Por que o Datafolha fez pesquisa sobre o mensalão só em SP?
No âmbito da pressão sobre Celso de Mello para ignorar a lei e negar os embargos infringentes aos réus do julgamento do mensalão, o Datafolha divulgou, no dia D da decisão do ministro, pesquisa confusa e obscura que afirma que 55% dos paulistanos querem o fim do julgamento, 37% querem que prossiga e 79% querem encarceramento imediato dos réus.
A contradição soa inexplicável. Não se entende como 42% dos entrevistados pelo Datafolha (diferença entre os 37% que quererem “novo julgamento” e os 79% que querem encarceramento imediato dos réus) podem querer que o julgamento prossiga e, ao mesmo tempo, que os réus sejam encarcerados antes de a sentença final ser proferida.
A Folha sugeriu, indiretamente, que essa contradição se deve a “confusão jurídica” que estaria desnorteando a opinião pública. Abaixo, a “explicação” do jornal:
“Como pode a grande maioria dos paulistanos defender a prisão imediata aos condenados do mensalão se ao mesmo tempo boa parte deles prefere voto favorável do ministro Celso de Mello pela reabertura dos julgamentos? O aparente paradoxo reflete, na verdade, o emaranhado jurídico que, se nem entre os ministros do STF encontra fácil solução, gera muitas dúvidas também na população”.
Como paulistano, este blogueiro sente-se ofendido. Não somos tão estúpidos, os habitantes da capital paulista…
Mas essa não é a maior “peculiaridade” da pesquisa feita com o óbvio objetivo de pressionar o ministro do STF cuja decisão ainda não era conhecida quando este texto foi escrito. Independentemente dessa decisão, o que se pretende, aqui, é desnudar o que parece uma tremenda trapaça visando manipular um juiz da mais alta Corte de Justiça do país.
A pergunta que não quer calar é por que a pesquisa em questão foi feita apenas na cidade conhecida por ser a mais permeável do país ao setor da imprensa nacional que mais se opõe ao Partido dos Trabalhadores, até por sediar o primeiro e o terceiro maiores jornais brasileiros (Folha de São Paulo e O Estado de São Paulo), justamente os mais antipetistas.
A pesquisa estaria sugerindo que a opinião dos paulistanos é mais importante do que a dos habitantes das outras mais de cinco mil cidades brasileiras ou será que, feita uma pesquisa em âmbito nacional, só em São Paulo foi possível obter o resultado desejado?
Seja como for, a publicação dessa pesquisa pode ter sido a gota d’água a impedir que o ministro Celso de Mello ceda às pressões da “imprensa”. Mesmo que o resto do Brasil acompanhasse a opinião dos paulistanos – se é que é essa mesma, pois surge uma dúvida razoável nas razões supracitadas –, se ele votar contra os embargos passará recibo de que cedeu à gritaria da multidão.
Ainda que essa “grande imprensa” tenha adotado a teoria de que um magistrado deve dispensar “tecnicalidades” – ou seja, a Lei – e atender ao desejo da massa leiga, ainda que Celso de Mello possa “sair bem na foto”, para a sua biografia jurídica será um desastre. Qualquer militante do bom Direito sabe que ceder à gritaria desmoraliza um juiz.
*
PS: caso Celso de Mello ceda à gritaria midiática e paulistana, talvez seja melhor fechar o STF e delegar ao Datafolha ou ao Ibope as decisões finais da “justiça” brasileira.