Prefeitura de S. José dos Campos continua torturando flagelados
Desde o fim da noite de ontem vinha recebendo ligações aflitas da vereadora de São José dos Campos Amélia Naomi e de outros contatos naquela cidade. Denunciam que as autoridades municipais voltaram à carga contra os ex-moradores do Pinheirinho e pedem repercussão. Infelizmente, o blog teve problemas e passou a manhã e a tarde desta quinta-feira fora do ar.
A denúncia é a de que ontem (quarta-feira, dia 8), depois de os flagelados passarem o dia ouvindo das “assistentes sociais” da prefeitura boatos de que seriam alvo de mais uma liminar, desta vez obrigando-os a deixar um dos abrigos (CAIC Dom Pedro II), foram ameaçados com novo uso da Tropa de Choque caso resistissem.
Ontem, havia cerca de 150 pessoas abrigadas ali. Como além de centro esportivo o CAIC D. Pedro II é também uma escola municipal e as aulas já começaram, as famílias tinham que ser transferidas. Todavia, devido aos traumas pelos quais já passaram, e devido às ameaças da Prefeitura, entraram em pânico.
Eis o relato que a vereadora me enviou ontem à noite por e-mail:
“O terror teve início por volta das 21h e só terminou às 2h. Nesse período, os abrigados eram colocados em micro-ônibus e carros da Secretaria de Educação e levados para outros abrigos. O primeiro micro-ônibus saiu às 21h42, com 15 pessoas e diversos sacos pretos doados pela prefeitura para que os mesmos colocassem os seus pertences. Até animais foram levados. O grupo foi levado para o abrigo do Ginásio Ubiratan Maciel, conhecido como ‘latão’”.
Por telefone, a vereadora me disse que continua indefinida a situação de centenas de famílias distribuídas por vários abrigos. Não conseguem alugar moradia porque o valor do auxílio-aluguel pago por prefeitura e governo do Estado (no valor de R$ 500) é insuficiente, porque não têm fiador e porque sofrem preconceito da maioria da população, que também se recusa a lhes alugar moradias ou até a lhes dar empregos.
A informação, aliás, coaduna-se com pesquisa do jornal “O Vale” que foi publicada ontem (8/2). Segundo a sondagem da opinião do povo joseense, 54,3% aprovam reintegração de posse da área, que foi ocupada durante quase oito anos por famílias sem-teto; contrários somam 30,7%
A pesquisa foi realizada entre os dias 30 e 31 de janeiro. Foram ouvidas 600 pessoas de todas as regiões de São José dos Campos. A pesquisa foi estratificada por sexo, escolaridade, renda familiar, religião e zona geográfica.
Pelos dados da estratificação, 73% dos pesquisados que possuem ensino superior disseram que são a favor da remoção. Outros 20% desse nicho disseram que são contra a desocupação do Pinheirinho.
Considerando ainda a escolaridade, 41,7% dos que possuem o primeiro grau disseram que não aprovam a remoção, maior índice dos que manifestaram ser contrários à desocupação da área.
No quesito renda familiar, 72% dos entrevistados com renda familiar superior a 5 salários mínimos disseram que são a favor da desocupação, enquanto 20,6% da mesma faixa de renda manifestaram contra.
Ainda segundo a renda, 35,9% dos que ganham até 3 salários disseram que são contra a desocupação e outros 46,2% aprovam.
Considerando a zona geográfica, 58% dos entrevistados residentes na região sul, onde fica o terreno do Pinheirinho, aprovam a desocupação, ante 25% que reprovam a remoção dos sem-teto.
Nesse nicho, a maior aprovação está entre os que moram no centro, 61,9%, e a maior reprovação entre os moradores da zona norte, 39,7%
“Se olharmos os dados da estratificação da pesquisa, verificamos que a taxa de aprovação à desocupação do Pinheirinho é maior entre os moradores de maior renda e escolaridade”, disse o diretor geral da Mind Pesquisas, Alexandre Lima. Para ele, esse posicionamento da população reflete o perfil da cidade.
“São José é uma cidade bastante urbanizada e industrial e a parcela da população mais escolarizada e com maior renda defende o respeito à lei, ao estado de direito, já que a desocupação foi uma decisão judicial”, disse o executivo.
Lima destacou que entre a camada da população com menor escolaridade e renda, a visão é o inverso.
“Nesse nicho, a maioria desaprova a desocupação. Possivelmente, muitas pessoas dessa camada são mais suscetíveis a questões habitacionais ou vivenciam problemas de moradia”, avalia Lima.
A pesquisa não surpreende. Era evidente que tanto o prefeito de São José dos Campos, Eduardo Cury (PSDB), quanto o governador Geraldo Alckmin não levariam essa tragédia humanitária adiante se não soubessem que ela lhes traria dividendos eleitorais.
É disso que se tratou a desocupação do Pinheirinho, pois: mais do que para atender à especulação imobiliária, foi um projeto eleitoreiro tucano para agradar a uma cidade que até o momento não ofereceu nenhuma solidariedade aos flagelados. A maioria da população joseense quer mais é que mulheres, crianças, idosos e deficientes se danem.