Bolsonaro é repudiado em carta de personalidades palmeirenses
Um grupo de palmeirenses ilustres assinou uma carta de repúdio destinada ao presidente do Palmeiras, Maurício Galiotte, por conta da presença de Jair Bolsonaro na festa do deca no último domingo (2), no Allianz Parque.
O documento foi assinado por nomes como Luiz Gonzaga Belluzzo, economista e ex-presidente palmeirense, Diana Bouth, atriz e apresentadora, Luiz Villaça, cineasta, e Miguel Nicolelis, neurocientista.
“No domingo, dois políticos sequestraram nosso momento mais especial. O momento mais importante da sua gestão, Presidente, foi transformado em um palanque político (com direito a lema e número de candidato), gerando uma imensa onda de insatisfação em parte substancial de nossa torcida. A presença de políticos, estranhos à nossa história e a todos os esforços comuns de torcedores e jogadores em busca do título, provocou nos palmeirenses que assinam esta carta e em muitos outros torcedores o mais profundo incômodo”, afirma o documento.
A carta ainda questiona a ação da Polícia Militar nos arredores do Allianz Parque, lembrando que diversas famílias foram proibidas de comemorar o título por conta da ação truculenta que contou com tiros de bala de borracha e bombas de gás lacrimogênio.
O documento agora está disponível para a assinatura de todos os que se sentiram incomodado com a situação por meio de uma petição online.
Confira a íntegra da carta:
Por um Palmeiras para todos – Carta aberta ao Presidente Maurício Galiotte
Prezado Presidente,
No último dia 2 de dezembro, o Palmeiras orgulhosamente celebrava nosso décimo título brasileiro. Era um dia apenas de celebrações, mas dois lamentáveis eventos levam os palmeirenses que assinam esta carta a expressar nossa profunda indignação e demandar respostas e ações da Sociedade Esportiva Palmeiras.
O primeiro e gravíssimo evento se deu nos arredores do estádio. Como já fartamente denunciado em outras ocasiões, a Polícia Militar novamente agiu com truculência contra crianças, idosos, mulheres e homens que se reuniam pacificamente para celebrar nossa importante conquista. São dezenas de relatos de violência gratuita, desnecessária e desproporcional. Novamente, o torcedor palmeirense foi submetido a ataques com bombas de gás lacrimogêneo, balas de borracha e golpes de cassetetes. Inocentes precisaram ser hospitalizados. Comércios tiveram que baixar suas portas. Gente feliz e pacífica, que aproveitava um raro domingo de tranquilidade e sorriso no rosto, não pôde vivenciar em paz a essência da festa de nosso deca.
Enquanto torcedores de todas as cores e visões políticas sofriam a truculência policial do lado de fora do estádio, o protagonismo de nossa festa foi inexplicavelmente transformado em um palanque político, em um ato que não encontra precedentes na história. Nem Médici, nem Figueiredo, nem Lula, políticos que manifestavam apoio declarado a um (e só um) time, tiveram a liberdade de invadir o momento sagrado de comunhão entre seus clubes e torcidas.
No domingo, dois políticos sequestraram nosso momento mais especial. O momento mais importante da sua gestão, Presidente, foi transformado em um palanque político (com direito a lema e número de candidato), gerando uma imensa onda de insatisfação em parte substancial de nossa torcida. A presença de políticos, estranhos à nossa história e a todos os esforços comuns de torcedores e jogadores em busca do título, provocou nos palmeirenses que assinam esta carta e em muitos outros torcedores o mais profundo incômodo.
O incômodo tem fonte não apenas no histórico de declarações xenofóbicas que desonram nossas tradições, mas também nas diversas e documentadas manifestações racistas, misóginas e homofóbicas, entre outras. O incômodo existe não apenas pelo curvar de nossa instituição ao poder e aos interesses políticos de ocasião, sabe-se lá em troca de quê. O incômodo também deriva do imenso desrespeito a todos aqueles que possuem opiniões distintas daquelas ali prestigiadas, justamente num momento de grave polarização. O incômodo se dá pela total ausência de contribuição daqueles personagens a nossa história, nessa e em todas as outras temporadas.
