Viaduto da Marginal Pinheiros, em São Paulo, cede e bloqueia pista expressa

Todos os posts, Últimas notícias

Um viaduto da pista expressa da marginal Pinheiros cedeu cerca de 2 metros na madrugada desta quinta-feira (15), em São Paulo.

A via está interditada, na altura do acesso da marginal Pinheiros à ponte do Jaguaré, no sentido Castello Branco. A interdição ocorreu nas primeiras horas do feriadão da República, que para algumas pessoas se alonga até a próxima terça-feira (20), feriado pelo dia da Consciência Negra.

Na manhã desta quinta, o trânsito já se alongava à avenida Professor Frederico Hermann Júnior, entre as pontes Eusébio Matoso e Cidade Universitária.

O secretário municipal dos transportes, João Octaviano, esteve no local e disse que uma parede que apoiava o pilar do viaduto se rompeu, ocasionando a queda da estrutura. Ainda não é possível dizer por quanto tempo a via expressa da marginal ficará interditada. Segundo a prefeitura, não há risco de colapso da estrutura, uma vez que o viaduto ao ceder, se estabilizou.

Os próximos passos são escorar o viaduto, analisar outros possíveis danos estruturais e voltar a erguê-lo.

Os bombeiros e a polícia militar foram acionados e constataram que não houve vítimas. Segundo a prefeitura, o incidente ocorreu por volta das 4 horas da madrugada e não há registro de vítimas.

O viaduto passa sobre os trilhos da linha 9-esmeralda da CPTM, próximo ao parque Villa Lobos. O incidente não teria trazido danos à linha.

Equipes da Defesa Civil, da subprefeitura de Pinheiros, da secretaria de obras e da CPTM, estão no local avaliando a estrutura. A CET faz desvios e monitoramento do trânsito na região.

Veja abaixo perguntas e respostas sobre a conservação e inspeção de pontes e viadutos no Brasil.

Qual é a estrutura da malha viária brasileira? 
Segundo dados da CNT (Confederação Nacional dos Transportes), existem no país 1.735.621 km de malha rodoviária, sendo 3% disso (54.972 km) de pontes ou viadutos. Não há um levantamento oficial que consolide as informações de malhas viárias de todos os municípios.

Que tipo de problema é comum nessas estruturas?
A Pesquisa CNT de Rodovias 2017 apontou que 64% das pontes e viadutos em rodovias não têm ou acostamento ou defensa (guard-rail) completos, situação que agrava os riscos aos usuários. Em 10% dos casos, não há as duas coisas (nem acostamento nem defensa). Os dados contabilizam apenas estradas e dizem respeito a esses recursos de segurança na superfície da ponte, sem levar em conta outros problemas estruturais.

Há alguma norma que estabeleça regras para inspeção, como periodicidade?
Sim, a norma técnica 99452/2016 especifica diretrizes a se cumprir para estruturas de concreto como pontes, viadutos e passarelas. Segundo Ciro Araújo, engenheiro do IPT, existem as inspeções rotineiras, feitas pelos órgãos públicos responsáveis, que avaliam a conservação e incluem uma nota de classificação. Estas, diz, ocorrem “no máximo” uma vez por ano.

Ele afirma que “se a nota estiver boa pode até prolongar o prazo para a realização da inspeção especial”, que ocorre a cada cinco anos e é mais detalhada. Há ainda inspeções extraordinárias, como a que ocorreu em 2016 no viaduto Santo Amaro, que pegou fogo após acidente.

Que diagnóstico é feito pelo governo federal? 
O Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), vinculado ao Ministério dos Transportes, hoje sob gestão Michel Temer (MDB), tem um programa para cuidar das cerca de 8.000 pontes e viadutos sob sua jurisdição. O próprio órgão detectou que 1.712 das estruturas (21%) necessitam de ajustes. Destas, 920 foram consideradas prioritárias.

O que será feito a partir daí?
A meta é ter em 2018 um plano de trabalho para a manutenção de 372 (desde limpeza e pintura até a recuperação de elementos estruturais) e para a reabilitação de 27 (adequação a novas necessidades, como aumento da capacidade de carga ou ampliação de dimensões).

