Para driblar o PIG em 2014

Opinião do blog

Pela segunda vez em uma Copa do Mundo, na história recente, a Seleção brasileira entrou em pânico e foi para casa mais cedo. Como em 2006, na Alemanha, a equipe ficou completamente perdida diante de um adversário não tão forte ao ponto de fazer o futebol pentacampeão do mundo perder o rumo daquele jeito. Não foi, portanto, o futebol holandês que venceu.

A diferença para 2006, no entanto, é a de que, no jogo contra a França naquelas quartas-de-final de quatro anos atrás, o Brasil começou e terminou a partida jogando mal; desta vez, jogou muito bem no primeiro tempo e se desarticulou totalmente no segundo.

O efeito psicológico do gol contra do descontrolado – e bom de bola – Felipe Melo, foi devastador. Se aquele gol não tivesse acontecido – e, provavelmente, não teria acontecido se o zagueiro Juan não tivesse colocado a bola para escanteio em vez de tocar pela lateral do campo –, talvez não tivéssemos sido eliminados.

Fiquei tentado a atribuir esse descontrole emocional somente à pressão da imprensa brasileira sobre a Seleção, que se exacerbou além da conta a partir da insubordinação de Dunga contra a Globo. Contudo, seria uma desculpa esfarrapada. Tome-se como exemplo a seleção da Itália de 2006, que venceu aquela Copa contra a imprensa de seu país.

Parece óbvio que, nos últimos anos, tanto Carlos Alberto Parreira, em 2006, quanto Dunga, neste ano, não atentaram para um fenômeno da atual geração de jogadores, o de ela ser emocionalmente instável e imatura.

Todavia, não sei até que ponto se pode atribuir somente ao técnico esse fator. A condição emocional dos jogadores me parece não ser de responsabilidade apenas do técnico, mas, também, da Comissão Técnica e da própria Confederação Brasileira de Futebol. O técnico já tem trabalho demais com táticas de jogo e com a escolha dos que estiverem melhor técnica e fisicamente.

Em 2006, nossa Seleção foi inferior à da França, que nos eliminou. Desta vez, perdemos da Holanda apesar de termos uma equipe superior. Ou seja: o Brasil foi eliminado à toa, por imprevidência absoluta dos dirigentes do futebol brasileiro, que não aprenderam nada com o que aconteceu há quatro anos.

Vejo uma total imprevidência dos dirigentes diante de uma situação que tinha potencial para baixar o moral tanto do técnico – que, de certa forma, também entra em campo junto com a sua equipe – quanto dos seus comandados.

Não há dúvida de que os fatores que desequilibraram a Seleção emocionalmente vieram quase todos da imprensa brasileira, ainda que não se possa admitir que tenham sido suficientes para transtornar aqueles rapazes daquela forma.

Já na convocação da equipe, a chuva de críticas sobre as escolhas de Dunga certamente colocaram a ele e aos convocados sob uma pressão desnecessária, mas que, ainda, não havia chegado ao ponto que chegou depois da briga pública do técnico com a Globo.

Aliás, o apoio da maioria esmagadora dos brasileiros ao técnico revelado pela pesquisa Datafolha (69%), guarda relação com a visão que o país teve de que os ataques da Globo tinham potencial para desmoralizar tanto a ele quanto aos seus comandados.

Ora, uma medida elementar, sobretudo depois do que aconteceu em 2006, teria sido a de usar psicólogos para acompanhar a equipe e o técnico, de forma a impedir que se estabelecesse aquela percepção que se estableceu de que teriam que vencer a qualquer preço, pois, do contrário, sofreriam o massacre da mídia que estão sofrendo.

Não adianta jogarmos só sobre a imprensa a culpa pelo descontrole emocional que envolveu a Seleção, portanto. Repito: a nossa equipe não terá sido a primeira nem a última a sofrer sabotagem da imprensa de seu país. Os dirigentes do nosso futebol é que têm mostrado uma crença ultrapassada e exagerada na qualidade técnica dos nossos jogadores.

Em 2014, sobretudo se Dilma Rousseff for a presidente, e em plena campanha eleitoral, certamente a imprensa oposicionista deverá repetir o que fez neste ano, quando ficou clara a sua crença no “link” entre futebol e política. Para driblar o fenômeno – não resisti ao trocadilho –, a questão psicológica terá que ser trabalhada, ou perderemos em casa.