Consideramos um erro gravíssimo, que danifica nossa história, a presença de políticos de qualquer matiz ideológica em nossa celebração. Consideramos um erro ainda mais grave, a presença de um político sem qualquer ligação histórica com o Palmeiras, e que prega a truculência policial contra o torcedor. Consideramos um ultraje a nossa bonita história a conivência e subserviência ao poder de turno.
Ao longo de todo o espectro das entidades e grupos que assinam este manifesto de repúdio, nas suas vertentes mais radicais ou mais moderadas, este profundo incômodo nos une, em pedidos claros e objetivos dirigidos ao Palmeiras e ao seu atual mandatário.
Exigimos explicações sobre o ocorrido e uma declaração clara e cristalina de que a Sociedade Esportiva Palmeiras não endossa as posições políticas ali representadas, ou quaisquer outras, conforme sua postura apartidária declarada anteriormente. Demandamos o comprometimento da instituição de que atos lamentáveis como este jamais irão se repetir. Explicações e este comprometimento, reforçamos, é o mínimo que se espera como um gesto de respeito ao torcedor que não quer ver o seu time misturado a interesses que lhe são estranhos.
Demandamos que a Sociedade Esportiva Palmeiras repudie aberta e expressamente a truculência usada pelas autoridades e forças policiais contra o torcedor nas ruas que cercam nossa centenária instituição. Armas de verdade foram utilizadas, sem motivo e razão, contra pessoas em paz e festa no último domingo!
Exigimos medidas para reparar os danos causados à imagem da instituição. O Palmeiras deve sempre se posicionar como um clube livre de qualquer preconceito, em respeito aos seus torcedores de todas as crenças e origens. Para que não exista dúvidas, nosso clube, formado e fundado por imigrantes, precisa afirmar de maneira inequívoca sua opção pelo respeito, pela tolerância e pela democracia.
Ser grande, Presidente, é muito mais que ser apenas vencedor. Esperamos de sua administração, e do Palmeiras, gestos condizentes com a grandeza de nossa instituição.
É o que demandamos. Por um Palmeiras para todos. Pelo direito de celebrar nossa paixão em paz. Por um clube que não se curve aos interesses políticos de ocasião.
Luiz Gonzaga Belluzzo, ex-presidente e conselheiro do Palmeiras
Fabiano Carrieri, conselheiro do Palmeiras
Felipe Giocondo, conselheiro do Palmeiras
José Guilherme Menani Junior, conselheiro do Palmeiras
Marcos Gama, conselheiro do Palmeiras
Sylvio Mukai, conselheiro do Palmeiras
Adriano Diogo, ex-deputado estadual por São Paulo
André Capuano, ator
Cris Scabello, Bixiga 70
Cristiano Maronna, presidente do IBCCRIM
Cristiano Tomiossi, ator
Dani Pimenta, Feminine Hi-Fi
Diana Bouth, atriz e apresentadora
Eduardo Roberto, editor da VICE Brasil
Eloi Pietá, ex-prefeito de Guarulhos
Flávio de Campos, docente da Universidade de São Paulo
Fernando Cesarotti, jornalista
Gabriel Amorim, jornalista e repórter do portal Nosso Palestra
Gabriel Santoro, editor
Geraldo Dantas Poderoso, irmão do Cléo Guerreiro
Gustavo Petta, deputado estadual por São Paulo
Joana Monteleone, editora
José Roberto Manesco, advogado e conselheiro seccional eleito da OAB-SP
Karen Evangelisti, arquiteta
Lia Elazari Biserra, cantora e compositora
Lucas Afonso, MC
Luiz Villaça, cineasta
Manuel Boucinhas, ator
Marcelo Airoldi, ator
Marcelo Mendez, jornalista e co-autor do livro Palmeiras, 100 anos de academia
Marcio Boaro, ator e diretor teatral
Marcus Vinicius Damon, arquiteto e professor
Miguel Herzog, jornalista e escritor
Miguel Nicolelis, neurocientista
Rafael Evangelista, redator
Ricardo Lombardi, jornalista
Roseli Tardelli, jornalista e apresentadora
Simão Pedro, ex-deputado estadual
Tainá Fellipe Shimoda, Turma Chico Leone
Thiago Rocha, jornalista
Valério Arcary, professor universitário
Bancada Alviverde
DiretasJáSEP
Espiríto de Porco
Palmeiras Antifascista
Palmeiras Livre
Peppas na Língua
Porcominas
Porcomunas
USParmera
Do UOL