Eleitor evangélico impulsiona ascensão de Bolsonaro

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A candidatura presidencial do deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) pode se tornar uma “corredeira que tudo arrasta”, de acordo com o bispo Robson Rodovalho, ex-deputado pelo Distrito Federal e líder da Igreja Sara Nossa Terra, denominação pentecostal. Rodovalho também preside o Conselho de Pastores do Brasil (Concepab).

Segundo Rodovalho, Bolsonaro, que é católico, casado com evangélica, cresce de baixo para cima, turbinado “pela indignação na sociedade como um todo, que procura o radical de forma reativa”. Para o ex-deputado, “esta onda pode atropelar. A eleição está pautada pela emoção, não pela razão. Há um sentimento de não se confiar em mais nada, tudo perdeu a razão de ser. Institucionalmente nos perdemos”.

O bispo ainda está longe de aderir a uma candidatura radical, espelhando o comportamento das cúpulas das igrejas evangélicas no Brasil. Nesta segunda-feira, por exemplo, Rodovalho e lideranças como o pastor José Wellington Bezerra, presidente da Assembleia de Deus Ministério de Belém, celebram os 500 anos da reforma de Martinho Lutero na Câmara Municipal em São Paulo, em uma cerimônia que deve contar com a presença do governador paulista Geraldo Alckmin e do prefeito paulistano João Dória Júnior, ambos presidenciáveis do PSDB.

A Assembleia de Deus é uma estrutura descentralizada e diversos segmentos da Igreja têm se aproximado este ano do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles (PSD), citado como presidenciável por seus correligionários.

Nos últimos meses o ministro já esteve em convenções da Assembleia em Belém (PA) e Juiz de Fora (MG) e enviou um vídeo pedindo orações para a melhora da economia à Assembleia de Deus Ministério de Madureira.

Embora filiado a uma sigla controlada por evangélicos, o PSC, Bolsonaro deve migrar para o PEN, em processo de mudança de nome para Patriotas. Seus principais apoiadores no meio são políticos com muita exposição em redes sociais e atuação barulhenta no Congresso, mas que não são líderes religiosos.

De acordo com pesquisa do Datafolha realizada no mês passado, a preferência por Bolsonaro é maior entre evangélicos, ainda que não consiga se colocar em vantagem. O político consegue de 21% a 24% no segmento, conforme o cenário. Os pre-candidatos tucanos oscilam em torno de 10% e Marina Silva (Rede) varia entre 17% e 26%. Luiz Inácio Lula da Silva (PT) consegue os maiores percentuais, entre 29% e 30%, mas fica abaixo de sua média entre o eleitorado geral.

A prioridade das lideranças evangélicas é manter o crescimento da representação na Câmara dos Deputados. Atualmente, segundo cálculo de Rodovalho, existem 86 deputados protestantes. ” O natural é chegar a um total que seja espelho da participação do segmento evangélico na população brasileira”, comentou.

De acordo com dados do IBGE de 2010, os protestantes são 22,2% dos brasileiros. Na Câmara, seria o equivalente a 113 deputados. A dissociação entre a cúpula e a base evangélica é apontada por alguns deputados bolsonaristas, como Pastor Eurico (PHS-PE), que é testemunha de defesa de Bolsonaro em um processo que o parlamentar enfrenta, movido pela deputado Maria do Rosario (PT-RS) e pertence à Assembleia de Deus.

“Lamentavelmente algumas lideranças se corromperam, inclusive no segmento evangélico, e a prova é a votação da segunda denúncia contra Temer. A base não queria que ela fosse rejeitada”, afirma o deputado. Bolsonaro votou pelo prosseguimento da investigação contra o presidente da República pedida pelo Ministério Público, mas a maior parte da bancada evangélica ficou do lado do Planalto.

Pastor Eurico diz que a base evangélica pode surpreender na eleição. “Só existem hoje dois candidatos com lastro popular: Lula de um lado e Bolsonaro do outro”, afirmou. O maior problema de Bolsonaro, em sua visão, é a imagem negativa criada em relação ao regime militar, do qual o presidenciável é defensor. “Criou-se um estigma”, afirmou.