Assessora de Bolsonaro na Câmara trabalhava como personal trainer

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Até a última semana, os 15 mil seguidores do Instagram da personal trainer Nathalia Queiroz, 29, não deviam imaginar que a professora acumulava um cargo no gabinete do deputado federal e presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL-RJ).

Nathalia aparece em relatório do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) que identificou movimentações financeiras atípicas do policial militar Fabrício Queiroz, seu pai e ex-assessor do senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ). O caso foi revelado pelo jornal O Estado de S. Paulo.

Ela foi nomeada secretária parlamentar de Jair Bolsonaro em dezembro de 2016 e exonerada em outubro de 2018, mesmo mês em que seu pai deixou o gabinete de Flávio, na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro).

Nathalia também trabalhou como assessora do filho do presidente eleito. Em 2007, aos 18 anos, começou a atuar na vice-liderança do PP, de Flávio, onde ficou até fevereiro de 2011. De agosto do mesmo ano até dezembro de 2016, esteve lotada em seu gabinete.

Residente no Rio de Janeiro, as redes sociais de Nathalia giravam em torno de sua atuação como professora de educação física —nas academias cariocas e na praia. Havia registros, inclusive, de aulas com famosos, como os atores Bruno Gagliasso, Bruna Marquezine e Giovanna Lancellotti.

Em foto com Marquezine, vestindo uniforme com os dizeres “personal trainer”, escreveu: “Treino intenso e ainda termina com esse sorrisão!”.

Em sua biografia no Instagram, Nathalia identificava-se como ariana, carioca, determinada, educadora física e certificada em eletroestimulação (procedimento em que os músculos são contraídos e relaxados por meio de um aparelho).

“Parabéns a todos nós, professores de educação física. Orgulho de ser PROFESSORA!”, escreveu em uma publicação.

As datas das fotos coincidem com o período em que esteve lotada em ambos os gabinetes. Em setembro, Nathalia recebeu uma remuneração bruta de cerca de R$ 10 mil, como secretária parlamentar de Jair Bolsonaro.

Os secretários podem trabalhar em Brasília ou no estado de representação do deputado, contanto que cumpram a carga horária de 40 h semanais. A frequência é atestada pelo próprio parlamentar.

A Folha ligou no último sábado (8) para a ex-assessora para questioná-la sobre o relatório do Coaf, suas atribuições como secretária parlamentar de Bolsonaro e como fazia para conciliá-las com o seu trabalho como educadora física.

A voz feminina do outro lado da linha, no entanto, negou se chamar Nathalia e pediu para que o contato não fosse retomado. A reportagem obteve o número com um ex-aluno da personal trainer e o confirmou em uma academia na qual ela trabalhou como professora.

Antes da ligação, a foto no WhatsApp veiculado a este número era de Nathalia. Logo depois, foi apagada —assim como seu Instagram e Facebook.

No domingo (9), a Folha questionou o presidente eleito sobre a função exercida pela personal trainer em seu gabinete. “Ah, pelo amor de Deus, pergunta para o chefe de gabinete. Eu tenho 15 funcionários comigo”, respondeu.

A reportagem ligou diversas vezes para Jorge Oliveira, que chefiava o gabinete no período em que Nathalia era funcionária de Jair Bolsonaro, mas não obteve resposta.

O relatório identificou que Fabrício Queiroz movimentou R$ 1,2 milhão entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017. Segundo o Coaf, as transações são “incompatíveis com o patrimônio, a atividade econômica ou ocupação profissional” do ex-assessor.

Entre as movimentações registradas, está um cheque de R$ 24 mil para Michelle Bolsonaro, futura primeira-dama. O nome de Nathalia, filha do ex-servidor, aparece no documento ao lado do valor de R$ 84 mil, mas não há detalhes sobre estes repasses.

Em 2016, Queiroz fez 176 saques em espécie. O policial chegou a realizar cinco saques no mesmo dia, somando mais de R$ 18 mil. No total, as retiradas chegaram a mais de R$ 300 mil.

Além disso, os saques ocorriam após depósitos de valor similar. Oito funcionários ou ex-funcionários do gabinete de Flávio Bolsonaro realizaram repasses para Queiroz.

O PT pediu abertura de inquérito contra Flávio e Michelle Bolsonaro. O partido também pretende incluir na representação o nome de familiares do ex-assessor, como Nathalia.

No último sábado (8), Jair Bolsonaro afirmou que o volume de saques é um indício a ser analisado pela Justiça. Também reforçou explicação anterior de que o cheque de R$ 24 mil destinado à sua mulher refere-se ao pagamento de uma dívida. Segundo ele, a conta de Michelle foi utilizada porque anda “atarefado” para ir ao banco.

Nesta quarta (12), afirmou em transmissão ao vivo que, se algo estiver errado, a conta deve ser paga. Negou, no entanto, que ele ou o filho sejam investigados.

A Folha foi até a casa de Queiroz, em uma vila na Taquara, zona oeste do Rio, mas ninguém respondeu às batidas na porta. No muro, havia um adesivo rasgado do presidente eleito ao lado de seu filho, o vereador Carlos Bolsonaro.

Da FSP