Ciro Gomes diverge de sua vice sobre aborto e armas
Ciro Gomes se irritou ao ser perguntado sobre divergência com sua candidata a vice, Kátia Abreu. Ela é contra o aborto e favorável a armar a população. O candidato do PDT à Presidência, Ciro Gomes, afirmou, nesta quarta-feira (8) que tem posições diferentes de sua vice, Kátia Abreu, que afirmou à Folha ser a favor da facilitação do porte de armas e contra o aborto.
“São posições diferentes, claro. Ora, mas você imagina que o vice pensa igual a mim? Qual o vice pensa igual ao titular na história do Brasil?”, disse Ciro, visivelmente irritado.
Segundo o candidato, no entanto, a Folha“fraudou a manchete como costuma fazer” e “só quer fazer intriga”. Ele se negou ainda a responder qual posição deverá prevalecer na chapa do PDT sobre os dois temas.
Em entrevista ao jornal, Kátia Abreu disse não achar “justo alguém ficar armado até os dentes e a população totalmente abandonada”. “Eu sou [favorável à facilitação do porte de armas], não para ficar andando na rua, nos bares, restaurantes, trabalho. Mas se a pessoa se sentir segura”, afirmou a senadora.
A vice na chapa de Ciro disse ainda que “todas as mulheres e homens do Brasil são contra o aborto” e fez questão de ressaltar ter votado contra a descriminalização do aborto em caso de anencefalia, que é autorizado pelo Supremo Tribunal Federal —estupro e caso de risco de vida da mãe são as outras duas situações em que o aborto é permitido no país.
Questionado se a senadora terá um papel de “vice decorativa” —termo usado pelo então vice Michel Temer em carta a Dilma Rousseff em 2015—, Ciro disse que Kátia “vai representar o que ela é: uma mulher de grande valor”.
“[Ela] ficou viúva aos 25 anos de idade, criou os filhos com maior dificuldade e sacrifício, virou uma líder do setor agrícola e pecuário do Brasil, foi a primeira mulher presidente do sindicato rural da história do Brasil e tem tido um comportamento no Congresso Nacional absolutamente respeitável”.
PT E PC DO B
Aos jornalistas, após um evento com presidenciáveis organizado pelo BTG Pactual, em São Paulo, Ciro também disse que o povo “está sendo enganado flagrantemente” pelo anúncio da chapa de Lula com Fernando Haddad como vice —e a participação de Manuela D’Ávila.
“Isso é um convite à nação vir dançar na beira do abismo”, disse. “Há uma imensa gratidão, justa, merecida, de uma fração importante do povo brasileiro com o Lula, mas isso aí é suficiente para você deixar todas as regras de lado e colocar uma dinâmica em que hoje é vice mas não é vice, vai ser vice, depois que vai ser vice não vai ser mais vice?”
A composição também foi criticada depois pelo candidato do MDB, Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central em governos petistas.
“É complicado. Tem um candidato que não é candidato, e vai ter um outro que não é candidato, mas vai ser candidato, e uma outra que não é candidata a nada mas vai ser candidata a vice”, brincou o ex-ministro da Fazenda de Temer.
Ciro evitou se posicionar sobre uma possível união com o PT no segundo turno, mas disse que o PT, assim como o PSDB, fez “muito mal ao país” e é preciso criar uma “corrente nova”.
“Eu acho que o Brasil não precisa de um presidente por procuração —aliás, não aguenta mais. É preciso construir uma liderança para tirar o país desse momento grave de crise”, declarou.
CENTRÃO
Pouco depois de o candidato tucano ao Planalto, Geraldo Alckmin, dizer no mesmo evento que “todo mundo” tentou fazer aliança com o centrão mas não conseguiu, Ciro disse que jamais passou pela sua cabeça que poderia ter o apoio de DEM, PP, PR, PRB e SD.
“Eu aceitei conversar com eles, estabelecemos uma metodologia e não deu certo. Está tudo certo, boa sorte. Que eles vão lá para o caminho de sempre”, afirmou, acrescentando que seria uma guinada do centrão “sair do situacionismo em que estão” para apoiá-lo.
Ciro começou sua fala aos clientes do BTG Pactual pedindo para que os presentes deixassem “as ideias fixas lá fora” e abrissem suas cabeças para o que ele tinha a dizer. Disse ainda ser um “velho amigo” de André Esteves, um dos donos do BTG Pactual, que foi preso na Lava Jato em 2015 e teve a prisão domiciliar revogada em 2016.
“Quem está aqui não é nenhum aloprado, nenhum infantil esquerdista. Quem está aqui é um velho experimentado. O Ceará se industrializou com a minha iniciativa”, disse Ciro.
MEIRELLES
Depois de Alckmin, Alvaro Dias (Podemos) e Ciro, foi a vez de Meirelles falar aos clientes do BTG. Sempre cobrado pela discrição com que vem tratando o nome de Michel Temer em sua campanha pelo MDB, o ex-ministro definiu o legado do atual presidente como “o governo que tirou o Brasil da maior recessão da história”
Ao ser questionado pela Folha por que não pronuncia o nome de Temer em seus discursos, Meirelles respondeu que apenas evita armadilhas.
“Trabalhei oito anos no governo Lula e dois no Temer. Há pouco tempo, uma jornalista me perguntou se eu ia ser temerista ou lulista. Eu vou ser meirellista. Um candidato a presidente tem de ter compromissos e posições pessoais.”
Sobre o baixo nível de intenção de votos que vem apontando nas pesquisas, o emedebista afirmou que não está preocupado. “Onde as pessoas me conhecem, as intenções de voto sobem. Quando conhecem o que eu fiz no Banco Central e no Ministério da Fazenda, o efeito disso para o povo brasileiro é que a intenção de voto sobe”, afirmou.
Ao ser questionado pela passagem de sua carreira no Original, banco do grupo J&F, dos irmãos Wesley e Joesley Batista envolvidos na Lava Jato, Meirelles citou outras instituições pelas quais também passou. “Tenho uma carreira no setor privado diversificada. É uma carreira inquestionável da qual me orgulho.”
Com informações da Folha de S. Paulo.