A salada política de Bolsonaro em SP
Instalado em um conjunto apertado de três salas conjugadas na zona norte da capital, o diretório paulista do PSL conta com uma verba de R$ 15 mil mensais do Fundo Partidário para pagar a manutenção da sigla.
Sem presença política no maior colégio eleitoral brasileiro e quase nenhum dinheiro em caixa, a pequena legenda do deputado e pré-candidato à Presidência Jair Bolsonaro (RJ) encontrou em um mosaico de grupos de direita a rede de apoio para tentar estruturar o partido nas 645 cidades paulistas.
São núcleos de motociclistas, atiradores, maçons, policiais militares e grupos de direita que ajudaram a organizar as manifestações pelo impeachment da presidente cassada Dilma Rousseff, como o “Avança Brasil” e “Nas Ruas”, que formam a base operacional do PSL.
Os números das últimas pesquisas de intenção de voto, que mostram Bolsonaro empatado com o ex-governador tucano Geraldo Alckmin na primeira colocação em São Paulo (com 14% no cenário sem Luiz Inácio Lula da Silva), facilitam a missão.
Essas correntes têm em comum forte atuação nas redes sociais, mas segundo o presidente do PSL paulista, deputado Major Olímpio, não tem sido fácil administrar as pretensões e bandeiras dos “bolsonaristas”.
“Quando assumi a presidência do PSL em São Paulo, em abril, peguei terra arrasada. Para organizar o partido, tenho de administrar muita encrenca com ativistas de toda ordem, que nem sempre estão irmanados entre si. Sou o algodão entre cristais”, disse o dirigente.
O embate interno mais acalorado entre os influenciadores digitais e políticos começou no último dia 7 de maio após um jantar promovido pela jornalista Joice Hasselmann, pré-candidata do PSL ao Senado, em um restaurante em São Paulo.
Reunido no mesmo local com aliados, o ex-prefeito João Doria, pré-candidato a governador pelo PSDB, fez uma saudação à jornalista, que o elogiou publicamente e disse que o apoiaria. Os núcleos político e policial do PSL paulista consideraram a manifestação de Joice imprópria. Abriu-se um debate que por pouco não terminou em racha.
Um dos temas abordados foi a questão da intervenção militar. Durante a greve dos caminhoneiros, o nome do pré-candidato surgiu em grupos de WhatsApp de grevistas com mensagens de apoio à volta dos militares ao poder. No final da Marcha para Jesus, na quinta-feira, o próprio Bolsonaro fez questão de marcar distância do grupo ao dizer que nunca encampou essa proposta.
“A gente tem claramente a percepção de que a esquerda está começando a fazer um movimento de ativistas virtuais para fazer desvirtuar essa questão”, disse Carla Zambelli, líder do movimento NasRuas. “O Jair nunca defendeu a intervenção. O que ele defende é o regime militar e seus valores”, interrompeu o influenciador digital Gil Diniz, que se apresenta nas redes como Carteiro Reaça.
Ninguém no grupo acredita que o regime militar brasileiro tenha recorrido a torturas. “Tortura? Qual tortura?”, perguntou o coronel da PM Reinaldo Vieira. “Se houve toda essa tortura e repressão durante o governo militar, como o Aloysio Nunes e a Dilma Rousseff chegaram ao poder?”, disse a empresária Letícia Catel.
Foi ela quem abordou outro tema sensível ao pré-candidato do PSL: a relação com o movimento feminista. Em uma palestra em 2017, Bolsonaro afirmou que teve cinco filhos, sendo quatro homens. “Na quinta dei uma fraquejada e veio uma mulher.” O deputado também foi denunciado no Supremo Tribunal Federal pelo crime de racismo contra quilombolas, indígenas, refugiados, mulheres e LGBTs.
“Não foi exatamente isso que ele quis dizer. Tiram as frases dele do contexto para chamá-lo de misógino. É a esquerda que vitimiza as mulheres”, disse Letícia. O youtuber Clovis Jr, conhecido nas redes como Smith Reis, se antecipou ao próximo tópico. “Sou gay e posso falar sobre essa questão LGBT.” Ele culpa a mídia e acredita que as falas de Bolsonaro são constantemente editadas para prejudicá-lo.
Os ativistas falaram sobre o “preconceito” que sentem por defender Bolsonaro. A dona de casa Clau de Luca disse ter ouvido relatos de eleitores de Bolsonaro que não assumem publicamente o seu voto porque a mídia “demoniza” o presidenciável do PSL.
“Vejam o que aconteceu com (Donald) Trump (presidente dos EUA). Aqui vai ser a mesma coisa”, afirmou Clovis Jr.
Com informações do Estadão