Damares mistura declarações plausíveis e insanas
Damares Alves, futura ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, tinha me deixado uma impressão razoável numa de suas primeiras entrevistas. “Casamento gay é um direito civil adquirido”, disse sobre o assunto que tem tirado o sono dos homossexuais.
Mostrou empatia ao se manifestar sobre a violência que sofrem transexuais e prostitutas. Colocou-se a favor dos indígenas e afirmou que “nenhum homem vai ganhar mais que uma mulher”. Outra prioridade será a proteção de crianças e adolescentes. Vítima de abuso sexual aos seis anos, Damares tem uma luta pessoal no combate à pedofilia.
Mas, como na parábola em que a natureza do escorpião não impede que ele mate o sapo, a pastora não demorou a mostrar que, apesar de parecer bem-intencionada, muitas das suas ideias são arraigadas em uma essência religiosa. Ela entremeia declarações lúcidas com outras que beiram a insanidade. A grande dúvida desde já é o quanto o estado laico será afrontado por propostas conservadoras atreladas aos seus preconceitos.
Bobagem perguntar o que ela pensa sobre o aborto. É contra, claro. Mas é bom lembrar que ter uma mulher num cargo emblemático não garante a defesa de causas feministas. Tivemos uma presidente, de esquerda, que jamais levantou a bandeira de ampliação dos direitos reprodutivos. O grande problema é que esse governo incite e apoie um Congresso também conservador a tornar o aborto ilegal até em casos de estupro.
O Estatuto do Nascituro, defendido por Damares, se for aprovado, prevê uma bolsa para a mulher que foi estuprada e decidiu não interromper a gravidez. Ela diz que não altera o que está previsto no Código Penal. Duvido. Não vai demorar para que alguém defenda que o apoio financeiro do Estado é suficiente para que abortos sejam proibidos mesmo nesses casos.
Não tem jeito. É a natureza do escorpião.
Da FSP