Nem a medicina cubana cura a mitomania de Augusto Nunes
Uma das polêmicas mais surpreendentes levantadas pela autoproclamada “imprensa brasileira” – um reduzido conjunto de agências bilionárias de propaganda política e ideológica – versa sobre anúncio feito na semana passada pelo chanceler Antônio Patriota de que o Brasil deve “importar” seis mil médicos cubanos para suprir a trágica carência desses profissionais nas regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste, nas pequenas cidades, enfim, nos grotões do país.
A situação é alarmante. O índice de médicos por mil habitantes no Brasil é de 1,8. Apesar de o país ter quase 400 mil médicos e formar mais de uma dezena de milhares deles ao ano, sabe-se que 70% desse contingente atuam no Sul e no Sudeste. Ou seja: o sujeito se forma em uma universidade paga por todos os brasileiros e não devolve nada à coletividade.
Há, inclusive, um projeto de lei do senador Cristóvam Buarque para obrigar médicos recém-formados em universidades públicas a exercerem a profissão por dois anos em municípios com menos de 30 mil habitantes ou em comunidades carentes de regiões metropolitanas.
Esses setores da “imprensa” nacional, no entanto, passaram a encampar a costumeira gritaria de entidades de médicos como a Academia de Medicina de São Paulo e o Conselho Federal de Medicina contra a importação de médicos sobretudo de Cuba.
Trata-se de puro corporativismo, claro, mas, ainda assim, inexplicável.
A grande pergunta que surge, diante da oposição de entidades como o CFM à atuação de médicos estrangeiros – não só cubanos, pois o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, diz que se pretende trazer médicos também da Espanha e de Portugal –, é sobre por que essa corporação, que só enxerga o próprio umbigo, não quer médicos estrangeiros atuando onde os médicos brasileiros não têm interesse em atuar.
O cretinismo político-ideológico é o que parece estar por trás da gritaria contra uma medida que pode resolver uma tragédia social que obriga legiões de brasileiros a se deslocarem o tempo todo de regiões em que não há médicos para os grandes centros urbanos do Sul e do Sudeste.
Para torpedear uma medida que poderia melhorar a vida de muita gente – o que, evidentemente, renderia dividendos políticos ao governo que a adotasse –, a corporação médica está recebendo apoio de pistoleiros autoproclamados “jornalistas”. O blogueiro da revista Veja Augusto Nunes, por exemplo, publicou um post em que mente descaradamente sobre a medicina cubana.
Alguns trechos do post mentiroso de Nunes:
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“Hoje, quando um cubano vai a um hospital, leva um presente para o médico. É um acordo informal para que o atendam bem e rápido. Levam também desinfetante, agulha, algodão, linha para as suturas”.
“A medicina cubana é uma das mais atrasadas do mundo, constata a repórter Nathalia Watkins na edição de VEJA desta semana. A maioria dos seus profissionais se forma sem nunca ter visto um aparelho de ultrassom, sem ouvir falar em stent coronário e sem poder se atualizar pela internet”.
“Cuba gradua médicos em escala industrial com formação incompleta (…) Pelos padrões do Brasil, os cubanos não poderiam sequer realizar procedimentos banais como ressuscitação ou traqueostomia”.
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O blogueiro da Veja ainda afirma que os 6 mil médicos cubanos estão “prontos para aumentar as taxas de mortalidade” no Brasil. Isso quando se sabe que Cuba tem indicadores de saúde entre os melhores das Américas, segundo uma entidade “comunista” chamada Organização Mundial de Saúde (OMS).
Essa polêmica levantada pela mídia oposicionista é literalmente criminosa, pois pretende torpedear uma medida que pode revolucionar a saúde brasileira atacando um dos pontos mais responsáveis pelo ainda baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do país, que, apesar de ter subido muito na década passada, ainda é incompatível com um país rico como este. E tudo visando impedir o que Nunes, Veja e o resto da mídia tucano-golpista não querem, que o Brasil dê um salto qualitativo na saúde.
Recorro, então, ao insuspeito jornal O Estado de São Paulo, que reproduziu matéria da sucursal da rede de tevê pública britânica BBC no Brasil, a qual afirma que “Saúde e educação são os principais êxitos do regime cubano”. Vale ler, logo abaixo, o trecho da reportagem do veículo britânico que versa sobre o sistema de saúde pública de Cuba.
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O ESTADO DE SÃO PAULO
Saúde e educação são os principais êxitos do regime cubano
Estado garante educação até o nível superior e fornece amplo sistema da saúde.
01 de janeiro de 2009 | 5h 45
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O regime de Fidel Castro desenvolveu um gigantesco sistema nacional de cobertura a todos os cidadãos, sem exceções de nenhum tipo.
O sistema de saúde de Cuba é composto por quatro níveis: o médico de família, que costuma viver a poucas quadras de seus pacientes; o clínico geral de bairro; os hospitais de zona e os institutos especializados.
Todo atendimento é gratuito, com exceção dos medicamentos, que são subsidiados pelo Estado.
Nenhuma doença fica de fora do sistema de saúde cubano, que oferece tratamentos a problemas que vão desde simples dores de cabeça a enfermidades relacionadas à Aids, passando por assistência odontológica e até mesmo cirurgias plásticas.
O resultado deste sistema de saúde tão amplo pode ser observado quando se comparam as estatísticas das Nações Unidas sobre esperança de vida. Cuba ocupa o terceiro lugar em todo continente americano, com expectativa de vida de 76 anos para os homens e 80 para mulheres.
Já em relação à mortalidade infantil, as estatísticas da ONU apontam que o índice de Cuba é de cinco mortes a cada 1.000 nascimentos, o que situa o país em um nível só comparável ao do Canadá no continente americano.
(…)
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Como se vê, nem a excelência da medicina cubana seria capaz de curar a enfermidade que não acomete apenas o blogueiro da Veja em questão, mas seus patrões, o resto da mídia tucano-golpista e as corporações de médicos que, no mais das vezes, formam-se ao custo dos impostos dos brasileiros e, uma vez formados, dão a esse povo uma banana. A mitomania do tal blogueiro e seus congêneres parece incurável.