Sem equipes próprias Lava-Jato paulista não decola
Sem equipes com dedicação exclusiva para investigar e julgar os casos de corrupção, a força-tarefa da Lava-Jato em São Paulo não conseguiu, em oito meses, repetir o desempenho dos grupos criados no Paraná e no Rio.
Os investigadores paulistas apresentaram apenas uma denúncia e, no último dia 6, fizeram uma operação para prender dois investigados.
O ex-diretor da Dersa Paulo Vieira de Souza, conhecido como Paulo Preto, foi para a cadeia acusado de coagir uma testemunha.
Diferente do que acontece no Paraná e no Rio, onde os juízes federais Sergio Moro e Marcelo Bretas são os únicos na condução dos processos, em São Paulo não há juiz e nem procuradores com atribuição exclusiva para apurar os 23 inquéritos que correm no estado.
Na Polícia Federal (PF), há apenas um delegado trabalhando só nesses inquéritos.
Em fevereiro do ano passado, quando a Lava-Jato do Rio completou oito meses, já tinham sido cumpridos 73 mandados de busca e apreensão, 18 conduções coercitivas e 21 prisões. A lista de presos incluía o ex-governador Sérgio Cabral, a ex-primeira dama Adriana Ancelmo e o empresário Eike Batista. E Cabral já era alvo de quatro denúncias.
No Paraná, berço da operação, a Lava-Jato fez oito meses em novembro de 2014, durante a sétima fase, quando foram presos os donos das maiores empreiteiras do país e já se contabilizavam 31 prisões preventivas, 27 temporárias e 35 conduções coercitivas.
Nos bastidores, a falta de estrutura é apontada como o maior entrave para a Lava-Jato paulista decolar. No Ministério Público Federal (MPF), o grupo começou com apenas quatro procuradores — em fevereiro o time aumentou para 11.
Na prática, eles acumulam inquéritos da operação com casos que já investigavam anteriormente. No Paraná, o MPF separou um prédio para a atuação concentrada da força-tarefa, onde trabalham 12 procuradores. No Rio, os trabalhos começaram com três procuradores, e hoje são 11.
Segundo a força-tarefa de São Paulo, a falta de pessoal “impediu a plena fluidez das investigações”.
Já na PF, enquanto um delegado de São Paulo se dedica a cerca de 15 inquéritos, Curitiba tem quatro delegados exclusivos e o Rio, três.
Em nota, a Superintendência da PF afirmou que não se pode comparar as investigações dos outros estados: “Cada notícia de crime se refere a fatos específicos e vem embasada com elementos distintos, que levam a resultados distintos”.
Entre os casos que foram encaminhados à Justiça paulista, após a delação da Odebrecht, estão pedidos de investigação contra políticos, como os deputados tucanos Fernando Capez e José Aníbal, além de conselheiros do Tribunal de Contas estadual(TCE). Estão sob suspeita construção de linhas de metrô, além de repasses de propina nas obras do Rodoanel a Paulo Preto, único atingido pela força-tarefa paulista até agora.
Ele foi denunciado pelo MPF no mês passado, acusado de desviar R$ 7,7 milhões, entre 2009 e 2011, em desapropriações nas obras do trecho Sul do Rodoanel. A peça é semelhante às duas denúncias que já haviam sido oferecidas contra Souza pelo Ministério Público estadual em 2015 e 2016.
Embora seja suspeito de ter R$ 113 milhões em contas no exterior, tenha sido acusado de receber dinheiro vivo do doleiro e delator Adir Assad, e tenha sido citado por executivos da Odebrecht como responsável por montar um cartel em obras da Dersa, Paulo Preto foi preso por coagir uma testemunha.
Delatores da Odebrecht disseram que o ex-diretor da Dersa recebeu pagamentos em benefício do senador José Serra — o tucano responde a essa acusação no âmbito do Supremo Tribunal Federal. Ele nega. A defesa de Paulo Preto também nega as acusações.
Com informações do O Globo