Luciano Huck diz que não é momento de se montar oposição contra Bolsonaro
O cardápio de um jantar promovido pelo RenovaBR para apresentar os resultados do primeiro ano de funcionamento do grupo teve salada verde com queijo brie e peito de pato curado, medalhão recheado com fonduta (tipo de fondue) de queijos, espumante francês —e também política.
Durante o encontro, na noite desta terça-feira (4), na Casa Fasano (salão de eventos no Itaim Bibi, zona oeste), o apresentador Luciano Huck —um dos principais apoiadores e divulgadores da entidade— disse aos 17 participantes eleitos em outubro e a aos mais de 400 convidados que a transição para o governo Jair Bolsonaro (PSL) exige paciência.
“O momento do país não é de formação de oposição, mas é, sim, de diálogo. Acho que a agenda do país hoje, independentemente de ideologia, tem muita coisa que é necessária para que o país não quebre”, afirmou no microfone o comunicador, que quase foi pré-candidato à Presidência da República.
Na entrada, questionado por jornalistas sobre a composição do novo governo, Huck afirmou: “Eu acho que neste momento não é hora de fazer oposição. A gente tem que dar um crédito e ver o que vai acontecer. As agendas que forem positivas para o país, a gente tem que apoiar. E onde a gente não concordar, a gente tem que se manifestar”.
Ele elogia, por exemplo, a pauta do presidente eleito na economia: “Tem uma clara agenda econômica eficiente, tem bons nomes técnicos ali”. Diz que o país deve fazer reformas, mas não pode descuidar da área social nem prescindir da redução da desigualdade, argumento que repisa em suas aparições públicas.
Antes do segundo turno, o comunicador e empresário se opôs à articulação de uma nota anti-Bolsonaro no Agora!, movimento de renovação política do qual faz parte.
O apresentador conduziu no palco uma pequena entrevista com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e o governador eleito de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo).
Indagado sobre a política externa de Bolsonaro, que indicou para o Itamaraty o embaixador Ernesto Araújo, FHC palpitou que o Brasil não ganha ao entrar em brigas como a disputa entre Estados Unidos e China.
“O Brasil tem a vantagem de poder jogar com todos. Do ponto de vista do Brasil, é um erro tomar um partido neste momento. Temos que tomar o nosso partido, que é o partido do Brasil”, disse o tucano, sob aplausos.
“Vamos ver o que [o novo chanceler] vai fazer. Não deve se afastar daquilo que é essencial. O interesse é o nosso. Não é nem da China nem dos Estados Unidos nem da Europa. E nós temos que ter uma coisa que eles têm: estratégia”, afirmou.
Instado a aconselhar Zema, o ex-presidente foi genérico: “A essa altura da vida eu aprendi que conselho é inútil. Se você chegou lá e já foi eleito, seja como é. A única coisa importante na vida é autenticidade”.
FHC analisou que a eleição do empresário em Minas é sintoma do que chama de fim do ciclo dos partidos criados em sua geração. “Os partidos atuais estão esfacelados. A sua eleição [referindo-se a Zema], como a eleição do presidente Bolsonaro, é a demonstração de que os partidos não existem mais tal como eles eram.”
Aos novos parlamentares que o ouviam, o ex-presidente dirigiu um discurso pouco empolgante. “Os deputados e senadores vão perceber logo que têm força, mas essa força é evanescente, ela some, você não sabe onde está. Vão ter que se organizar. Não tem muito jeito. Se não organizar, aquilo não funciona.”
Falou ainda que é papel do governo dar rumo ao país e que “o Legislativo participa, mas quem faz andar a máquina é o Executivo”.
Pelas mesas se espalhavam deputados federais eleitos como o ex-ministro Marcelo Calero (PPS-RJ), a cientista política Tabata Amaral (PDT-SP), a advogada Joênia Wapichana (Rede-RR, primeira indígena eleita para a Câmara desde 1982) e o engenheiro João Campos(PSB-PE, filho do ex-governador Eduardo Campos).
Na plateia havia também novos políticos que não tiveram o apoio do Renova e estão na capital paulista para um curso promovido pela organização e pelo Insper para capacitar congressistas estreantes e ensinar o beabá da função. Todos os que exercerão o primeiro mandato foram convidados para as aulas.
Circularam ainda pelo evento a atriz Maitê Proença, que é apoiadora da iniciativa e esteve cotada para assumir o Ministério do Meio Ambiente de Bolsonaro (“Não houve convite. Foi uma ideia de um grupo que queria indicar meu nome”, disse ela à Folha), a apresentadora Angélica, mulher de Huck, e a modelo Daniella Sarahyba, casada com o empresário Wolff Klabin, um dos idealizadores do projeto.
Com 120 candidatos distribuídos em 22 legendas, o Renova contribuiu para a eleição de filiados a Novo, Rede, PDT, PSB, DEM, PPS e PSL. Eles tiveram acesso a uma extensa capacitação no primeiro semestre do ano e puderam receber bolsas de R$ 5.000 a R$ 12 mil como ajuda de custo durante o período. O programa é bancado com doações de empresários e executivos.
A lista inicial de eleitos contabilizava 16 pessoas, mas o candidato a deputado estadual no Rio Renan Ferreirinha (PSB) entrou na relação depois de uma decisão da Justiça Eleitoral que deferiu uma candidatura do partido e abriu mais uma vaga de titular para a sigla na Assembleia.
Dados apresentados pelo grupo apartidário durante o jantar indicam que o apoio da plataforma pesou na decisão de 94% dos novatos que encararam as urnas e que 61% dos participantes mudaram de opinião sobre algum tema por causa de palestras ou de debates ocorridos ao longo da formação. No total, os candidatos do grupo receberam 4,5 milhões de votos.