Globo é o túmulo do jornalismo, mas Collor é uma lição de vida
Há pouco que falar sobre a extensa matéria do Fantástico que promoveu um massacre de injúrias e difamações contra o ex-presidente Fernando Collor de Mello no último domingo. Aliás, além de xingar e difamar, a Globo pode ter dado curso a calúnias.
Mas esse não é o aspecto mais importante daquele quadro em um programa que vai ao ar no horário mais nobre da televisão brasileira. O mais importante é o que havia de jornalismo e o que houve de pura vingança e de uma intimidação que não se resume a Collor.
O que foi, diabos, que a Globo trouxe de novo? Jornalismo é notícia, ao menos no formato imposto àquela matéria. Que notícia a Globo deu? Que Collor é macumbeiro? Isso o falecido irmão dele disse há mais ou menos 20 anos e foi objeto de especulações por muito tempo.
A maioria das pessoas não sabe o que ocorreu naqueles anos 1990 porque ainda há mais jovens do que maduros no Brasil. E o que ocorreu àquela época, hoje perdeu todo o sentido.
Collor foi julgado pelo Supremo Tribunal Federal e foi absolvido. Se por inépcia da acusação, da promotoria, como foi dito, não importa. Se fosse condenado, a condenação seria usada sem dó nem piedade; é justo que a absolvição tenha o mesmo peso que a condenação.
Um parênteses: pelo que a Globo fez com Collor, pode-se prever o que fará se os acusados principais no inquérito do mensalão (leia-se José Dirceu em primeiro lugar) forem absolvidos…
Então, a reportagem do Fantástico sobre Collor não serviu para nada. Requentou um caso que já se perdeu nos desvãos da história. E o mais interessante é que quem requentou esse escândalo é a mesma mídia que diz que a Privataria Tucana ocorreu já faz “muito tempo”.
Ah, mas Rosane Collor confirmou alguns cafés da manhã entre Collor e PC Farias antes de eclodir o escândalo. E daí? PC foi caixa da campanha de Collor à Presidência. Não tem relevância alguma essa informação. Jamais terá conseqüência.
Não havia razão para a Globo trazer esse assunto à tona depois de tanto tempo. Collor fazia macumba, é? Quanta socialite ou dona-de-casa ou pai de família ou estudante ou empresário não faz seus “trabalhos”?
Em minha opinião, aliás, a Globo deu um tiro no pé, porque “trabalhos” com “animais mortos” estão por toda parte, neste país, e ninguém fica chamando de “magia negra”.
Ridículo, estapafúrdio, arcaico, fundamentalista… É criminalização religiosa, aliás. Daqui a pouco o PIG vai pregar a formação de uma força policial para prender qualquer Pai de Santo que matar uma galinha e colocar numa cesta com velas, fitas etc. numa encruzilhada.
Aliás, a criminalização da elite a certos cultos religiosos mal identificados com a cultura afro remonta aos primórdios da colonização brasileira. Mas o mais gozado é que nessa própria elite há muita gente fazendo seus “trabalhinhos”.
Alguma novidade, até aqui? Não é o que se diz à larga na Blogosfera e nas redes sociais, que a Globo e seus congêneres são o túmulo do jornalismo? Além de usar uma concessão pública para suas vendetas pessoais, a emissora da família Marinho ainda a usou para intimidação criminosa de membros da CPI do Cachoeira que pensem em incomodar a Veja e a própria Globo.
Resta saber qual será o prejuízo de Collor. Particularmente, penso que seu eleitorado não esteve e nem estará nem aí para o ataque que a Globo lhe fez.
Os setores que se impressionaram com as caras e bocas de “espanto” da entrevistadora Renata Ceribelli diante das “revelações” da esposa ressentida e gananciosa de Collor, que deixou ver que fez tudo aquilo porque a amiga ganha 40 mil reais de pensão do ex-marido e ela ganha “só” 18 mil reais, já não gostavam dele antes.
Grave, porém, é o uso de concessão pública para um ataquezinho político rasteiro, maledicente, burro e preconceituoso.Em qualquer país civilizado e desenvolvido, os irmãos Marinho sofreriam um questionamento pelos órgãos de controle da mídia que funciona sob concessão do Estado.
Contudo, estamos no Brasil e deve ficar tudo por isso mesmo.
Agora, convenhamos: que lição de vida representa o que a Globo fez com Collor, hein. Ele recebeu de volta exatamente aquilo que fez com Lula em 1989 – levou sua ex-namorada Miriam Cordeiro para injuriá-lo e difamá-lo na TV.
A ironia do destino é sempre surpreendente. A vida supera a arte. É ampla a quantidade de chavões que cabe usar. Nem se tivessem escrito um romance em que, mais de vinte anos depois, o feitiço se viraria contra o feiticeiro, a cena teria sido tão irônica.
Essas pessoas que aplicam esse tipo de golpe baixo nos desafetos, com ataques pessoais de natureza miseramente maledicente e geralmente sob armações, deveriam refletir muito…
Dado o que há de surpreendente em Collor ter sido vítima da mesma baixeza que praticou, seria demais cogitar que aqueles que, na Globo, engendraram essa vingançazinha tola, baixa, mesquinha e burra poderão, um dia, ser vitimados por gente igual a si?