Quem perde ou ganha com a demissão de Palocci

Análise

Criou-se um jogo em torno da demissão do já ex-ministro Antonio Palocci. Os contendores, de um lado, foram eleitores e militantes governistas e, de outro, foram toda a grande imprensa, blogs, oposição, partido do governo e base aliada. Como em todo jogo, produziram-se vencedores e perdedores. Vamos a eles.

Quem perde? Este blog julga que Dilma e Lula, que quiseram manter Palocci, saem derrotados. Sobretudo Lula, que aconselhara Dilma a não ceder. Enfraqueceu-se no PT e perante a opinião pública, que não é povo mas uma elite politizada. Só não se sabe se ganharam os que apostaram no fortalecimento do governo com a demissão do ministro.

Fortaleceram-se, sem dúvida, grande imprensa e oposição. Da denúncia da primeira e do encaminhamento do ataque pela segunda decorreu a queda do principal ministro do governo após cinco meses de gestão, o que permitirá a esses contendores dizerem que a presidente da República escolheu mal o ocupante do segundo cargo mais importante de seu governo.

Ainda se saberá se ganharam ou perderam os que apostaram em que a demissão de Palocci significaria o fim das tentativas da mídia de derrubar ministros sem provas ou em que, havendo a demissão, o governo Dilma não ficaria “refém” do PMDB. A ação decidida pela queda ou não de Palocci deixará marcas.

Alguns podem pensar que a grande aposta é sobre quanto tempo irá demorar até que o ataque recomece, mas, na verdade, o enigma é saber se a demissão de Palocci colocará fim na crise ou se precederá o seu prolongamento pela mídia e pela oposição, com uma CPI focando, agora, nos gastos de campanha de Dilma.

Não se pode esquecer, portanto, quem disse o quê. Os resultados virão. O governo pode superar esse episódio e, daqui para a frente, conseguir governar. Ou pode ser que essas crises se banalizem e que o governo Dilma esteja só estreando na arte de ceder a pressões. Ninguém, contudo, sabe o resultado, ainda que existam os que pensam que sabem.

Um indício do que pode vir é que a senadora petista a quem foi atribuído pedido de afastamento de Palocci foi nomeada para o seu lugar. Ou seja, a petista do Paraná Gleisi Hoffman ganhou muito com a crise, além da mídia, da oposição e dos interesses que a nova ministra da Casa Civil representa. Será interessante ver quais são.

Perdem, também, o procurador-geral da República e a instituição Ministério Público. A grande imprensa, a oposição e até o próprio partido do governo colocaram em xeque a seriedade do MP ao indicar Roberto Gurgel para o alto da lista tríplice da qual o ex-presidente Lula retirou seu nome, sem falar no próprio procurador-geral, retratado como “engavetador”.

Resta, por fim, saber se foi Palocci quem não agüentou a pressão ou se foi Dilma. Para este blog, foi o ministro. É bem provável que se afaste da vida pública. Parece não haver mais espaço para ele. Sua eventual reabilitação sempre será contestada, enquanto o PT estiver no poder.

Sobre este blog, há que dizer que não perdeu. Interpretou um sentimento legítimo de parte da opinião pública, ofereceu argumentos, fatos, reflexões e se tornou um dos raros espaços de contraponto. Sem o que foi feito aqui e em mais dois ou três blogs, não teria existido espaço para divergência dos poderes imensos que triunfaram.