Manifesto do Instituto Herzog mostra a ameaça que Bolsonaro representa
O Instituto Vladimir Herzog divulgou neste sábado (6) um manifesto contrário à candidatura de Jair Bolsonaro (PSL) à Presidência. No texto, a entidade também pede a “todos aqueles que dão valor ao Estado de Direito” que evitem votar no candidato.
Intitulado “Porque ele não”, o manifesto do instituto cita o risco de discursos de “ódio, autoritarismo e preconceito, antes tímidos e reservados à vida privada, tomarem as ruas e as redes para cultuar e se reificar em Jair Bolsonaro”.
A entidade é ligada à família do jornalista e ex-diretor de jornalismo da TV Cultura Vladimir Herzog, torturado e assassinado por agentes da ditadura militar em 1975. Bolsonaro já se referiu ao caso cogitando a possibilidade de que Herzog teria se suicidado –tese apresentada à época pelos militares, mas que acabou derrubada em processo judicial movido pela família do jornalista contra o Estado brasileiro.
“A candidatura de Jair Bolsonaro coloca a jovem e frágil democracia brasileira sob um iminente risco. E, na medida em que se configura numa garantia de respeito aos direitos, de expressão da pluralidade de ideias, de retificação dos caminhos equivocados e de isonomia na punição dos erros, a democracia deve ser valorizada e defendida por todos os cidadãos”, diz trecho do manifesto.
O instituto salienta ainda ser Bolsonaro uma figura “indiscutivelmente controversa e despreparada” para assumir um país imerso “na mais dramática crise política, econômica e social de sua história” e ressalva que, embora ele se apresente ao eleitor como novidade no sistema eleitoral, “na verdade, é mais um político profissional, de carreira, que trabalha para eleger seus filhos, usufruir de privilégios e disseminar ódio, autoritarismo e preconceito”.
O texto recorda ainda ser o presidenciável e capitão reformado do Exército um entusiasta da ditadura. “Para ele, o erro do regime militar foi apenas torturar – e não matar mais cidadãos. Contumaz defensor da tortura, tem como ídolo Carlos Alberto Brilhante Ustra, torturador confesso e o único brasileiro condenado por essa prática que é, em todo o mundo, considerada um crime contra a humanidade”.
Em julho passado, durante sabatina no programa “Roda Viva”, da TV Cultura, Bolsonaro citou livro do coronel Brilhante Ustra como o preferido. Ustra foi apontado nos trabalhos da Comissão Nacional da Verdade, que coletou depoimentos de presos políticos, como um dos principais torturadores do regime.
“Não há regimes alternativos à democracia que sejam aceitos majoritariamente na discussão política contemporânea e formas autoritárias de governo não se sustentam e tendem a ficar isoladas”, diz o manifesto, que completa: “Não podemos aceitar um projeto autoritário de governo, que se vangloria de proferir discursos machistas, misóginos, racistas, xenofóbicos e discriminatórios, e que nega a existência de um passado autoritário e excludente em nosso país.”
Indagado no “Roda Viva” de julho se acreditava que Herzog sofrera tortura, Bolsonaro desconversou e mencionou um caso em que um homem teria aparecido em condições semelhantes à do jornalista após ser preso, em Goiânia, por tráfico de crianças. “Por que para um lado é execução e para o outro não?”, questionou. Perguntado sobre a reabertura das investigações pelo MPF, afirmou: “Geralmente esses órgãos têm viés de esquerda”.
Na ocasião, em entrevista ao UOL, o engenheiro Ivo Herzog, 51, presidente do conselho do Instituto Vladimir Herzog e filho mais velho do jornalista, classificou as declarações do presidenciável como “factoide político” de alguém que não passa de “uma aberração do sistema eleitoral”.
“É chocante como, quase na reta final de um processo eleitoral, haja esse nível de despreparo de um sujeito que quer ser presidente do país”, definiu o presidente do instituto, na ocasião. “Bolsonaro é uma aberração desse modelo político e vem se destacando por ser essa figura ‘bisonha’ e horrível, que, por outro lado, tenho certeza de que é uma fumaça que vai sumir e desaparecer.”
À época, em nota, a assessoria de campanha de Bolsonaro lamentou as colocações de Ivo Herzog. “Uma pena a linha que estão querendo seguir. O eleitor não merecia uma campanha desse nível. Nós não vamos dar ênfase a estas questões.”
Da UOL