Na Conferência do Clima, política ambiental brasileira é alvo de protestos
A reunião de apresentação das conclusões de trabalho da delegação brasileira na Conferência do Clima (COP-24) teve de ser interrompida por um erro de produção, e manifestantes aproveitaram para subir ao palco. Marcada para durar uma hora, a apresentação não tinha sequer chegado à metade quando bateram os 60 minutos e a sala teve de ser desocupada para outra reunião. Sem saber o que fazer, o ministro do Meio Ambiente, Edson Duarte, olhava para os lados questionando como marcar uma continuação dos trabalhos quando manifestantes subiram ao palco com um cartaz onde se lia “não fez mais que sua obrigação” e um termômetro de papelão.
Usando os microfones que estavam espalhados pela plateia, membros da sociedade civil que compõem a delegação brasileira expressaram o incômodo com a escolha dos componentes da mesa: todos os nove eram homens brancos.
Em clima de desordem, todos tiveram que se retirar da sala por ordens da organização da COP-24.
Antes da interrupção, o embaixador José Antônio Marcondes, líder da equipe de negociadores brasileiros na COP-24, apresentou um resumo dos trabalhos, que ainda estão em andamento e só serão concluídos na sexta-feira.
Segundo ele, o objetivo da conferência é concluir o livro de regras, um documento com o passo a passo de como cada país irá atingir suas metas.
— Viemos aqui para entregar um livro completo para que os países possam construir as suas políticas públicas, preparar o seu terreno doméstico, para que globalmente tenhamos a base da implementação do Acordo de Paris ( documento em que mais de 190 nações se comprometem a reduzir as emissões de gases de efeito estufa ).
O texto, no entanto, ainda não está pronto. Um dos pontos já acordados é que países desenvolvidos apresentem relatórios anuais de emissão de gases poluentes e que países em desenvolvimento apresentem relatórios bienais.
Marcondes ainda fez críticas a outras delegações, sem citar nomes.
— Recebemos do presidente da República uma instrução muito clara: flexibilizar sim, retroceder jamais. Não vamos permitir que haja retrocessos no Acordo de Paris. E, na nossa leitura, isso não significa retrocessos apenas no livro de regras, mas de retrocessos normativos. Algumas delegações apontam para este retrocesso.
Nesta COP, o posicionamento de países responsáveis por grandes emissões de gases poluentes, como Estados Unidos, Arábia Saudita e Rússia, tem sido acusados de frear os avanços nas negociações.
Antes da fala de Marcondes, o coordenador geral do Fórum Brasileiro de Mudança do Clima, Alfredo Sirkis, falou a convite do ministro do Meio Ambiente. Em tom crítico, ele abriu sua fala afirmando esperar “que essa não seja a última COP de uma determinada fase na qual o Brasil manteve papel de grande protagonismo”. E, em tom alarmista, fez previsões catastróficas para um futuro em que o Acordo de Paris não seja respeitado.
— Se o acordo não for seguido à risca, podemos chegar a 4 graus de aquecimento, o que é, literalmente, o inferno na terra.
Do O Globo