Bolsonaro criou a Era dos Valentões na política
Candidatos aos governos estaduais reforçaram no segundo turno das eleições 2018 o discurso alinhado com ideias defendidas pelo candidato do PSL à Presidência, Jair Bolsonaro. Na maior parte dos casos, mesmo sem ter o apoio declarado do presidenciável que lidera as pesquisas de intenção de voto, os postulantes nos Estados assumiram nas suas campanhas a tática “linha dura” do capitão reformado.
Um desses casos é São Paulo, onde o ex-prefeito João Doria (PSDB) intensificou a associação a Bolsonaro. Além do discurso antipetista, Doria moldou os temas de sua campanha, reiterando discussões relacionadas à área da segurança pública. O tucano passou a defender de forma mais contundente a redução da maioridade penal de 18 para 16 anos e a “permissão” para que policiais atirem para matar em situações de confronto.
A mesma tática de se colar ao presidenciável também foi usada por candidatos em ao menos outros seis Estados – Minas Gerais, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Amazonas e Roraima.
Em Minas e no Rio, respectivamente o segundo e o terceiro maior colégio eleitoral do País, atrás apenas de São Paulo, os campeões de votos no primeiro turno se apresentaram como “candidato do Bolsonaro” e obtiveram resultados surpreendentes na votação do dia 7 de outubro.
Até então desconhecido, o ex-juiz federal Wilson Witzel (PSC) aproveitou o debate realizado pela TV Globo, a cinco dias do primeiro turno, para deixar claro seu apoio ao capitão reformado. Ele, que nas primeiras pesquisas nem pontuava, obteve 3,1 milhões de votos, mais do que o dobro do alcançado por Eduardo Paes (DEM) (1,494 milhão). Diariamente, o ex-juiz federal menciona o capitão reformado em suas agendas de campanha. Nesta quarta-feira, 17, defendeu o armamento da população e a criação de clubes de tiro no Estado para que os cidadãos possam treinar o uso de armas e se proteger de criminosos.
Em Minas, Romeu Zema (Novo) tem procurado afinar suas propostas com as de Bolsonaro desde o fim do primeiro turno. Em um encontro com evangélicos, Zema declarou ser favorável à “família tradicional” e contrário ao ensino de “ideologias” nas escolas. Apesar da associação, Zema, que lidera as pesquisas de intenção de voto em Minas, negou que iria mudar propostas de seu plano de governo. “Pretendemos usar mais inteligência na polícia. A nossa polícia mais apaga incêndio do que previne, a inteligência pode contribuir muito”, disse.
Em Santa Catarina, mesmo com um candidato próprio do PSL no segundo turno – o Comandante Moisés –, seu adversário, Gelson Merísio (PSD), tenta pegar carona na candidatura presidencial do partido adversário e anunciou apoio a Bolsonaro no fim do primeiro turno. Merísio reforçou temas ligados à segurança, como colocar mais policiais nas ruas e criar novas bases de segurança. Os candidatos chegaram ao segundo turno com uma diferença de 50.463 votos.
‘Sartonaro’. No Rio Grande do Sul, José Ivo Sartori (MDB) tem distribuído materiais gráficos com sua imagem ao lado do capitão reformado, pregando o voto “Sartonaro”. Nesta quinta-feira, 18, ele recebeu o apoio formal dos diretórios estaduais do PSL e do DEM, que tem como presidente o coordenador da campanha de Bolsonaro, Onyx Lorenzoni. Já Eduardo Leite (PSDB) declarou seu apoio em entrevista logo após a contabilização dos votos do primeiro turno. Na ocasião, Leite falou em “construir com a candidatura de Jair Bolsonaro” por não querer a volta do PT. Seu apoio, diferentemente do de Sartori, é feito com ressalvas. “Não querer a volta do PT não significa meu apoio incondicional ao que não traduz a minha visão de mundo na política e na vida”, afirmou.
Duplo. O apoio duplo também acontece no Amazonas. O atual governador do Estado, Amazonino Mendes (PDT), ignorou Ciro Gomes já no primeiro turno e chegou a distribuir material impresso com Bolsonaro. Já Wilson Lima (PSC) esperou a orientação do seu partido para seguir o deputado federal do PSL.
Em Roraima, o empresário Antônio Denarium (PSL) investe na “onda bolsonariana” e usa a segurança pública e o combate à corrupção e como base de suas propostas, que inclui restringir o acesso de venezuelanos ao País exigindo a apresentação do passaporte na fronteira seca. Após o primeiro turno, o ex-governador José de Anchieta (PSDB) também reforçou o apoio ao candidato do PSL, que teve em Roraima 62% dos votos válidos no primeiro turno.
Do Estadão