse em seu depoimento ter viajado à Bahia a convite de Nunes. O ex-ministro foi ouvido no inquérito no último dia 8 e negou quaisquer irregularidades. A sua defesa afirma que ele é inocente.
Como revelou O GLOBO na terça-feira, Almada também já foi ouvido no inquérito e disse que “a tônica da reunião (com Torres e Nunes) foi em torno da questão eleitoral”. “Pediram para reforçar bastante a nossa parte ostensiva no dia do segundo turno, porque eles ouviram relatos de uma compra de votos muito grande que estaria ocorrendo no estado da Bahia”, relatou o ex-chefe da PF na Bahia.
Questionado pelos investigadores sobre se, além do pedido de reforço policial, houve alguma orientação quanto às cidades onde a PF deveria atuar, Almada respondeu que sim, mas não chegou a detalhar como isso aconteceu.
“A gente foi informado sim que tinha algumas localidades especificamente, não sei se em função do número de eleitores ou pela cobertura da cidade, enfim. Houve, sim, foi encaminhada uma sugestão de cidades para que fosse reforçado. Eu não tenho, mas houve sim”, afirmou Almada. Ele não apresentou a lista de cidades no momento de sua oitiva, mas se comprometeu a procurá-la e enviá-la aos investigadores posteriormente.
Já Nunes, em seu depoimento, declarou que “não sabe dizer se houve determinação para que a PF atuasse em determinadas localidades” na Bahia, mas afirmou que, de sua parte, “isso não ocorreu”.