Por onde anda João?

Crônica

publicado, originalmente, em 23 de outubro de 2010 às 23h03m

Era 2002, a disputa eleitoral entre Luiz Inácio Lula da Silva e José Serra ganhava contornos similares – porém mil vezes mais civilizados – aos de hoje com o discurso do medo também se levantando, sempre por iniciativa do político paulista que se notabilizou por não conseguir andar com as próprias pernas, tendo sempre que usar muletas midiáticas.

Foi uma eleição inesquecível, aquela. De rompimento com dogmas como o de que a miséria era insolúvel por meio de gestos do Estado, tendo o povo que sofria que esperar o bolo do crescimento do PIB crescer para um dia ser divido.

Eis que surge João, um rapazote que aparentava estar entre aqueles que já cumpriam 16 anos e poderiam, pela primeira vez em suas vidas, fazer uso do instrumento democrático do voto para tentarem mudar os próprios destinos, então atados a idéias como a da “inempregabilidade”, uma criação legítima do PSDB sobre aqueles que  dizia que só conseguiriam uma chance na vida se direitos trabalhistas fossem suprimidos.

Magro, cabelos castanhos, pele branca, aparecia de perfil, um perfil clássico, falando ao microfone contra um fundo recoberto por tecido pesado azul-marinho como da cortina de um palco, simulando um discurso estudantil, certamente em um ato político.

Até hoje, a sua voz embargada pela convicção mais sincera ressoava-me nos ouvidos da memória. Foi quando reencontrei João em um blog qualquer da direita, só que usado com o propósito de “diversão” daqueles que vêem a eleição se lhes escapar por entre os dedos como os anéis que não querem ceder em câmbio das falanges, falanginhas e falangetas.

Eis, no vídeo abaixo, ou em transcrição depois dele,  o discurso de João, sobre quem me perguntei, ao fim da noite de sábado, por onde andaria oito anos depois. E no que pensa da contribuição que deu para que o Brasil se tornasse o que se tornou, também, pela força, pela sinceridade e pela coragem das suas palavras.


– transcrição do vídeo –

— Eu… Acabei de entrar na faculdade… Não foi fácil, mas eu consegui e agora eu tenho uma oportunidade.

— Nada nunca foi fácil pra mim – eu estudei em escola pública, fui criado pela minha mãe, nunca tive pai, nunca tive nada… Minha mãe mal sabe ler.

— Mas confio em Deus e em mim, e eu vou realizar os seus sonhos, custe o que custar.

— Mas quantos iguais a mim, melhores do que eu, mais inteligentes do que eu, nunca tiveram uma oportunidade na vida?!

— Estão nas ruas, nas drogas, no crime…

— Ninguém nasce mau, ninguém nasce bandido! É tudo uma questão de oportunidade – OPORTUNIDADE!

— O jovem da favela também quer ter um tênis novo, uma camisa nova e o direito de sonhar como todo mundo!

— Esse é o país de todos! De todos!!

— Meu nome é João, eu sou brasileiro!

— Amo o meu país!

— Viva o Brasil!

— Viva São Paulo!

— Viva o Cristo Redentor!

— Viva a Amazonia!

— Viva Luiz Inácio Lula da Silva!