Consultoria de risco político diz que lua de mel de Bolsonaro será “curta”
Ian Bremmer, presidente de uma das maiores agências de consultoria de risco do mundo, a Eurasia Group, aposta ser improvável que Bolsonaro tenha altos índices de aprovação nos primeiros meses de um futuro governo.
“Bolsonaro enfrentará um ambiente duro com a opinião pública, considerando uma atmosfera econômica ainda difícil e uma população profundamente desencantada. Isso significa que seu período de lua de mel será relativamente curto”, disse o analista norte-americano em entrevista ao UOL.
De acordo com ele, a liderança de um candidato de direita radical nas eleições no Brasil não é vista como um caso específico no mundo e seria parte de um grande momento para opções antiestablishment em democracias pelo mundo todo.
“Se esta mudança causa preocupação agora, espere até que haja uma recessão econômica global”, diz o presidente da Eurasia. “Isso significa que a mudança no sentimento do eleitorado é menos uma mudança para a direita do que uma mudança contra partidos e líderes já estabelecidos.
O que acontece é que o candidato mais bem posicionado e que é visto como alguém contra as elites dos partidos está atualmente à direita do espectro político”, afirma. Bremmer diz ainda que uma eventual vitória de Bolsonaro poderia ser comparada com a do presidente dos EUA, Donald Trump, em 2016.
Mas só “em termos da indiferença às instituições democráticas e à forte linha do ‘nós contra eles’, que definem ambos”. Isso os levou ao poder, além do desencanto profundo dos eleitores contra a elite política.
A comparação entre Trump e Bolsonaro também funciona se levarmos em conta que a falta de experiência levará a administrações não ortodoxas e a muitos erros. A diferença, no entanto, é que Trump teve um dos maiores partidos políticos por trás dele –com uma maioria no Congresso. Já Bolsonaro não terá isso
O analista também vê semelhanças entre o discurso de campanha de Bolsonaro com o do presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte. “É possível ver como os esforços extrajudiciais de Bolsonaro contra os criminosos poderiam sangrar na política, por assim dizer, assim como Duterte faz em seu país.”
Em comparação com outro líder mundial polêmico, Bremmer diz que Bolsonaro não conseguiria criar um autoritarismo brando no Brasil, como o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan. “As instituições brasileiras são mais fortes. Além disso, o apoio do partido de Erdogan tem muito mais peso do que o de Bolsonaro”, explicou o presidente da Eurasia.