Congresso mais conservador pós-redemocratização tenta se reeleger

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A rejeição à classe política não intimidou os parlamentares a concorrerem a um novo mandato. Na disputa deste ano, três em cada quatro deputados e senadores são candidatos à reeleição, diminuindo a chance de uma renovação no Poder Legislativo.

Segundo levantamento feito pela Folha com base nos registros de candidaturas na Justiça Eleitoral, 77,4% dos legisladores federais estão tentando uma recondução, percentual que chega a 80% se for considerada apenas a Câmara.

Além disso, a decisão de um quarto dos parlamentares de abrir mão da reeleição não significa que eles deixarão a vida pública. A maioria deles disputará outros mandatos, como de governador e presidente, reduzindo para 7% o índice de oxigenação, ou seja, de parlamentares que não concorrerão a nenhum cargo público. Menos parlamentares candidatos ampliaria o espaço para novos políticos.

Mesmo com o desgaste na imagem do establishment político, cresceu o total de candidaturas a um novo mandato. Em relação a 2014, o total de deputados que tenta a reeleição passou de 387 para 407, aumento de 5,2%.

A alta foi ainda maior entre os senadores que pretendem continuar no cargo. Em 2010, quando dois terços das vagas foram renovadas, 29 disputaram contra atuais 32, uma elevação de 10,3%. Os dados das disputas passadas foram compilados pelo Diap (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar).

Com o aumento das candidaturas à reeleição e a mudança no modelo de financiamento, que não permite doações empresariais e concentrou os recursos públicos em candidatos que já têm mandato, a aposta é de que haverá pouca mudança na atual configuração do Poder Legislativo.

“Criaram barreiras para a renovação, como o fundo eleitoral, que ficou concentrado na mão dos caciques dos partidos”, avalia o sociólogo e analista político Antonio Testa, da Universidade de Brasília. Segundo ele, o sistema tem sido moldado para garantir a perpetuação no poder daqueles que já ocupam cadeiras.

“A oligarquia política brasileira se mantém. E, enquanto está no Congresso, trabalha para fazer leis que vão beneficiá-la.”

Na lista de candidatos à reeleição, há nomes que foram citados na Lava Jato, os quais perderão foro privilegiado caso não sejam reconduzidos, como os senadores Eunício Oliveira (MDB-CE) e Renan Calheiros (MDB-AL). Ambos negam irregularidade.

Efeito colateral possível da baixa oxigenação, cuja manifestação seria a reprise de candidatos, é o desinteresse do eleitor. Série histórica da pesquisa Datafolha aponta um recorde neste ano na taxa de eleitores que pretendem votar em branco ou anular o voto. O último levantamento, realizado em junho, mostra que o índice chega a 28% nos cenários sem Lula.

No total, 41 parlamentares, entre deputados e senadores, não concorrerão a nenhum cargo neste ano. A senadora Marta Suplicy (MDB-SP), por exemplo, depois de 23 anos de vida pública, avaliou que contribuirá mais com o país atuando na sociedade civil.

Aos 74 anos, o senador Raimundo Lira (PSD-PB) decidiu deixar a política. “Resolvi atender ao apelo da minha família, que não queria que eu continuasse na politica”, disse.

Em busca de sobrevivência na política, 21 membros do Congresso foram “rebaixados” na disputa. Nos registros de candidatura, deputados e senadores decidiram concorrer a cargos que exigem um número menor de votos.

Desgastado depois que foi divulgada gravação em que pede R$ 2 milhões ao empresário Joesley Batista, da JBS, o que culminou em aceitação de denúncia no STF (Supremo Tribunal Federal), o senador e ex-presidenciável Aécio Neves (PSDB-MG) vai tentar ser eleito deputado federal.

O parlamentar e o partido afirmam que a decisão foi tomada para abrir espaço a aliados e fortalecer a chapa do tucano Antonio Anastasia na disputa pelo governo mineiro.

Argumento semelhante é usado por José Agripino (DEM-RN), que vai deixar o Senado após mais de 30 anos. O parlamentar também é réu no STF. “Foi a circunstância da campanha local”, diz. “Minha preocupação é com meu estado”.

O deputado federal Delegado Francischini (PSL), um dos coordenadores da campanha presidencial de Jair Bolsonaro, almejava vaga no Senado. Na última hora, porém, registrou-se para concorrer à Assembleia do Paraná. “O acordão branco, ou sujo, da vez foi para que eu não tivesse nenhuma vaga viável para ser candidato ao Senado. Talvez para não ajudar Bolsonaro, para não mudar o país”, reclamou.

Da FSP.