Novas investigações contra Alckmin são golpe de misericórdia
Aliados do candidato tucano à Presidência, Geraldo Alckmin, contabilizaram como mais um elemento de desgaste as suspeitas de caixa dois e corrupção nas campanhas do senador José Serra (PSDB) de 2006 e 2010, quando disputou o governo de São Paulo e a Presidência, respectivamente.
Documentos bancários enviados pelas autoridades suíças à PGR (Procuradoria Geral da República) mostram que Veronica Allende Serra, filha do senador, é uma das administradoras de uma conta naquele país que recebeu 400 mil euros (R$ 1,78 milhão), segundo revelado por reportagem da Rede Globo.
O dinheiro foi depositado por uma empresa offshore que tem entre seus procuradores um lobista da Alstom, José Amaro Pinto Ramos. A multinacional francesa está envolvida em uma série de processos relacionados ao Metrô de São Paulo.
Na quarta-feira (14), a documentação foi juntada pela PGR no inquérito sobre doações da Odebrecht a Serra que está com o ministro Gilmar Mendes no STF (Supremo Tribunal Federal).
O primeiro depósito, segundo a documentação, ocorreu em dezembro de 2006, logo depois de Serra ter vencido as eleições para o governo de São Paulo.
Uma conta aberta no Arner Bank, em Lugano, recebeu 250 mil euros. Em fevereiro, mais 150 mil foram depositados nesta mesma conta.
A conta administrada pela filha de Serra foi aberta em nome de uma empresa no Panamá, a Dormunt International Inc.
Suíça e Panamá são usados para esconder recursos ilícitos porque tinham, à época, uma legislação que dificultava saber quem são os verdadeiros donos do dinheiro.
Delatores da Odebrecht contaram em acordo que Pinto Ramos emprestou sua conta para receber recursos para Serra relacionados à linha 2 do Metrô, ao Rodoanel e a uma dívida da construção da rodovia Carvalho Pinto.
No caso da dívida da Carvalho Pinto, a suspeita investigada é de corrupção, já que a doação ilegal foi condicionada ao pagamento de uma dívida que o governo de São Paulo tinha com uma empresa da Odebrecht, no valor de R$ 191,6 milhões.
De acordo com o delator Carlos Armando Paschoal, ex-executivo da Odebrecht, a empresa acertou uma doação de R$ 28,7 milhões para Serra em troca do pagamento da dívida em 23 parcelas.
A suspeita de corrupção no caso da Carvalho Pinto é o que mais preocupa a defesa do senador.
Serra disse em nota que sua filha não tem envolvimento com negócios ilícitos e que espera que as dúvidas sejam esclarecidas rapidamente.
O advogado de Veronica, Antônio Sérgio de Moraes Pitombo, disse que só vai se manifestar após conhecer a documentação vinda da Suíça.
Procurada pela Folha, a defesa de Amaro Ramos, feita por Eduardo Carnelós, não quis comentar o caso.
As suspeitas em torno de Serra, porém, não são o único motivo de preocupação dos tucanos. A maré negativa começou na quinta-feira (15) com o depoimento de Alckmin na quarta-feira (15) ao Ministério Público paulista no inquérito que apura se ele cometeu improbidade administrativa na modalidade enriquecimento ilícito. Delatores da Odebrecht dizem ter doado R$ 10,3 milhões a Alckmin via caixa dois nas campanhas de 2010 e de 2014.
Embora integrantes da campanha do tucano digam que o desgaste provocado pelos episódios envolvendo nomes do PSDB, como Serra, o senador Aécio Neves (MG), e próprio presidenciável, já estejam contabilizados no percentual de rejeição dele, eles querem que o ex-governador de São Paulo tente sair da vala comum dos envolvidos em suspeitas de corrupção.
O desgaste de Alckmin teve seguimento nesta quinta-feira (16), quando a Folha publicou entrevista em que o presidente Michel Temer tentou relacionar o tucano a seu governo impopular.
“Se você dissesse: “quem o governo apoia?”. Parece que é o Geraldo Alckmin, né? Os partidos que deram sustentação ao governo, inclusive o PSDB, estão com ele”, disse Temer na entrevista. O presidente do DEM, ACM Neto, integrante da coordenação política da campanha de Alckmin, atacou a fala de Temer:
“O governo não teve nenhuma participação na formação da aliança. O MDB não sentou em nenhuma mesa de negociação. Eles têm o candidato deles, que se chama Henrique Meirelles”.
Com informações da Folha de S. Paulo.