Falta eventual de luz diminuiu no Brasil entre 2001 e 2012
Não basta lamentar um pseudo tipo de jornalismo que é feito cotidianamente no Brasil através da mais pura vigarice, de uma tentativa revoltante de enganar o público veiculando informações falsas, incompletas, distorcidas ou até mesmo escandalosamente omitidas.
Cabe, pois, ao cidadão engajado na luta por informação de melhor qualidade no país combater tais práticas fazendo o contraponto, pegando no pé de quem faz isso e não largando mais, porém sempre de forma leal, justa, civilizada e honesta.
Nesse aspecto, a objetividade é um caráter fundamental da notícia. Quanto mais seu autor dá voltas para chegar ao ponto, menos tem a dizer. É o que ocorre com notícia veiculada em destaque no UOL, conforme a imagem acima.
Fato: o portal de internet do Grupo Folha informa que a falta de energia episódica que sempre ocorreu aqui e sempre ocorrerá em qualquer parte, variando apenas a freqüência com que isso acontece, teve o maior aumento em três anos.
Não é mentira, mas não é toda a verdade. Faltou uma informação para que o público pudesse mensurar se é verdadeira a insinuação contida na notícia de que está havendo algum problema mais sério com a geração e a transmissão de energia no Brasil.
Descendo à matéria em questão, ela informa ao distinto público, já no primeiro parágrafo, que “Os consumidores brasileiros tiveram de conviver em 2012 com um recorde incômodo: o de cortes de luz”.
Recorde? Que tipo de recorde?
Sim, a matéria informa que é um “recorde” em três anos, mas não informa que, em relação ao período que originou o termo “apagão” (2001/2002, quando o Brasil teve que racionar energia), estamos proporcionalmente sofrendo menos com aquela boa e velha falta de luz que costuma ocorrer durante rápidas tempestades ou mesmo em razão de falhas na transmissão de energia como incêndio, curto circuito etc.
Veja o gráfico abaixo, publicado na matéria da Folha em questão.
A matéria do UOL (manchete de primeira página da Folha de São Paulo de 19 de janeiro de 2013), como se vê, diz que, em 2001 e 2002, quando o país teve que racionar energia durante cerca de um ano, ocorreram, respectivamente, 157 e 194 blecautes episódicos – então decorrentes de escassez de geração e transmissão de energia elétrica –, enquanto que, em 2011 e 2012, agora sem escassez de geração e transmissão, ocorreram, também respectivamente, 221 e 241 blecautes daquela natureza.
Ora, a conclusão óbvia, assim, é a de que a situação, hoje, é ainda pior do que a de 2001/2002, certo?
Errado. A situação é muito melhor porque, como o presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim, informou em entrevista coletiva à imprensa no último dia 8 (há, portanto, meros 11 dias), “De 2001 a 2012 a capacidade instalada de geração de energia cresceu 75% no Brasil”, tendo havido um “Aumento de 150% na capacidade instalada de termelétricas, excluindo usinas a biomassa e nuclear”. E, como se não bastasse, o presidente da EPE (criada no governo Lula para planejar a oferta de energia no país) informa que “Cerca de 85% dessa expansão ocorreram nos últimos dez anos”.
Ora, se a capacidade de geração de energia cresceu 75% no Brasil de 2001 até agora – e se 85% desse crescimento ocorreram nos governos Lula e Dilma (últimos dez anos), há que atualizar os pesos de 157 blecautes em 2001 e de 194 em 2002 para que possam ser comparados com os que ocorrem hoje.
Assim, 157 “apagões e apaguinhos” (by Folha) em 2001, hoje equivaleriam a 274 apagões, e 194 em 2002, hoje equivaleriam a 339,5. Assim, os 221 blecautes de 2011 representam uma queda de 20% em relação a 2001, e os 241 do ano passado uma queda de 29% em relação a 2002.
Mas isso não é o principal. A relação entre a geração de energia hoje e em 2001/2002 é muito melhor, razão pela qual houve racionamento naquele período e hoje não há, pois estamos gerando mais energia do que a demanda e não menos, como naquela época.
E como prova de que é assim, o presidente da EPE informa que, em relação ao período do racionamento de energia, hoje “Triplicou a capacidade de o Nordeste, onde as previsões são de menor volume de chuvas, importar energia de outras regiões”
Tolmasquim ainda afirma que “O Nordeste ficou menos vulnerável porque pode contar com as outras regiões”. E que isso se deu “Porque houve melhora na rede de transmissão de energia”.
Sempre segundo o presidente da EPE, “Antes de 2001, implantavam-se, em média no Brasil, 1 mil quilômetros de linhas por ano” e, “Nos últimos dez anos, média tem sido de 4,3 mil quilômetros de linhas de transmissão implantadas por ano”.
Enfim, esses são os dados corretos. Não há aumento de blecautes ou ameaça de racionamento no Brasil. A matéria da Folha que o UOL está martelando em sua home no momento em que escrevo, é falsa como uma nota de três reais.