E a situação específica na cidade de São Paulo? 
Na capital paulista, a Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana e Obras, hoje sob gestão Bruno Covas (PSDB), diz realizar vistorias periódicas em 185 pontes e viadutos. Um estudo da pasta em 2017 levantou a necessidade de manutenção para 33 (18%), mas as licitações para as obras foram suspensas após cobranças de ajustes nos processos ​​feitas pelo TCM (Tribunal de Contas do Município).

Quem cuida de pontes e viadutos no país?
A atribuição de fiscalizar e manter a integridade dessas estruturas é da administração responsável pela malha viária específica. É da Prefeitura de São Paulo, portanto, a responsabilidade por inspecionar e reparar pontes dentro da cidade. O governo de cada unidade federativa deve zelar pelas obras em rodovias estaduais, enquanto a União cuida das que pertencem a estradas federais.

Segundo o engenheiro Wilson Lang, do Confea, há negligência. “A informação [sobre a necessidade de reparos] de Brasília estava lá desde 2010, esperando decisão”, diz. ​

E em caso de rodovias sob concessão?
A fiscalização é de responsabilidade pública, e a manutenção, da concessionária. No caso da rodovia dos Imigrantes, por exemplo, que liga São Paulo à Baixada Santista, quem deve verificar os riscos de seus viadutos e pontes é a equipe do DER-SP (Departamento de Estradas de Rodagem). A partir dessa aferição, a concessionária é quem fica responsável por fazer eventuais obras.​

O engenheiro Lang cita o caso italiano como exemplo de descaso em gestões sob concessão. ​”Tinha a concessionária, que é quem tinha que fazer [a manutenção]. Mas quem fiscaliza não estava olhando. O Estado tem que pensar que quem arca com a responsabilidade social do desastre é ele.” ​​

Como deve ser feita a inspeção?
O engenheiro Lang afirma que o diagnóstico cumpre protocolos, como se fosse uma sequência de um diagnóstico médico. “Primeiro é feita a fiscalização periódica do estado aparente”, mais superficial, portanto. Com base no relatório dessa visita, pode haver a demanda de uma ação específica. “Um especialista em ‘patologia das estruturas’ faz a perícia e indica o que o órgão executivo deve fazer. Mas ele não é capaz de prever em quanto tempo pode haver um problema sério, só determina se há urgência.” Então, cabe ao Executivo fazer a obra, a interdição ou reforço necessário.

Que desgaste essas estruturas podem sofrer?
Diferentemente de edifícios, pela natureza da construção, ​pontes e viadutos se movimentam. O movimento pode ser vertical ou horizontal. O vertical ocorre pela entrada de uma quantidade expressiva de peso na estrutura, como um caminhão carregando 40 toneladas. O horizontal se dá pelo tráfego desse peso pela estrutura, gerando um movimento de “vai e vem”. Esse é um dos motivos pelo qual uma ponte ou viaduto com certa extensão seja feita de módulos, não inteiriça. Caso a estrutura fosse uma peça única, o movimento rapidamente criaria fissuras e a colocaria sob risco.

Quais são os fatores e sinais de desgaste?
Fissuras são um sinal claro de problemas. Infiltrações são outro. “A água é inimiga mortal das estruturas, porque é aí que começa a corrosão”, diz Lang. O desnível entre dois trechos da ponte é um deles. “As juntas de dilatação funcionam também como um alerta. Se há um desnível, normalmente aquela parte pode precisar de um içamento”, diz.

Pontes em regiões litorâneas necessitam de cuidados diferentes?​
Sim, uma vez que a salinidade do ar é outro fator de desgaste. “Há uma deterioração muito grande na ponte Pedro Ivo Campos [em Florianópolis, uma das estruturas que liga a ilha ao continente] por estar em região marítima. Não só pelo movimento da maré, mas especialmente pela salinidade do ar, que causa corrosão ao aço”, afirma Lang.

Da FSP