Ninguém quer ser chefe de gabinete de Trump

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A esnobada que Nick Ayer deu no presidente Donald Trump, ao rejeitar sua oferta para ser chefe de gabinete, surpreendeu as pessoas que pensavam que o agente político de 36 anos e cotovelos afiados saltaria para pegar o segundo emprego mais poderoso em Washington. Diante da natureza do cargo de chefe de gabinete na Casa Branca de Trump, porém, o que pode ser realmente surpreendente é que alguém o aceite.

“Parabéns, você conseguiu a pior m… de cargo em Washington.” É o que James Baker, o famoso leão de chácara do presidente Ronald Reagan, diz aos novos chefes de gabinete que lhe pedem conselho. Na melhor das hipóteses, o cargo é tão impiedoso e esmagador que reduz a estatura de homens adultos.

“O chefe de gabinete da Casa Branca anda por aí com um alvo nas costas e um na frente”, diz Baker.

“Essas não são as únicas partes”, acrescenta Rahm Emanuel, que serviu sob o presidente Barack Obama.

“Eu costumava ter 1,90 metro”, disse Ken Duberstein, que tem 1,72 metro, e chefiou o gabinete no último ano de Reagan na Presidência.

Baker, um advogado texano suave como seda, achou o cargo tão debilitante que quando o secretário do Tesouro, Donald Regan, propôs trocar de emprego em 1985 Baker agarrou a oportunidade como se fosse um cartão de libertação da prisão.

Décadas depois, Emanuel fazia questão de mostrar aos visitantes o pátio externo cheio de folhas e a lareira aconchegante em extremidades opostas de seu escritório na Ala Oeste. “Estes são bacanas”, dizia. “Tudo entre eles é péssimo.”

Esses foram os melhores momentos dos chefes de gabinete, sob presidentes que compreendiam e valorizavam o cargo. Com Trump, o emprego é exponencialmente mais difícil —talvez impossível.

“Pegue tudo o que você já ouviu e multiplique por 50”, disse-me Reince Priebus alguns meses depois que foi demitido sem cerimônias por Trump —em um tuíte, enquanto esperava numa pista de aeroporto.

Priebus estava falando sobre o caos e a disfunção que ocorrem quando um presidente confunde governar com fazer campanha ou dirigir o 26º andar da Trump Tower. Em vez de dar poder a seu chefe para fazer as coisas, Trump o ignorava e humilhava. Antes uma estrela em ascensão como presidente do Comitê Nacional Republicano, Priebus saiu com a reputação despedaçada.

Já fui muito crítico dele, mas com franqueza qualquer pessoa que sirva a este presidente deve receber notas numa curva. Um amigo de Priebus, furioso com os golpes dados por seus antecessores, diz que eles não podem imaginar os desafios únicos colocados por Trump: “Dê um tempo. Eles não poderiam fazer isso. Depois de uma semana, ficariam enrolados num canto na posição fetal, tomando opioides”.

O cargo foi ainda mais prejudicial à reputação de John Kelly. O general de quatro estrelas aposentado, altamente respeitado, recebeu poderes que Priebus nunca teve, e por algum tempo impôs disciplina. Mas ele era arrogante, imperioso e politicamente inepto. (A tirada desequilibrada de Kelly contra a deputada Frederica Wilson mostrou que ele compartilhava a tendência de seu chefe de contar inverdades flagrantes sem pedir desculpas.)

Longe de servir como uma influência moderadora dos impulsos autoritários de Trump, Kelly muitas vezes reforçou os piores instintos partidários do presidente. Em parte por isso, a Casa Branca foi capturada por ideólogos que mostraram que não têm ideia de como governar.

Não admira que poucos candidatos qualificados pareçam querer o cargo sob Trump. A ironia —e a tragédia— é que nenhum presidente já precisou tanto de um chefe de gabinete competente. Esta Casa Branca está rumando para um mundo de problemas: democratas reforçados controlando a Câmara; o procurador-especial Robert Mueller fechando o cerco; e uma dura batalha pela reeleição à espreita —se o presidente evitar o impeachment e a remoção do cargo.

Trump precisa de um “consigliere” de guerra, preferencialmente com perícia política. Mais importante, ele precisa de um chefe de gabinete que saiba a diferença entre fazer campanha —que é demonizar e dividir— e governar, que é construir coalizões e fechar acordos no melhor interesse do país. Trump precisa encontrar seu próprio equivalente de James Baker: experiente, de pés no chão, confortável na própria pele, com confiança suficiente para entrar no Salão Oval, fechar a porta e dizer ao presidente o que ele não quer escutar.

O 45º presidente não é o primeiro a chegar ao cargo cheio de arrogância, pensando que é a pessoa mais inteligente do mundo. A maioria dos presidentes passa por isso. Depois de um ano e meio no cargo, com sua agenda emperrada, Bill Clinton nomeou um novo chefe de gabinete, Leon Panetta, para dar uma sacudida em seu governo. Apesar de seu início abalado, Clinton rumou para a reeleição em 1996.

Jimmy Carter levou dois anos e meio para perceber que tinha de nomear um chefe de gabinete (antes Hamilton Jordan tinha sido seu lugar-tenente de fato, embora relutante). Carter não encontrou a pessoa certa até o último ano no cargo, quando nomeou um advogado brilhante e ex-fuzileiro naval chamado Jack Watson.

Infelizmente, foi tarde demais para Carter, que perdeu a reeleição por uma avalanche de votos. Neste momento divisor de águas para outra Presidência criticada, o tempo também está se esgotando para Donald Trump.

Da FSP