Filho de Bolsonaro teme que reforma da Previdência não saia
Em almoço com investidores e empresários estrangeiros, o deputado Eduardo Bolsonaro(PSL), filho do presidente eleito, Jair Bolsonaro, disse que o governo “talvez não consiga” votos para aprovar a reforma da Previdência no Congresso. No encontro organizado pelo Brazil-US Business Council, o parlamentar fez um discurso para passar uma perspectiva otimista sobre o País no próximo governo, mas admitiu a dificuldade no que classificou como uma das prioridades do governo.
“Precisamos usar a votação maciça do Jair Bolsonaro e os canais de redes sociais, onde temos conexão direta com as pessoas, para dizer a verdade (sobre a importância da reforma da Previdência). Tentaremos fazer o melhor. Se não tivermos uma vitória, desculpem, mas fiz minha parte. Não mentirei a vocês. Nunca virei aqui para sorrir para vocês e dizer ‘nós faremos facilmente uma reforma da Previdência’. Não. Será difícil, será uma briga, talvez não consigamos fazer, mas faremos o nosso melhor”, disse Eduardo, ao ser questionado sobre passos iniciais do novo governo e do novo Congresso.
A fala foi recebida com apreensão por presentes no encontro. Ele também afirmou que a reforma aprovada “não será perfeita” e diz apoiar a transição para um sistema de capitalização, como defende o futuro ministro da Economia, Paulo Guedes. “A melhor reforma da Previdência não é a que os técnicos dizem ser a melhor. É aquela possível de ser aprovada no Congresso”, afirmou. “Adoraríamos mudar isso para um sistema de capitalização. Como? Paulo Guedes os dirá”, afirmou.
O encontro – parte da agenda do deputado em Washington – aconteceu a portas fechadas. O Estado teve acesso a um áudio com trecho do encontro e também a informações com três fontes presentes na reunião.
No encontro, Eduardo Bolsonaro foi questionado sobre o possível encaminhamento do projeto de lei que impõe proibição de capital estrangeiro na assistência à saúde e sobre as restrições à aquisição de terras por estrangeiros. Na resposta, não abordou diretamente nenhum dos dois pontos. Um dos presentes tentou explicar novamente a pergunta, mas não foi suficiente para que a plateia ouvisse as respostas esperadas.
Para a resposta sobre aquisição de terras por estrangeiros, falou sobre a China. “É o maior parceiro do Brasil não por causas naturais, mas porque nossos ex-presidentes quiseram fazer isso. Se trabalharmos para deixar o mercado livre e com políticas liberais, os Estados Unidos estarão de volta como principal parceiro comercial do Brasil”, afirmou o deputado. “Meu pai presta muita atenção nos movimentos sobre a China ao redor do mundo, normalmente fala ‘a China não está comprando do Brasil, a China está comprando o Brasil’. E nós não queremos ser a próxima Angola”, completou, dizendo que quem explicaria melhor as questões seria Paulo Guedes, quem, segundo ele, em breve fará uma visita aos EUA.
O filho do presidente eleito fez questão de ressaltar que Guedes “tem cartão branco do presidente para fazer tudo na economia”. Ouvido em condição de reserva, um dos integrantes do encontro avaliou que a força dada a Guedes pelo deputado é positiva, mas disse que “é perigoso ter todo o foco na economia nas mãos de uma só pessoa”.
Eduardo Bolsonaro disse ainda que o governo vai trabalhar em acordos bilaterais e que oMercosul não pode ser “uma pedra” no caminho de negociações comerciais.
Todos os eventos de Eduardo Bolsonaro na capital americana não foram abertos à imprensa. A agenda do deputado também não foi divulgada. Os anúncios das reuniões eram feitos pelo Twitter do deputado e do assessor para Assuntos Internacionais do PSL, Filipe Martins, após o fim de cada uma das reuniões. A agenda intensa em Washington, que teve encontros no governo americano, Congresso e reuniões com empresários foi uma tentativa de “abrir o canal e resgatar a credibilidade do Brasil”, disse Eduardo Bolsonaro.
No encontro com empresários e investidores, o deputado eleito disse que não é parte do governo de transição, mas é “o cara que está com o presidente durante os churrascos”. Ele definiu o pai como alguém “muito informal” e “workaholic”. Ao falar da segunda cirurgia de Bolsonaro, para retirada da bolsa de colostomia, prevista para janeiro, disse que o pai terá de passar por uma recuperação de aproximadamente duas semanas depois do procedimento. Sem precisar de intérprete, o deputado falou em inglês, mas por vezes recorreu a Filipe Martins para ajudar com o vocabulário.
Do Estadão