O Sócrates Brasileiro fez jus ao próprio nome
Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira nasceu em Belém do Pará em 19 de fevereiro de 1954 e deixou este vale de lágrimas em São Paulo em 4 de dezembro de 2011. Durante sua vida profícua e muito mais breve do que deveria, mas curta como convém àqueles que ajudam a escrever as melhores páginas da história, foi chamado de Doutor Sócrates, de Magrão e até, simplesmente, de Doutor.
Foi um dos jogadores de futebol brasileiros que, em uma carreira breve com muitas vitorias e poucas e inesquecíveis derrotas em campo, inscreveu o próprio nome na crônica desportiva brasileira. Reinou ao lado de expoentes como um Roberto Rivelino nos corações e mentes da nação corintiana.
Jamais se contentou com o sucesso e o dinheiro que se tornar uma estrela do esporte mais querido pelos brasileiros dá a tantos jovens que terminam engolidos pelo vil metal e que, após uma vida de dissipação, de escândalos, bebedeiras, incontáveis casamentos e muito mais, terminam esquecidos ou lembrados apenas pelo que fizeram com os pés, mas muito pouco pelo que fizeram com o coração, a mente e a alma.
Sócrates, apesar do sucesso, fez questão de concluir o estudo da medicina e de exercê-la efetivamente. Sem se filiar a partidos, fez política apenas no interesse da Nação. Participou da campanha Diretas Já, em 1984, e foi um dos principais idealizadores do movimento Democracia Corintiana, que reivindicava para os jogadores mais liberdade e influência nas decisões do clube. Nos últimos anos, tornou-se jornalista, escrevendo com propriedade, sobriedade e honestidade na revista Carta Capítal.
Como atleta, o Sócrates que me ficou na mente foi aquele que empatou o jogo contra a União Soviética na primeira rodada da Copa do Mundo de 1982 com um gol de fora da grande área que até hoje me faz crer que o seu autor sabia que o marcaria, tal a serenidade e a precisão do petardo que disparou rumo a rede adversária e que permitiu que o Brasil vencesse a partida de virada, por 2 a 1.
Gosto de pensar, em um momento em que esse brasileiro tão importante nos deixa, que o nome inspirou o homem. Para o Sócrates Brasileiro, receber o nome do homônimo grego, do filósofo ateniense nascido quase 500 anos antes de Cristo, um dos mais importantes ícones da tradição filosófica ocidental e fundador da Filosofia Ocidental contemporânea, foi uma grande responsabilidade que ele fez questão de honrar.
Descanse em paz, Sócrates Brasileiro.
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Reveja o gol antológico de Sócrates na Copa de 1982