É melhor o agronegócio jair se acostumando a ser pobre!

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Em viagem recente aos EUA, o candidato de extrema-direita à Presidência, Jair Bolsonaro, bateu continência para a bandeira norte-americana e, desde então, vem atacando inimigos reais e adversários comerciais dos Estados Unidos. Nesse contexto, vale ler análise bem-humorada do doutor em sociologia pela Universidade de Oxford Celso da Rocha Barros que mostra como a burrice do pretenso eleitor endinheirado desse energúmeno pode lhe custar caro.

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Bolsonaro vai quebrar o agronegócio?

Celso da Rocha Barros, na Folha

Se ele for eleito e brigar com a China para puxar o saco de Trump, acabou, amigos

30.abr.2018 às 2h00

Em seu esforço para tornar-se o macaco Twelves de Donald Trump, Jair Bolsonaro resolveu xingar os chineses.

Reclamou do aumento da participação chinesa na economia brasileira, da venda de estatais brasileiras para capital chinês, e, com o intuito evidente de provocar Pequim, fez um tour pela Ásia em que visitou Taiwan, mas não a China.

A China reivindica Taiwan como parte de seu território, e Taiwan já disputou com Pequim o direito de ser reconhecida internacionalmente como governo legítimo do território chinês.

Até aí, campanha eleitoral é sempre uma chance para os candidatos chamarem de inteligência a burrice de seus eleitores, e os bolsonaristas acreditam nessas palhaçadas de Trump, Olavo de Carvalho, enfim.

O deputado Jair Bolsonaro, com chapéu típico oriental, é recebido por apoiadores em Hamamatsu, no Japão, em seu tour pela Ásia

O problema é o seguinte: uma parte importante desse mesmo eleitorado bolsonarista não pode se dar ao luxo de brigar com a China.

Olhem as pesquisas: Bolsonaro se sai especialmente bem em áreas em que o agronegócio é forte. Essas mesmas áreas votaram em Aécio Neves em 2014 e têm sido sistematicamente antipetistas nas últimas eleições.

Há algum sentido nesse voto. Se você mora em uma fazenda longe de um centro urbano (e, portanto, de uma delegacia), é bastante natural que apoie candidatos que defendem o direito de portar armas.

O interior do Brasil é mais conservador, culturalmente, do que os grandes centros urbanos. É natural que o discurso agressivo contra os sem-terra tenha boa acolhida junto aos proprietários rurais.

Mas o anticomunismo do agronegócio brasileiro tem um limite claro: a China comunista é um de seus principais fregueses. Grande parte da prosperidade recente da agropecuária brasileira se deve ao fato de que os chineses, sob a liderança de Deng Xiaoping, abraçaram o mercado, modernizaram a economia, e adquiriram novos hábitos, como comer.

Mais de um bilhão de seres humanos apareceu no mercado mundial querendo comprar comida. E nós, no Brasil, temos bastante comida para vender.

Isto é: o agronegócio brasileiro pode se divertir falando mal de comunista pobre —Cuba, Coreia do Norte, Venezuela— mas não pode sonhar em brigar com os comunistas que estão ficando ricos —os chineses.

Até porque, em termos econômicos, a China não é mais comunista faz tempo: o comunismo só sobrevive no sistema político autoritário. Mas desde quando os bolsonaristas são contra o autoritarismo?

Se Bolsonaro for eleito presidente do Brasil e resolver brigar com a China para puxar o saco de Trump, a China vai retaliar o Brasil aumentando as tarifas sobre os produtos brasileiros. E aí acabou, amigos.

Há vários países no mundo que vendem o que nós vendemos —inclusive aqui na vizinhança. Mas só China e Índia têm mais de um bilhão de consumidores.

A guerra comercial de Trump contra a China já é estúpida, ruim para a economia americana. Mas os Estados Unidos ainda têm chances razoáveis de sobreviver a este surto de estupidez. Nós não teríamos.

Se a China resolver retaliar o Brasil comercialmente, Bolsonaro e seus filhos vão ter que começar a produzir nióbio por cada uma de suas reentrâncias para começar a compensar o efeito dessa catástrofe na economia brasileira. E aí é melhor o pessoal do agronegócio Jair se acostumando a ser pobre.

Celso Rocha de Barros
Doutor em sociologia pela Universidade de Oxford.