O monstro da vaidade

Crônica

A vaidade é um monstro de olhos faiscantes que transforma as suas vítimas em estátuas de pedra. Estátuas frias, sem alma, tão artificiais quanto pode ser um mero simulacro de ser de carne e osso ao se despir da originalidade intrínseca de cada um.

Ela pulsa dentro de nós, a vaidade, com a sua sede insaciável por transformar aqueles que a acalentam naquilo que gostariam que os outros achassem que são, não bastando jamais ao vaidoso a ciência de que é ao menos parecido com o que gostaria de ser.

Como enxergar através desse véu? Como podemos não nos expor ao ridículo por força desse ímpeto que beira o incontrolável? Há que ficarmos atentos. A autocrítica é imprescindível. Quando a deixamos de lado, caminhamos para o desastre.

Aos que acham que atingiram os píncaros do sucesso e da glória, conviria um conselheiro a sussurrar-lhes ao ouvido: “você é apenas um ser humano”. Mas ninguém presta esse serviço ao vaidoso, até para castigá-lo por sua insensatez. É um erro, porque a vaidade enlouquece.

O valoroso não precisa provar o que vale. Não é aumentado por estar aqui ou ali, ao lado, abaixo ou acima deste ou daquele, porque as suas qualidades falam o que as suas palavras não citam.

O verdadeiro valor não é ruidoso, não chama atenção para o próprio exterior, porque os seus predicados residem-lhe no âmago, sendo conhecidos só por aqueles que buscam a verdadeira natureza das coisas.

Diante da vaidade própria ou de outrem, adote a serenidade profética dos que entendem que a verdade é uma força da natureza irrefreável como o fluxo das marés ou como os ventos estelares do cosmo infinito, e que, portanto, acaba revelando o valor verdadeiro tanto quanto o artificial.

E ante a hipótese nada improvável de que não seja reconhecido em vida, contente-se com a certeza de que a história sempre acaba fazendo justiça, pois as farsas que produzem para enganá-la se esfarelam com o tempo, enquanto que a verdade tem a perenidade dos diamantes.