Marina Silva paga o preço de ter apoiado Aécio em 2014
Na manhã de terça-feira passada (25), a candidata Marina Silva (Rede) foi indagada no Twitter sobre os ataques que vinha sofrendo do pastor Silas Malafaia por apoiar plebiscitos para o aborto e a maconha.
“Costumo dizer que eu prefiro sofrer uma injustiça do que praticar uma injustiça. Graças a Deus, eu entrei nesta campanha para oferecer a outra face”, respondeu.
Mas, apesar de pregar o perdão, Marina Silva, 60, não consegue esquecer o massacre que sofreu em 2014, quando a campanha do PT desconstruiu sua candidatura presidencial.
Aliados dizem que Marina sofre de uma espécie de “estresse pós traumático” —ela não superou o ressentimento em relação ao PT, apontado como culpado até pelo encolhimento drástico da sua candidatura nesta eleição.
As intenções de voto da presidenciável derreteram em menos de três meses. Em agosto, ela estava em segundo lugar, com 16%. Nesta quinta-feira (4), tinha 4%.
Em 2014, concorrendo contra Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB), Marina recebeu 22 milhões de votos, 21% do total. Quatro anos antes, obteve 19%.
Por que esses milhões de votos em Marina sumiram?
Para aliados, alguns dos rótulos que o PT colou em Marina em 2014 —de que ela era fraca, não aguentava a barra de ser presidente porque havia chorado e se queixado de ataques— continuam custando votos a ela.
“O eleitorado tem recall da dificuldade que a Marina passou. Ela foi destruída de forma violenta e ficou uma imagem da fragilidade”, diz o economista Eduardo Giannetti, que assessora a candidata.
Frágil é algo que Marina definitivamente não é. Ela nasceu no seringal Bagaço, no Acre. Eram 11 irmãos, mas três morreram ainda pequenos, de sarampo e malária. Passou a infância cortando seringa. Quando tinha 15 anos, perdeu a mãe.
Marina sobreviveu a três hepatites, cinco malárias, uma leishmaniose e contaminação por mercúrio. Até hoje, sofre os efeitos —tem alergia a queijo, ovo e shoyu, e não pode passar spray no cabelo. Também não pode usar batom, então passa beterraba nos lábios. Uma vez, sua glote fechou porque ela tomou uma sopa com queijo ralado.
Seu primeiro emprego foi como empregada doméstica. Aprendeu a ler aos 16 anos.
Pensou em ser freira e desistiu. Em 1997, teve um problema neurológico grave por causa da contaminação por mercúrio, e trocou o catolicismo pela Assembleia de Deus. Credita a cura à sua fé.
Marina assumiu o Ministério do Meio Ambiente em 2003, no governo Lula. Em cinco anos, conquistou vitórias, mas perdeu muitos embates. Desgostosa, saiu do PT e se filiou ao PV em 2009. Logo depois, concorreu à Presidência.
Na eleição de 2014, assumiu a candidatura do PSB após a morte de Eduardo Campos.
“Neste ano, Marina começou sua campanha lá em cima, com seu prestígio e sua biografia, que são imbatíveis”, diz Marco Antonio Teixeira, professor de ciência política da FGV. “Mas a Rede não virou um partido estruturado, com ramificação nacional. Sem aliados de peso, mais uma vez Marina não se sustentou.”
Afirmando rejeitar se unir a outro partido por conveniência, a Rede se aliou apenas ao PV e ficou com 21 segundos de tempo de TV. O líder Jair Bolsonaro (PSL) tinha ainda menos tempo (9 segundos).
Foi uma campanha de vacas magras, por causa da relutância dos doadores e da divisão dos fundos partidário e eleitoral. No final, tiveram de dispensar colaboradores e integrantes eram obrigados a dividir quarto.
Para completar, Marina, que é da Assembleia de Deus, perdeu boa parte de seu eleitorado evangélico para Bolsonaro, e parte de seus eleitores de esquerda se desencantaram por ela ter apoiado Aécio e o impeachment de Dilma.
Marina acha que foi tratada de forma injusta pela imprensa. “Eu fiquei oito meses em segundo lugar, e as análises nem me consideravam. Mas, depois que caiu, aí todo mundo passou a analisar.”
Mas aliados próximos admitem que, nesta eleição, não havia espaço para uma candidata moderada como Marina.
“Eles dividiram o país e agora só os extremos se colocam na disputa; não existe proposta, é só PT e anti-PT. É o antagonismo permanente estimulado pelo PT”, diz Pedro Ivo Batista, da coordenação da campanha.
Os apoiadores ainda não jogaram a toalha —pelo menos, não em público. “Não costumamos botar muita fé nas pesquisas de intenções de voto, nem quando estávamos no segundo lugar por quase um ano”, afirma Lourenço Bustani, coordenador da campanha.
Otimista, diz acreditar que a ex-senadora irá para o segundo turno. Empresário neófito na política, Bustani se afastou de sua empresa (uma consultoria de inovação para marcas) e se alistou como voluntário para trabalhar na candidatura.
Marina costuma dizer que é “um milagre da vida, dos médicos e principalmente de Deus”.
Ela vai precisar de mais um milagre para sair inteira desta eleição.
“Das duas eleições anteriores, Marina saiu como uma opção sólida de terceira via. Nesta eleição, ela sai como nanica e deve repensar sua carreira política”, diz Leandro Consentino, cientista político do Insper.
Da FSP.