Um 1968 muito melhorado

Opinião do blog

Reproduzo mensagem que recebi do professor Renato Janine Ribeiro em que ele manifesta discordância do post que escrevi em resposta ao ataque que o correspondente do jornal El País fez aos brasileiros por não saírem às ruas. Após seu texto, faço minhas considerações.

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Eduardo,

respeito-o muito porque, antes de atacar frontalmente a Folha, você a criticou durante anos em cartas e diálogos. Foi leal. Foi o adversário decente, honesto. Tentou o quanto pôde. Agiu como os melhores cavaleiros andantes, que desafiam antes de atacar, que não fazem nada pelas costas. Mas aqui discordo. (Não sei se o “mas” tem sentido, porque a discordância faz parte do respeito. Não escreveria a alguém que não respeitasse).

Discordo de você porque dá uma interpretação economicista demais sobre a Espanha. Estive em Barcelona e li as propostas de Madri. Escrevi a respeito no jornal  “Valor Econômico” (acessível em meu blog). Discordo de Arias, porque a Plaça de Catalunya e a Plaza del Sol queriam muito mais que o fim da corrupção. Queriam mudar a política, por exemplo, reduzindo as horas de trabalho o necessário para acabar com o desemprego.

E discordo, mais que tudo, do uso do que escreveu Arias por nossos compatriotas que apenas querem uma sociedade sem corrupção (ou sem o que eles chamam de corrupção), mas com uma política igualzinha à de sempre. Não é isso que os jovens, adultos e idosos exigiram nas praças espanholas. É um 1968 muito melhorado.

Renato Janine Ribeiro

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Considero o professor Renato é um dos intelectuais mais importantes do país. Desde o primeiro comentário que postou neste blog, disse que me era uma honra ter um leitor de tal calibre. Respeito-o muito, portanto. E aceito, com prazer, a sua discordância.

Todavia, creio que houve uma confusão. Não critiquei o movimento espanhol nem o reduzi à crise econômica. Disse apenas que foi ela que o detonou. Talvez surgisse sem a crise, mas não ganharia as proporções que ganhou. A crise o fermentou.

Quanto ao El País, considero-o melhor do que os nossos jornais. Venho discordando desse periódico porque considero que dá pouco espaço à divergência de sua linha editorial, mas, devido à opinião do professor Renato, passarei a acompanhá-lo mais de perto.

Voltarei ao tema Movimento dos Indignados de Espanha.