Setores do PSDB acusam Doria de fraudar prévias do partido

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Doria está tratorando o PSDB de novo, mas a reação no partido é coerente com o processo de autofagia tucana em curso desde que Aécio, Alckmin e Serra foram denunciados pela Lava Jato após vomitarem moralismo contra o PT. Doria está para se converter em coveiro do PSDB.

Leia matéria da Folha que mostra que os próprios tucanos estão acusando Doria de fraudar as prévias do partido.

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FOLHA DE SÃO PAULO

19 de março de 2018

Adversários do prefeito João Doria nas prévias para a escolha do candidato do PSDB a governador de São Paulo questionam a lisura do processo de votação e apontam falhas que poderiam favorecer fraudes.

Entre os problemas citados por lideranças do partido e militantes ouvidos pela Folha estão a fiscalização frágil nos locais de votação, feita neste domingo (18) com cédulas de papel, e inconsistências no cadastro de membros aptos a participar da eleição interna.

Em São Bernardo do Campo, um tumulto envolvendo o concorrente Luiz Felipe d’Avila, que ameaçou pedir a impugnação (anulação) das prévias por suspeita de fraude, acabou na delegacia. O cientista político foi ao local de votação com dois seguranças, pelo menos um deles armado.

O secretário estadual Floriano Pesaro, um dos concorrentes nas prévias

O secretário estadual Floriano Pesaro, um dos concorrentes nas prévias – Bruno Poletti – 6.abr.2017/Folhapress

“Se eu não confiasse [na lisura] eu não estaria participando, mas nós vamos ter que avaliar depois do processo de votação”, disse o secretário Floriano Pesaro, um dos concorrentes, após votar pela manhã na sede estadual do partido, em Moema (zona sul).

Ele afirmou ter recebido relatos de fiscais de sua candidatura —cada  postulante tem representantes nos locais de votação para acompanhar a votação— sobre problemas. “Em alguns lugares há suspeitas de que as urnas tenham sido violadas antes da abertura”, disse.

Pesaro defendia que a eleição fosse feita eletronicamente, para dar mais segurança e agilidade.

Os candidatos podem reunir as denúncias dos fiscais e levá-las à direção do partido para questionar eventuais irregularidades. Dependendo da gravidade delas, os postulantes podem até pedir a impugnação das prévias. O diretório estadual disse que não iria comentar as suspeitas levantadas.

Outro concorrente, o suplente de senador José Aníbal, já havia criticado a organização e apontado pressões de aliados de Doria para que filiados votassem nele, abordando-os “com promessas ou com ameaças”.

​No posto de votação da Brasilândia (zona norte da capital), a Folha presenciou uma conversa entre dois militantes que insinuou a existência de pagamento para o transporte de membros que votariam no prefeito da capital.

Após levar de carro ao local uma mulher que disse ter votado em Doria, a militante Kátia Teixeira Apolinário disse rindo para Oséias Thomas dos Santos: “Agora o Doria tá devendo minha gasolina, hein?”.

Ela era fiscal da candidatura de Luiz Felipe d’Avila e ele estava representando a do prefeito.

Depois, questionados, ambos disseram ao mesmo tempo que “isso foi uma brincadeira”.

“É uma brincadeira à parte nossa”, afirmou Oséias. “Se tivesse [pagamento] eu ia querer também. Não [tem remuneração para fiscal], isso aqui são todos filiados.”

 

FAIXAS

Segundo denúncia de um membro do PSDB, que preferiu não se identificar, eleitores foram acompanhados em algumas urnas e houve discursos nos locais de votação.

As possíveis fraudes também consistem no fato de que as cédulas eleitorais têm uma quantidade definida, porém algumas foram usadas para fazer apuração da quantidade de votos na prévia. Houve também funcionários da Prefeitura de SP usando crachá na hora da votação e uma suposta falta de padronização na apuração dos votos, com pessoas mandando informações com número de votantes e outras com porcentagem.

