Deputada cria bate-boca em grupo do PSL e expõe racha do partido
Um bate-boca num grupo de WhatsApp batizado de “Bancada PSL 2019”, travado na madrugada desta quinta-feira, expõe intrigas, disputas de poder e a desconexão nas relações de atuais congressistas do partido do presidente eleito, Jair Bolsonaro, com futuros parlamentares da sigla. No epicentro da confusão, está a deputada eleita Joice Hasselmann (PSL-SP), que ganhou a antipatia de alguns correligionários por tentar impor-se como liderança do partido nas articulações com o governo.
Na discussão, Joice acusa o partido de ter articulação política “abaixo da linha da miséria” e se coloca na posição de quem está fazendo o trabalho para melhorar o diálogo com os políticos no Parlamento. A fala provocou reação de outros integrantes, como o deputado federal e senador eleito, Major Olímpio (SP). As conversas começam em tom mais ameno, com Joice sendo questionada por declarações à imprensa em que afirma poder ocupar o posto de líder do governo na Câmara. Aos poucos, o diálogo descambou para trocas de indiretas e até diretas.
Em um trecho, major Olímpio diz: “O presidente se reuniu comigo e com o delegado Waldir por sermos veteranos, para ajustarmos a interlocução na Câmara e no Senado (…) Nenhum de nós quatro pedimos articulador para nos representar, ao contrário, se assim acontecer, será desconsideração conosco. Tanto Waldir quanto eu recebemos as orientações do presidente que deixou bem claro que não tem nada definido para liderança de nada e que o partido lutasse pelos espaços”.
Joice então retrucou, citando até “disputas de espaço pouco republicanas” que estariam em curso no PSL. “Não vou jogar fora a interlocução que tenho, que construí muito antes de ser candidata, por vaidades, ou disputas de espaço pouco republicanas. Comigo é de forma clara, como tenho feito com vocês. Qualquer dúvida podem me procurar no privado. Nossa articulação oficial na Câmara e no Senado, repito, está abaixo da linha da miséria”, escreveu a futura deputada.
Em outro trecho, ela disse ter recebido reclamações de senadores sobre a falta de interlocução com o governo e com o PSL. A fala provocou uma saia justa com um dos filhos do presidente eleito, o senador eleito Flavio Bolsonaro, que assumiu nos últimos dias as conversas com integrantes do Senado: “Interessante que hoje, no Senado, ouvi a seguinte frase de cinco senadores: ‘não temos interlocução nenhuma com o governo e com o PSL no Senado’ e me pediram ajuda”.
Major Olímpio, então, rebateu: “Os senadores que você diz que articula estão mal informados. Temos quatro senadores atuantes. Quanto ao Waldir, ele perguntou ao presidente se havia restrição em ele se colocar à liderança do partido ou do governo na Câmara e o presidente disse que não fazia restrições a ninguém”.
Joice não se deu por vencida: “Quanto ao Waldir, não é essa informação que tenho. Também sugiro falar com a instância correta: o presidente Bivar”. Olímpio rebateu: “Quanto ao Waldir, eu estava junto na conversa com o presidente. Boa noite”.
Apesar do “boa noite”, a discussão continuou subindo de temperatura, quando Joice alfinetou Olímpio: “Interessante saber que o senhor está articulando à revelia da bancada e do presidente do partido. Sugiro conversar com a bancada e com presidente da sigla. Boa noite”.
Olímpio voltou a responder, dessa em letras maiúsculas. “De jeito nenhum. O presidente que chamou a mim e ao Waldir em agenda oficial. Nada escondido, em perfeita sintonia com o presidente Bivar, que hoje me designou para representá-lo e ao PSL no Congresso Nacional de Câmaras Municipais. Não estou me metendo nas articulações da Câmara e sim apoiando o LÍDER EDUARDO E VICE LÍDER WALDIR PORQUE ME ELEGI SENADOR E É LÁ QUE TENHO QUE ARTICULAR. Eu respeito hierarquia e respeito meus colegas parlamentares. Eu PERCO TEMPO COM QUEM NÃO É LÍDER. Boa noite”, escreveu Olímpio, referindo-se a declarações de Joice de que não perde tempo com pessoas pouco importantes.
Em plena madrugada, a deputada eleita seguiu o embate, dizendo a Olímpio que ele só foi eleito senador por causa da popularidade de Bolsonaro e também usou letras maiúsculas: “Uma pequena correção, major. Bolsonaro o elegeu senador, com todo respeito. Ademais, o senhor deveria ‘perder’ um pouco do seu tempo com a bancada, além do líder, pq o senhor TEM OBRIGAÇÃO. Isso não é um quartel, major, é um partido. Se o senhor não aprender a conciliar, prejudicará a todos, o PSL nacional e o governo Bolsonaro”.
Olímpio não ignorou a provocação de Joice: “Sei que não é quartel. No quartel, todos têm papel definido, têm responsabilidades, respeitam os companheiros. Pergunte aos deputados antigos e novos se dou atenção e respeito? Eu perco todo o tempo com todos os parlamentares que pedem ajuda ou conselho, mas respeito cada um deles. A humildade e o respeito cabem em todos os lugares. Nunca menosprezei ninguém me insinuando para qualquer função desconsiderando os demais. Aliás, o mais bobinho aqui é deputado federal e senador e sabem distinguir quem é quem. Boa noite”.
Joice voltou-se contra aliados de Olímpio, ao dizer que ele só tem uma “patota” e que “é tarde” para fazer a articulação: “Acho que a bancada não tem sido muito ouvida pelo senhor, major. Agora é meio tarde para pedir. Uma pequena patota não é a bancada. Ainda dá tempo de consertar. Boa noite”.
Olímpio respondeu novamente: “Não serei eu que terá que rever seus conceitos e consertar. Não estou pedindo nada. Não tenho patota. O tempo mostrará muito rápido quem é quem”.
Procurado, o deputado major Olímpio afirmou que o diálogo não deveria ter sido difundido, mas que não representa problemas para o partido. A reportagem não obteve contato com a deputada eleita Joice Hasselmann.
Do O Globo