A visita de Obama e o fermento do ódio
Yankees go home! Fora, Obama! Nos últimos dias, senti-me de volta aos anos 1960 ou 1970, quando o poder norte-americano nos mantinha de joelhos diante de uma ditadura sangrenta. De lá (segunda metade do século XX) para cá, porém, a relação dos Estados Unidos com o Brasil e a própria realidade entre os países mudou muito.
Recente reportagem de O Globo revela como as coisas mudaram entre os Estados Unidos e o Brasil nas últimas décadas. Sob o título “Viagem de Obama à América Latina é criticada por imprensa americana”, a matéria relata as razões do presidente norte-americano para enfrentar as cobranças quanto a deixar seu país em um momento de crise nuclear no Japão e de possível intervenção militar de seu país na Líbia.
Segundo O Globo, “Numa tentativa de apaziguar a insatisfação interna, o governo americano publicou nesta sexta-feira um artigo no jornal “USA Today” assinado pelo próprio Obama. No texto, o presidente justificou a viagem de cinco dias como uma oportunidade de estreitar laços econômicos e garantir a criação de novos empregos no país”.
O tempo em que os norte-americanos vinham aqui nos passar rasteira e deixávamos pertence a outra época. Uma época que, graças a Deus, não existe mais. Hoje, temos condições de tratar com eles de igual para igual. Obama veio ao Brasil justamente para nos convencer a fazer menos negócios com a China e mais com seu país.
Não creio que conseguirá tudo, mas podemos negociar alguma coisa com ele. Não tenho a menor dúvida em afirmar que a esmagadora maioria dos brasileiros apóia que ao menos negociemos, porém sempre em pé de igualdade.
Todavia, posts que tenho publicado nos últimos dias tiveram preocupação diferente. As reações de movimentos sociais e partidos de esquerda à visita de Obama não me preocuparam devido a uma retórica que me pareceu anacrônica, mas devido ao fato de que a vinda de um presidente dos Estados Unidos a qualquer país sempre deve ser motivo de preocupação.
Há muita gente sem juízo, por aí. Sem falar em gente mal-intencionada que sempre se aproveita de uma situação de conflito para exacerbá-lo. Manifestações contra o imperialismo ianque, portanto, seriam perfeitas para agentes provocadores.
Foi dito e feito – tenho até medo da minha “boca”. O clima que se instalou na internet diante da visita de Obama certamente ajudou muito os mal-intencionados que, segundo o mesmo Globo (versão on line), aproveitaram-se de ato de partidos e movimentos sociais diante da embaixada dos Estados Unidos nesta sexta-feira para promover atos de violência.
Não divirjo de ninguém que quer protestar, mas não é hora de discursos beligerantes contra os Estados Unidos. A tensão que provoca a visita de um presidente desse país é suficientemente preocupante por conta do terrorismo internacional, que pode achar mais fácil agir no Brasil.
E, sim, o terrorismo existe. Quem detonou o cocktail molotov diante da embaixada norte-americana cometeu um ato de terrorismo. Talvez até tenha sido a direita, aproveitando-se do ato da esquerda para desmoralizá-la e caracterizá-la como violenta. Ou até algum esquerdista debilóide que acha que atos de violência servem a algum propósito.
O fato é que o brasileiro médio está achando é muito bom que este país tenha se tornado tão importante como potência econômica a ponto de o presidente dos Estados Unidos vir aqui tentar aumentar os negócios conosco. Duvido de que a maioria esmagadora dos brasileiros apóie que espantemos Obama daqui.
Este povo quer melhorar de vida. Não está preocupado com ideologia e slogans dos anos 1960, 1970. Ainda temos muita pobreza, muitas carências e precisamos de desenvolvimento econômico. Temos, pois, que fazer negócios com chineses, norte-americanos e com quem mais puder nos ajudar no desenvolvimento econômico, o que nos permitirá maior desenvolvimento social.
Não recrimino ninguém. Acho que não faltam razões para protestar contra os Estados Unidos e até para criticar Obama por sua tibieza. Contudo, estava preocupado. E continuo. Não estou vendo propósito nessa grande orquestração de protestos em um momento em que podem se tornar explosivos e fora de controle.
Por mais bem-intencionados que sejam os que não aprovaram a visita de Obama ao Brasil, peço que meçam o nível de tensão que se formou e avaliem se é ajuizado inflamá-lo ainda mais. O ódio (em boa medida justificado) aos Estados Unidos é muito maior do que brasileiros conhecem. Para produzir uma tragédia não custa nada.