Rede de lanchonetes americana prega contra voto em branco no Brasil
A uma semana do primeiro turno, o Burger King lançou uma campanha publicitária contra o voto em branco para presidente.
No vídeo, produzido pela agência David, pessoas explicam por que pretendem votar em branco nas eleições —a empresa afirma que são depoimentos reais, gravados em São Paulo na semana passada.
Essas pessoas recebem, então, um hambúrguer feito apenas de pão, cebola e maionese. O sanduíche vem embrulhado em um papel com o slogan da ação, que diz “quando alguém escolhe no seu lugar não dá para reclamar do resultado”.
Pesquisa Datafolha mais recente, divulgada na sexta-feira passada (28), mostrou que 10% dos eleitores planejam votar em branco ou anular o voto para presidente, o dobro do percentual registrado no mesmo período da disputa eleitoral de 2014.
Grande parte dos que disseram ter feito essa opção se mostrou convicta da decisão: 68% falam que estão totalmente decididos sobre a escolha e 32% dizem que ainda podem mudar o voto.
Segundo o diretor de marketing e vendas do Burger King Brasil, Ariel Grunkraut, quando a campanha começou a ser planejada, há cerca de um mês, o índice de brancos e nulos era ainda maior —22%, também conforme o Datafolha, numericamente empatado com as intenções de voto em Jair Bolsonaro (PSL), líder nas pesquisas.
Votos nulos e brancos não são considerados válidos no sistema eleitoral do país. Um cenário com alto índice de votos inválidos favorece candidatos que estão na liderança, porque diminui o universo dos votos necessários para passar para o segundo turno ou para ser eleito em primeiro turno.
“Quem não está participando ativamente, está endossando o voto de outras pessoas”, afirma Grunkraut sobre a motivação da campanha.
Ele afirma ainda que a marca Burger King tem um papel importante de responsabilidade social e que precisa entrar na conversa da sociedade sem tomar partido político.
Diversas marcas têm se posicionado sobre temas considerados polêmicos, como a luta contra homofobia. Em outra ação, o Burger King mudou nomes de seus produtos na semana da Parada do Orgulho LGBT. Durante grandes eventos também é tradicional que as empresas produzam ações publicitárias engajadas, como a torcida pela seleção brasileira durante a Copa do Mundo.
É mais raro, porém, que empresas se posicionem sobre temas políticos: uma exceção recente foi a coxinha de mortadela do Ragazzo durante os protestos de 2016.
“Nós tínhamos a intenção de fazer uma ação em cima das eleições e de todas as ideias que surgiram, essa se destacou porque é apartidária”, diz Rafael Donato, vice-presidente de criação da David.
Ainda assim, internautas questionaram a ação na internet por alegada associação com diversos candidatos, diz Grunkraut.
O comercial estreou no domingo (30), no intervalo do penúltimo debate entre candidatos à presidência promovido pela Record.
Na primeira frase do vídeo, uma eleitora diz “Não, gente. Debate é uma vergonha”.
Ao ser questionado se essa frase não carregava um posicionamento político, Donato negou.
“As pessoas estão querendo encontrar alguma coisa de algum candidato. Colocamos a frase de propósito e quase vetaram a gente na emissora por causa da frase”, afirma o vice-presidente da David.
Da FSP.