Nota sobre delação de Palocci relembra perseguição de Stálin contra Trótsky
Hoje (27) o jornal O Globo traz supostas acusações do ex-ministro Antonio Palocci contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A resposta da assessoria de imprensa do ex-presidente Lula reforça um fato: de acordo com a lei brasileira, delações não são provas.
Ainda mais quando o delator está preso há mais de um ano, desesperado para sair da cadeia (Moro mandou prender Palocci em setembro de 2016).
E a lei assim determina porque ao longa da história delações forçadas foram recurso recorrente usado por regimes autoritários para forçar depoimentos de presos contra inimigos políticos do poder.
O texto da nota abaixo é inspirado — quase um plágio — do livro do escritor cubano Leonardo Padura “O Homem que Amava os Cachorros” (Editora Boitempo), que trata da perseguição de Joseph Stálin contra Leon Trótsky nos chamados “Processos de Moscou”, ocorridos na década de 1930.
Nota sobre delação Palocci:
“Delações autoincriminatórias e sem provas de réus presos por mais de um ano não podem ter qualquer valor probatório. São apenas tentativas desesperadas de sair da prisão.”
Trecho da página 217 do livro “O Homem que Amava os Cahcorros”:
“Liev Davidovitch comprovou que o folheto conseguia demonstrar, de forma incontestável, as incongruências e falsidades do Ministério Público moscovita, enquanto avisava o mundo de que um julgamento em que não se apresentavam provas, baseado em confissões autoincriminatórias de réus detidos durante mais de um ano não podia ter qualquer valor probatório.”
Julgamentos sem provas e baseados em delatores é o que se tem visto contra Lula em Curitiba. Liev Davidovitch é o nome de batismo de Leon Trótsky. Os processos de Moscou foram farsas judiciais conduzidas por Stálin, na quais presos confessavam crimes e acusavam Tróstky de ser inimigo da União Soviética.
O principal objetivo era eliminar inimigos políticos de Stálin e manchar a imagem de Trótsky. Antonio Palocci, ex-trostkista, conhece bem a história de como delatores foram usados pelo Ministério Público da antiga União Soviética para contar as histórias mais fantasiosas contra Tróstky. Sabe também que a história, mais dia menos dia, reparou e revelou a farsa daquele tribunal.
Lula é um grande fã do escritor Leonardo Padura, tanto de “O Homem que Amava os Cachorros” quanto de seu livro “Hereges”. Lula e Padura se encontraram algumas vezes em São Paulo para conversar sobre política e literatura.