Perdigão leva ao ar propaganda de Natal com tom racista
A Perdigão divulgou uma ação especial para o Natal. A propaganda exibe o famoso Chester, mas erra feio ao tentar abraçar a diversidade.
Como outras empresas, a marca resolveu adotar um caminho mais inclusivo. Não deu certo. Durante o comercial de pouco mais de 30 segundos, o espectador é bombardeado com um método de assistencialismo que nada tem a ver com combate ao racismo.
O comercial inicia destacando uma família negra (os Silva). Sem a presença paterna. Estão todos sorrindo e agradecidos. A porta-voz é uma mulher negra (de pele clara),que bastante emocionada, celebra a chance de realizar uma ceia de Natal com comida boa e família reunida. Perceba que a vida dela mudou com o Chester na mesa. Tem mais.
“Quando nossa família ganhou um Chester Perdigão, o presente não foi só uma ceia bonita, foi também o sentimento de ter um Natal especial. Daqueles que a gente só imaginava. Agora, essa sensação é real. Graças a você”, diz uma mulher negra emocionada.
A ação de marketing não foi bem recebida, sobretudo por pessoas negras e quem luta pela equidade. Motivos óbvios. Trata-se de uma visão racista e superficial sobre vulnerabilidade social. A consultora de marketing Vivian Duarte diz que peça representa o pensamento comum que não pretende transformar as estruturas sociais.
“Vou usar esta peça (link nos comentários) hoje para minha palestra aqui em Londrina para falar sobre vieses inconscientes, diversidade que convém e dicas de como reforçar a estrutura patriarcal e racista com sutileza e requinte de bondade. A propaganda é arma bélica nas mãos de pessoas que insistem em retratar e escancarar preconceitos, machismo e racismo, envelopando tudo isso com jingles fofos”, escreveu no Facebook.
A falta de consciência e vivência racial dos envolvidos na propaganda da Perdigão é gritante. O erro inicial é partir do estereótipo de que todas as famílias negras são miseráveis. A coisa piora quando a figura do homem branco é colocada como provedora. Eles resolverão o problema dando comida. Algo aristocrático de dois séculos atrás? Não, publicidade no Brasil de 2018.
Está montado o picadeiro da falta de consciência racial. A distância entre assistencialismo e combate ao racismo fica explícita em 30 segundos de sorrisos e emoções, como os propostos pela Perdigão.
“Esta indignação exposta é mais uma oportunidade da marca e agências saírem de suas bolhas e virem entender mais da vida real das pessoas que lutam por equidade e estão exaustas de ser mal representadas. As marcas que já entenderam isso estão sem crise e nadando de braçada”, finaliza Vivian.
A sociedade só se transforma a partir de ações efetivas de equidade. É necessário que as agências de publicidade contratem profissionais negros para pensar propagandas negras. Incluam no quadro LGBTs para criar conteúdo sobre diversidade sexual e por aí vai. O que não dá é insistir no monopólio de homens brancos e heteros ditando os rumos das coisas. A representatividade não mora na superfície.
Assista a propaganda:
Do Hypeness