Pela SUA liberdade de expressão
Liberdade de expressão, quanto mal tem sido feito em seu nome. A grande imprensa brasileira, durante o século passado e na primeira década deste, vem esgrimindo com esse direito fundamental do homem para justificar um suposto “direito” que teria de assacar acusações contra governos dos quais não gosta como se fossem fatos, buscando manipular a sociedade para que vote nos políticos de sua preferência.
Este blogueiro, que já começa a trilhar a sexta década da própria existência, passou a vida inconformado com impérios de comunicação que jogaram este país na pior ditadura de sua história e que, até hoje, não passam de porta-vozes dos setores diminutos da sociedade que concentram renda no Brasil como em nenhum outro país civilizado, e que não querem que este seja um país de todos.
Até que, um dia, tomou a decisão de não mais aceitar passivamente que meia dúzia de famílias abastadas, donas daqueles impérios, continuassem manipulando corações e mentes.
No fim do século XX, vislumbrei o potencial da internet de agregar a tantos que imaginava existir e que pensavam da mesma forma. Nos idos de 1998, comecei a recolher endereços de e-mail nas seções de cartas de leitores da imprensa escrita de forma a construir listas de discussão na internet. Nessas listas, tentava fazer o contraponto ao que essa “grande” imprensa publicava para apoiar o desastroso governo de Fernando Henrique Cardoso.
Em 2007, agora blogueiro, passei a exortar leitores a tomarem atitudes contra as bofetadas que todos levávamos diariamente desses meios de comunicação engordados pelo dinheiro público que a ditadura militar despejou nos cofres das famílias midiáticas. Organizei, assim, o primeiro grande ato público contra a mídia em décadas. Desse ato surgiu uma ONG, o Movimento dos Sem Mídia, que, nos anos seguintes, investiria contra esses meios de comunicação não só nas ruas, mas também na Justiça.
Era uma espécie de “bullying” antimidiático, em que espalhávamos críticas contundentes e denúncias incontáveis contra o “jornalismo” dessas mega empresas de comunicação e seus “colunistas” amestrados, mercenários pagos para difamar pessoas públicas na tentativa de aumentarem as chances eleitorais de seus protegidos políticos.
O mesmo que fiz com aqueles impérios de comunicação começou a ser feito com maior freqüência contra meros internautas por congêneres. Essas pessoas passaram a formar correntes que parecem envolver muita gente, mas que, vistas de perto, contam com nem uma dezena de integrantes, ainda que pareçam abrigar a muitos porque se multiplicam escrevendo dezenas de mensagens difamatórias em verdadeiras “cruzadas”.
O que me leva a escrever este texto são manifestações de leitores que, nos últimos dias, vêm dizendo que estão sentindo “medo” de expressar as suas opiniões e se tornarem alvos de mais uma dessas “ondas” que meia dúzia de gatos pingados formaram para intimidar quem queira concordar com uma tese de que discordam.
Jamais me verão gastar esforços contra pessoas comuns, contra meros internautas que contam somente consigo e seus esforços para combater o que se convencionou chamar de “Partido da Imprensa Golpista”. Fiz isso uma vez só, contra um blogueiro que tentava marcar a sua volta à internet incentivando esse “bullying” digital contra outro. E foi para mostrar que qualquer um pode levantar essas ondas.
Não tocaria mais neste assunto se não fossem esses leitores e leitoras que têm se comunicado comigo não só em comentários aqui no blog, mas através de e-mails e até de telefonemas para manifestarem seu desgosto com uma situação em que não se sentem livres para opinar, pois têm medo de se tornarem alvo dessas ondas de bullying digital.
Esses que formam ondas como se estivessem atacando os impérios de comunicação e os partidos de direita que infelicitam este país há décadas incontáveis, não são pessoas sérias. Dizem estar exercendo “direito de crítica”, mas, na verdade, estão patrulhando, insultando pesadamente àqueles que têm opinião diferente, fazendo considerações desairosas sobre as pessoas e não sobre as suas idéias das quais divergem.
Não se pode aceitar isso. Este blog acumulou dezenas de milhares de comentários desde que foi inaugurado, em 24 de maio de 2010, substituindo o meu primeiro blog, o Cidadania.com, que, por sua vez, deixei na internet como registro histórico de importantes momentos da história política deste país, como o do ato público contra a Ditabranda da Folha de São Paulo. Lá, naquele blog, são mais de cem mil comentários de leitores, entre os quais figuram milhares e milhares de críticas ao seu autor.
Você pode discordar de quem quiser. Tem todo o direito de manifestar discordância de suas idéias. Não tem, contudo, o direito de fazer ataques pessoais, considerações insultuosas sobre caráter, sobre espírito democrático, enfim, sobre o alvo de suas suposições.
Quando vir alguém, na internet, escrevendo críticas pessoais a pessoas comuns, saiba que está diante de um oportunista, de alguém que, sob uma desculpa qualquer, ataca cidadãos que não têm concessões públicas, que não são financiados por partidos e que, muitas vezes, lutam duro pela sobrevivência. É muito diferente de atacar uma Folha ou seus colunistas teleguiados, que têm, todos, uma única opinião: a do patrão e a dos políticos seus amigos.
Hoje, você embarca nessas ondas de difamação de pessoas comuns, desencadeadas sob razões meramente subjetivas. Amanhã, o alvo será você. E toda vez em que sentir medo de exprimir a sua opinião, em que preferir não dizer o que pensa para não se tornar alvo de difamadores, saiba que está abdicando do valor mais precioso da cidadania, está abrindo mão da sua liberdade de expressão.
Não permita. Nem mesmo se você discordar da opinião do alvo de difamação, não apóie. Quem sai difamando o autor de uma idéia em vez de combater a idéia em si, é mal-intencionado. Tem interesse oculto. Não é como criticar um colunista de um império de comunicação que opina na mesma direção do patrão o tempo todo. Esse é um mercenário, um pistoleiro. É outra coisa. Ele dispõe de imenso espaço para mentir, difamar e distorcer fatos. E é pago para isso.
Há anos que sou alvo de oportunistas difamadores. No mais das vezes, não dou bola porque é isso o que querem. Mas quando vejo pessoas dizendo que estão com medo de opinar para não se tornarem alvo desses indivíduos inescrupulosos, não posso deixar passar. Só se forma ondas contra grandes poderes, não contra quem só representa a si mesmo. O clichê é inevitável: o sábio discute idéias e o medíocre, discute pessoas.