No dia dos Direitos Humanos, mãe dá à luz no chão do hospital
Leia o texto de Willian Novaes
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Dalila nasceu famosa. Seu nascimento foi registrado por várias lentes e em diversos ângulos, com foco e desfoco. Foi destaque no Jornal Nacional. Ganhou muito mais minutos que os nenens de Sabrina Sato e Isis Valverde.
Dalila ganhou massagem. Conselhos. Um abraço maternal. Sua mãe teve um parto normal, desumanizado, mas normal. Sua mãe foi mãe de verdade. Fez tudo sozinha. E não perdeu o foco mesmo com Dalila em seu colo sem chorar. Sem reagir naquele ambiente filmado, televisionado, registrado e humilhado.
Sua mãe sentou em cima da sua placenta, em cima do seu próprio sangue, em cima da vergonha, em cima da humilhação, em cima das nossas caras. Dalila ainda respira.
Dalila chorou. Ninguém sabe se foram depois de minutos, segundos ou de uma eternidade. Os vários ângulos não deixam contar o tempo correto. O tempo lógico. O tempo do século 21. Dalila nasceu no dia de comemorar os direitos humanos. Um dia para Dalilas. Um dia de compaixão e respeito com o outro ser humano.
A sua recepção foi no chão frio de um hospital público carioca. Paula da Silva, de 29 anos, a mãe de Dalila esperou por um atendimento que não veio. Abaixou as calças e sozinha deu a luz a Dalila. Uma sobrevivente de um Brasil de verdade.