Sem querer, blog de Serra explica crise da oposição
A página que José Serra acaba de lançar na internet (em formato de blog) condiz perfeitamente com a personalidade desse político: visualmente, é tão sem graça quanto ele. A falta de criatividade gráfica, aliás, condiz com o ideário daquele que colunistas teleguiados da grande imprensa vivem exaltando.
Ainda que muitos não creiam, penso que o “líder da oposição” demo-tucana poderia usar uma iniciativa aparentemente positiva como a de criar um canal de interação com seus eleitores para agradar até aqueles que o rejeitam demonstrando que ultrapassou a campanha eleitoral do ano passado, que não se engajou em um pueril terceiro turno e que aprendeu alguma coisa com a derrota. Mas, aí, Serra não seria Serra.
Não, é claro que, aqui, não se prega o adesismo. É evidente que, como já disse tantas vezes neste blog, nações civilizadas precisam de oposição. Mas a que Serra, seu partido e seus aliados têm feito é absolutamente dispensável, e é por isso que eles vêm fracassando na tentativa de retomar o poder.
Mentiras, distorções e falta de propostas são tudo o que se pode extrair dos três primeiros posts do blog “limpo” de Serra. É exatamente o mesmo que ofereceu durante a campanha eleitoral do ano passado e que, não fosse a mídia e a candidatura-laranja de Marina Silva, não lhe teria permitido chegar nem ao segundo turno.
Uma das mentiras que contou em seu segundo post, aliás, é inacreditável partindo de um homem que tem a sua longa trajetória política. É uma mentira grosseira que, se não tivesse sido difundida propositalmente – e foi –, provaria que não tem capacidade nem para gerir uma banca de jornal. Ao mentir assim, Serra apenas comprovou a sua mediocridade.
Vejam:
“(…) Em termos de índice de desenvolvimento humano, o IDH, caímos de posição no cenário mundial, de 65ª em 2003 para 73ª em 2010. Isso tudo apesar de o Brasil desfrutar da maior fase de bonança externa já observada (…)”
Chega a ser ridículo rebater esse argumento. Até os menos informados sabem que o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), que mensura o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), sofreu alterações de metodologia durante a década passada, o que impede que o IDH de 2009 – e não de 2010, como diz Serra – seja comparado com o de 2003.
Na verdade, o Brasil subiu fortemente no IDH e entrou na faixa dos países de alto desenvolvimento humano. Praticamente todos os países do dito “Terceiro Mundo” caíram no ranking porque este passou a dar maior peso à Educação, justamente o quesito em que os países em desenvolvimento têm maiores dificuldades.
Detalhe: a “maior fase de bonança já observada” inclui a maior crise econômica que o mundo viveu em oitenta anos.
Além disso, Serra persiste no trololó de que tudo está ruim e de que o pouco que está bom se deve ao governo de que fez parte. Age como se o governo Fernando Henrique Cardoso não tivesse existido, como se tivesse deixado um legado diferente daquele que, apesar das distorções tucano-midiáticas, o povo brasileiro enxerga a ponto de vir rejeitando os candidatos a presidente da oposição em 2002, 2006 e 2010.
Mas o pior mesmo vem agora. Serra aponta problemas que ainda persistem no país, apesar de este ter melhorado tanto. De fato, alguns dos problemas que aponta existem e precisam de solução.
Como fazer para solucioná-los? Ah, isso ele não diz. Não se encontra uma mísera proposta em sua verborragia desonesta e medíocre. Apenas críticas que qualquer estudante adolescente seria capaz de fazer. Qual seria a receita de Serra para o câmbio, para a inflação, para os gargalos na infra-estrutura?
Nunca, jamais, em tempo algum ele revelou. E não revelou simplesmente porque não sabe o que fazer, ou sabe que já está sendo feito e que os resultados tardam a aparecer – até por ação de seu grupo político e da mídia sua aliada, que, durante os oito anos do governo Lula, apostaram na sabotagem e no “quanto pior, melhor”.