Na Brasilândia, onde 600 integrantes do partido estavam aptos a votar, segundo a relação na mesa, até o início da tarde 26 pessoas que foram ao local apresentando-se como filiadas não tinham o nome na lista.

A orientação, segundo os mesários de duas seções ouvidos pela reportagem, é que essas pessoas não poderiam votar. No entanto, fiscais diziam existir o risco de que mesários em outros locais de votação fizessem vista grossa e permitissem a participação.

Do lado de fora da garagem onde ocorria o pleito na Brasilândia, uma faixa com a logomarca do PSDB estampava: “João Doria saúda os militantes da Brasilândia. João Doria governador”.

Outra dizia: “Diretório zonal Brasilândia apoia João Doria governador”. Presidente do zonal e da mesa de votação, Emilson Almeida Silva afirmou que os cartazes já estavam pregados antes da abertura do pleito, às 9h.

Na sede estadual da legenda, que também funcionou como seção eleitoral, uma faixa de apoio do zonal Indianápolis a Doria, posta voltada para a rua, foi removida pela manhã após queixas de representantes dos outros candidatos.

Fiscais do prefeito também foram questionados em locais de votação visitados pela reportagem por usarem um crachá que, na avaliação dos concorrentes, dificultava a identificação da pessoa. O entendimento foi o de que o uso estava em desacordo com as regras.

Além disso, o nome de Doria escrito em letras grandes foi visto como propaganda irregular. Nas credenciais das outras candidaturas, o espaço era preenchido à mão, com o nome do fiscal e do postulante.

Um comunicado da sigla determinava que a identificação deveria estar visível e respeitar o espaço destinado para essa finalidade no modelo de crachá enviado por email.

A campanha de João Doria, em nota, afirmou que ele “refuta as críticas e reafirma sua confiança na capacidade da direção do PSDB estadual de organizar de forma isonômica e democrática as prévias”.

ARMA

Em São Bernardo do Campo, onde um fiscal de sua candidatura teve a presença impedida na seção eleitoral, Luiz Felipe d’Avila disse que pediria a impugnação das prévias por suspeita de fraude. A assessoria dele não informou que problema teria ocorrido.

 

Segundo o presidente da sessão, Flávio Rodrigues dos Santos, o fiscal que se apresentou como representante do cientista político, Caíque Mafra, não era a mesma pessoa que havia sido informada previamente. Pela lista que consta no site do PSDB, quem deveria estar no local seria Marcelo Peres.

“Ele [Caíque] queria filmar, ficou lá o tempo todo só arrumando confusão, e foi convidado a se retirar”, disse Santos, que é secretário-geral da legenda na cidade.

Segundo ele, à tarde, após a saída dos prefeitos Orlando Morando, de São Bernardo, e Doria, da capital, d’Avila chegou com Peres e os seguranças.

“Ele veio para cima da gente de uma maneira truculenta. Os filiados ficaram constrangidos, apavorados”, disse o secretário-geral. “Isso é uma coisa desagradável, parece até intimidação. Não cabe esse comportamento no PSDB”, afirmou o presidente local da sigla, Fernando Leça.

O pré-candidato disse à Folha que deixou o lugar porque começou a haver um bate-boca, mas não deu detalhes.

Santos afirmou que Peres continuou no local com um dos vigias, que estava armado. Diante do clima, o secretário chamou a PM. De acordo com ele, a polícia levou o segurança para prestar esclarecimentos porque ele estava estava sem documentos originais.

O secretário-geral do partido na cidade também teve que ir para a delegacia. No fim da tarde, segundo ele, o segurança estava aguardando um representante da empresa para a qual trabalha levar a documentação da arma, que ele dizia ser legal.

A assessoria de d’Avila afirmou que o segurança estava atuando dentro da lei e que não foi cometida nenhuma irregularidade. Disse ainda que os fiscais são habilitados pelo partido para acompanhar a votação em qualquer zona eleitoral e que não há fiscal específico para cada seção.