Doria se mostra como “Bolsonaro de SP” e diz que polícia vai atirar pra matar
A vocês, bandidos, facínoras e dirigentes de facções criminosas que possam estar nos assistindo, não façam enfrentamento com a Polícia Militar ou Civil, porque a partir de janeiro ou se
rendem ou vão para o chão”, disse o candidato ao governo paulista João Doria (PSDB) à Rádio Bandeirantes.
O âncora ainda perguntou: “Que que é isso, vão para o chão, hein, candidato?”. “É para o chão mesmo, exatamente isso que você entendeu”, respondeu Doria, para logo depois anunciar que a polícia atiraria para matar nos confrontos em sua eventual gestão.
Com Geraldo Alckmin (PSDB) estagnado empatado em terceiro lugar na corrida presidencial, na reta final antes do primeiro turno, Doria subiu o tom e se “bolsonarizou”.
O objetivo é tentar surfar na onda de Jair Bolsonaro (PSL), que lidera a disputa para o Palácio do Planalto e é o preferido no estado.
Em vídeo obtido pela Folha, um simpatizante de Bolsonaro em Franca (SP) pede uma dobradinha com Doria. Ao ouvir a mensagem, o tucano abraça o simpatizante, que se apresenta como Max, e engrossa o coro. “É Doria”, diz o candidato.
“Vamos apoiar o Doria aqui no Estado de São Paulo. Beleza, galera do Bolsonaro? Vamos unir, somar e eleger esse cara”, afirma o homem. E Doria completa: “Acelera”.
A campanha do PSDB ao governo disse que as imagens foram gravadas há alguns dias e que Doria procurou ser educado com o simpatizante, mas que apoia Alckmin.
Procurado pela reportagem, Doria pediu que sua assessoria encaminhasse novo vídeo. Em 30 segundos de gravação, o ex-prefeito rechaça apoio ao PT em eventual segundo turno da eleição presidencial. Mas não menciona Alckmin, o padrinho que bancou sua entrada na política eleitoral, em 2016.
“Acabei de ler uma notícia nas redes sociais de que apoiaria Fernando Haddad (PT) no segundo turno. Não há a menor hipótese. Chega de PT”, disse.
O vídeo também foi postado nas redes sociais do tucano e rapidamente apareceu em grupos de WhatsApp de bolsonaristas.
Alguns aventam a ideia de que ele pode vir a ser o Bolsonaro estadual, mas outros mantêm reservas quanto ao PSDB, visto como um partido quase de esquerda por eleitores do capitão.
Em uma entrevista nesta semana, Doria afirmou que “não há mais o voto vinculado, de cima a baixo, necessariamente o mesmo partido”, outro aceno ao chamado voto “bolsodoria”.
“A estratégia está sendo um giro à direita para trazer o máximo possível de votos bolsonaristas que têm predominado e crescido. Especialmente, no interior”, diz a cientista política Maria do Socorro Braga, da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos).
O discurso na área da segurança está tons acima do de seu padrinho político, Geraldo Alckmin (PSDB) –que, apesar da alta letalidade da polícia paulista, sempre adotou tom mais moderado.
A polícia paulista segue o método Giraldi, que prevê o uso progressivo da força, tendo a morte do criminoso como consequência do último recurso, que é disparar o gatilho.
Questionado em relação à frase de Doria e à forma correta de os policiais agirem em situação de confronto, o criador do método, coronel da PM Nilson Giraldi, enviou por email o seguinte trecho: “Finalidade do Método Giraldi: ensinar o policial a usar sua arma de fogo, de forma correta, e dentro dos limites da lei, com a finalidade de servir e proteger a sociedade e a ele próprio e assim poder regressar, íntegro, ao seio da sua família, após uma jornada de trabalho, e não para o necrotério, para uma cadeira de rodas, ou para a prisão”.
Para o ouvidor das polícias na gestão Alckmin, Julio Cesar Neves, Doria faz apologia ao crime. “Vai estimular aquele que atira para matar, que atira e depois pergunta, o mau policial”, diz ele, hoje membro da comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo.
Da FSP.