Bolsonaro tem plano para boicotar imprensa e falar só em suas redes sociais
Eleito presidente da República com campanha realizada principalmente em redes sociais, Jair Bolsonaro (PSL) quer manter a estratégia e torná-las o principal instrumento de comunicação de seu governo a partir de 1.º de janeiro, quando assume o Palácio do Planalto. Na última quarta-feira, 7, a pedido de Bolsonaro, o vice-presidente eleito, general da reserva Hamilton Mourão (PRTB), esteve na agência de publicidade Isobar, uma das duas que cuidam das mídias sociais do governo Michel Temer (MDB).
“O foco é reforçar a comunicação digital, que é a mídia do Bolsonaro, que é a mídia do Trump (presidente dos Estados Unidos, Donald Trump)”, disse o general Mourão ao Estado. Para ele, “aquele processo antigo de comunicação, via filmetes, propagandas tradicionais, será abandonado”. “A mídia digital é o método fundamental para conseguirmos nos comunicar, muito mais do que essas outras propagandas que gastam rios de dinheiro”, completou.
A missão de Mourão foi visitar a empresa para levar a Bolsonaro informações sobre o funcionamento das agências que cuidam da comunicação digital da atual administração e como o futuro governo pode aproveitá-las. Há um contrato em vigor, de R$ 45 milhões ao ano, que termina em março, mas pode ser prorrogado por mais um ano.
“Eu defendo intenso uso das mídias sociais como forma mais eficaz de se comunicar com a sociedade. A comunicação do mundo moderno hoje é em rede. Aquela comunicação tradicional, com aquelas propagandas, filmetes e não sei mais o que, colocados na TV, esse sistema está perdendo seu valor como meio de comunicação”, afirmou o vice-presidente eleito.
Mourão não quis antecipar sobre a possibilidade de prorrogação do contrato, alegando que essa é “uma questão de gestão”. “A minha visão é que o trabalho (da empresa) é muito bom. Mas tudo precisa ser levado para o presidente Bolsonaro, para ele decidir”, afirmou. Além da Isobar, visitada por Mourão, a agência de publicidade TV1, também faz o trabalho de mídias digitais do governo Temer. A licitação que aprovou as duas empresas foi realizada ainda no governo da petista Dilma Rousseff, em fevereiro de 2015, podendo ser prorrogada por até cinco anos.
Integrantes do PSL, partido de Bolsonaro, defendem que o governo amplie a presença na internet e dê preferência a esse tipo de comunicação. Para eles, essa é a forma mais eficiente e barata de se chegar à população. O general Mourão acredita que o desenho da comunicação no governo Bolsonaro será diferente do utilizado atualmente, mas não antecipou formato ou quem ficará à frente do setor no Planalto. Está decidido, no entanto, que a área não terá status de ministério, como aconteceu em administrações passadas.
Atualmente, a Secretaria de Comunicação (Secom) tem cerca de 20 pessoas que trabalham diretamente com a área digital do governo Temer, além das ações e campanhas desenvolvidas pelas empresas contratadas. A Secom hoje é vinculada à Secretaria-Geral da Presidência.
Mesmo depois de ter conquistado a Presidência, usando basicamente mídias sociais, em projeto que tinha à frente o seu filho, Carlos Bolsonaro, o capitão da reserva se mantém ativo na internet, com realização de lives e publicação de tweets para se comunicar e até para anunciar ministros, como fez com o astronauta Marcos Pontes, que teve seu nome oficialmente confirmado pelo Twitter como futuro ministro da Ciência e Tecnologia.
Outro ponto que deverá ser alvo de polêmica no próximo governo é a Empresa Brasil de Comunicação (EBC). Criada em 2007, no governo do petista Luiz Inácio Lula da Silva, a EBC herdou os canais de rádio e TV geridos pela estatal Radiobrás e pela Associação de Comunicação Educativa Roquette-Pinto (Acerp). Além de rádios, agência online de notícias e a NBR – TV que transmite as atividades do presidente da República e do governo federal –, a empresa abriga a TV Brasil.
Bolsonaro já anunciou, em entrevistas, que pretende acabar com a EBC, que tem cerca de 2.300 funcionários. A empresa já foi alvo de polêmica logo após Temer assumir a Presidência, em 2016, quando aliados do emedebista pediram o fim da estatal. A proposta acabou não sendo levada adiante, mas Temer trocou a direção da empresa – houve mudança na programação e redução do orçamento.
Preocupados, os empregados da EBC estão buscando interlocutores na transição do governo, apresentando as suas justificativas e a importância de manter pelo menos setores funcionando, como a NBR, as tradicionais rádios Nacional e Nacional da Amazônia e a agência de notícias.
Do Estadão