Para você, Elizabeth

Crônica

Durante mais de quarenta anos, Elizabeth, guardei esta paixão. Quando te vi pela primeira vez – naquele que, para mim, foi teu principal papel, em The Tamming of the Shrew (A Megera Domada), em que libertaste toda a fúria da tua arte como a inebriante, selvagem e terna Katharina, em tua guerra de amor a Petruchio –, foi paixão à primeira vista.

Tinha por volta de dez anos, Elizabeth. Por noites e noites daquele agonizar da década de 1960 sonhei contigo. Imaginava mandar-te uma carta, mas não tinha versos ou prosa naquele idioma que emanava dos lábios que, menino, ansiei beijar mais do que talvez jamais ansiasse beijar os de outra pelo resto da vida.

Os anos passaram, mas jamais te deixei. Nenhuma mulher jamais despertou paixão e desejo tão ardentes durante a vida do homem em que aquele menino se tornaria. Mas jamais te escrevi. Sabia que não lerias. Seria só mais um fã e era dolorosa a idéia de que a minha Elizabeth não entenderia o meu amor.

Agora, sim, escrevo-te, Elizabeth. Porque sei que, onde estás, sentimentos puros, legítimos e intensos como os que me possuíram um dia, agora podem chegar. Assim, poderás entender e avaliar quanto foste amada e desejada, quanto foste idealizada como a mulher de minha vida e quanta falta me fizeste. Descansa em paz, minha eterna Elizabeth.

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Abaixo, trecho de The Tamming of the Shrew (A Megera Domada)

Enredo

A trama, relativamente simples, teria sido coletada por Shakespeare de antigos contos da tradição oral e diz respeito a um pai, Batista, que estabelece como condição para ceder a mão de sua filha mais jovem, a bela e doce Bianca, aos possíveis pretendentes, que sua filha mais velha, a megera Catarina, consiga antes um esposo. Bianca tem não menos que três pretendentes – Gremio, Hortencio e Lutencio, este último um jovem forasteiro que chega à cidade de Pádua e enamora-se de imediato por Bianca.

Os dois primeiros, rivais nas pretensões de casar-se com Bianca, fazem um acordo para conseguir um marido para Catarina e, assim, deixar livre o caminho para seguirem em sua disputa amorosa. Petrúquio, um nobre falido de Verona, chega à cidade em busca de um bom casamento e apaixona-se pela ideia de se casar com Catarina, proposta feita a ele por seu amigo Hortencio.

Aparentemente contra a vontade da moça, o casamento de Catarina e Petrúquio é realizado e ambos voltam para Verona, onde o esposo, impondo algumas privações e um tanto de mau humor à nova esposa, termina por amansá-la. Após diversas peripécias, dentre as quais o disfarce dos rivais em professores de música e retórica para que pudessem fazer a corte à jovem Bianca, Lucencio e Bianca casam-se, em segredo; Batista e Vicencio, pai de Lucencio, terminam por aceitar o casamento dos jovens e, ao final, Petrúquio prova a todos que Catarina tornou-se uma esposa mais obediente que a doce Bianca.