Futuro ministro é advogado medíocre que se destacou apenas por ser lutador
Homem forte da campanha que elegeu Jair Bolsonaro presidente da República, o advogado Gustavo Bebianno, 54, quer se firmar agora como um gestor ao assumir a chefia da Secretaria-Geral em 1º de janeiro.
Embora tenha sido um dos aliados mais próximos a Bolsonaro no período eleitoral, seu nome só foi confirmado como ministro em 21 de novembro, quando boa parte da equipe do futuro governo já havia sido anunciada.
Do fim de outubro até agora, seu poder foi diluído com a chegada de novos atores ao governo de transição e como efeito colateral da configuração de poder que o presidente eleito resolveu implementar no Planalto.
Faixa preta de jiu-jítsu, luta conhecida como a “arte suave”, Bebianno levou para a política uma máxima dos tatames: controlar o combate mesmo quando em aparente desvantagem.
“Eu tinha o poder de carregar o banquinho sozinho, a gente ainda não tinha o piano, só tinha o banquinho. Agora chegou o piano e não posso ter a pretensão de carregar o piano sozinho. Não vejo que tenha tido perda de poder, o poder foi amplificado”, diz.
Formado em direito pela PUC-Rio, Bebianno teve duas passagens por um dos maiores escritórios de advocacia do país, de Sergio Bermudes, de quem é amigo, mas não foi na advocacia que ganhou fama e destaque profissional.
Pessoas próximas ao futuro ministro relataram à Folha que ele nunca se destacou pelos conhecimentos em direito.
Quando questionado sobre sua trajetória profissional, Bebianno se diz injustiçado por sempre ser lembrado como um faixa preta.
Com porte físico de lutador e com as orelhas com uma marca explícita de seu histórico na luta marcial, ele tenta agora deixar de lado a prática esportiva para se firmar como um gestor competente, que ambiciona modernizar o Estado.
Ele se queixa, por exemplo, do fato de nunca ter sido lembrado em reportagens por sua formação e conta ter três MBAs e um mestrado em finanças pela Universidade de Illinois, nos EUA.
Como exemplo da carreira de gestor, cita a experiência que teve no Jornal do Brasil de 1995 a 2001. Lá, atuou como diretor administrativo, jurídico e comandou o RH. Em sua segunda passagem pelo escritório de Bermudes, de quem é amigo, também atuou como administrador.
Durante a campanha presidencial, ele se apresentava ao mesmo tempo como tesoureiro, presidente do PSL e assessor de imprensa de Bolsonaro, embora raramente atendesse a ligações dos repórteres e deixasse sem resposta diversos pedidos de entrevistas ou de esclarecimentos.
Antes de entrar para a política, Bebianno fazia um trabalho de levantamento de bens para a Arquidiocese do Rio de Janeiro em 2017 quando, por meio de um amigo, pediu para ser apresentado a Bolsonaro, com quem já havia tentado vários contatos desde 2014.
Desde então, foi conquistando pouco a pouco a confiança do futuro presidente, a quem descreve como uma pessoa desconfiada, mas afável.
Foi ele o responsável por negociar a filiação de Bolsonaro ao PSL, partido que conquistou a segunda maior bancada na Câmara. Ele também passou a advogar para Bolsonaro em ações às quais o presidente respondia no STF (Supremo Tribunal Federal).
Como principal semelhança ao presidente eleito tem o discurso antipetista e de crítica à esquerda.
Bebianno diz que toda a formação na área de humanas no Brasil é “contaminada” por uma lavagem cerebral de pensadores de esquerda, cita como exemplos os cursos de jornalismo e até os de direito, e diz que muitas universidades não ensinam apropriadamente direito constitucional por estarem muito preocupadas com valores da esquerda.
Ao mesmo tempo em que conquistou o capitão, como costuma se referir ao presidente eleito, deixou pelo caminho rusgas com pessoas próximas a ele. O caso mais emblemático é o do vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), filho mais próximo de Bolsonaro e que não costuma esconder seu descontentamento com o futuro ministro.
O episódio mais recente se deu quando o pai cogitou escolher Carlos para assumir a Secom (Secretaria de Comunicação Social), atualmente subordinada à Secretaria-Geral.
Carlos mostrou-se irritado com a escolha de Bebianno como ministro e anunciou pelo Twitter que deixaria de colaborar com a comunicação de seu pai por meio das redes sociais, como fez nos últimos anos, desde que criou um canal de comunicação do então deputado federal com seus eleitores por meio da internet.
Por fim, Bolsonaro acabou desistindo de indicar Carlos para o cargo e transferiu a Secom para a Secretaria de Governo, que ficará sob o comando do general Carlos Alberto dos Santos Cruz.
À frente da Secretaria-Geral, Bebianno atuará como um gestor das ações de governo e terá de conversar com os demais 21 ministérios, com o desafio de dialogar tanto com a ala militar quanto com o grupo político da equipe.
Ele escolheu para seu secretário-executivo o general Floriano Peixoto Vieira, que fez um pente-fino nas contas de comunicação do governo durante o período da transição.
Mesmo tendo sido o responsável por toda a negociação política que envolveu a filiação de Bolsonaro ao PSL, Bebianno passou a campanha afirmando que não gosta de política. Ele nega ter tomado gosto por ter aceitado o cargo de ministro, mas reconhece que a vida pública o transformou em uma pessoa “mais light”.
Ao contar isso à Folha citou uma frase que atribuiu ao senador Renan Calheiros (MDB-AL), dizendo que em política não se pode ter “heart feelings”.
Segundo ele, a recente passagem por Brasília o fez entender que não há espaço para mágoas na vida política e que quem o ataca hoje o recebe com um sorriso no dia seguinte, conforme a conveniência do momento.
A frase é usada por ele também para negar que ele tenha qualquer desafeto com aliados de Bolsonaro.
Bebianno diz ter se aproximado de Bolsonaro por ter visto nele a “única possibilidade de o Brasil não se tornar uma Venezuela”.
Bebianno assumirá uma versão mais enxuta do que a Secretaria-Geral do governo de Michel Temer. A pasta perderá atribuições de peso: a gestão da Secom, o PPI (Programa de Parcerias e Incentivos), além da Secretaria da Pesca.
Da FSP